São Lino e Santa Tecla

23 do setembro

São Linho, papa, sucessor de São Pedro. Nasceu em Valterra; convertido em Roma por São Pedro. acredita-se  que é o autor de Martírio de São Pedro e São Paulo e das Disputas do Apóstolo com o Simão o Mago, embora estas foram muito adulteradas pelos hereges em séculos posteriores, a dizer de São Belarmino, Roma, 67.

Santa Tecla: No ano 48 chegaram ao Iconio São Paulo e São Barnabé, em sua segunda viagem missionária. Icônio, cidade florescente ainda, tinha no começo do cristianismo uma importante colônia judaica. Um pouco antes de entrar nela —diz uma das mais antigas lendas hagiográficas do cristianismo—, os dois apóstolos encontraram um homem, que se prostrou diante deles e os convidou a hospedar-se em sua casa. chamava-se Onesíforo. Paulo lhe seguiu, e ao chegar à porta, todos lhe receberam com esta saudação: "Bem-vindo seja, servidor do Deus verdadeiro". O apóstolo entrou, partiu o pão, dobrou os joelhos e falou a respeito da continência e a ressurreição. Este relato não tem nada de inverossímil, posto que Onesíforo pôde conhecer são Paulo em seus anos do Tarso.

Diariamente —continua a lenda— Paulo pregava na casa de um amigo com as portas abertas. E havia em frente uma casa grande e rica, e na casa uma jovem formosa, que não se cansava de escutar sua palavra. Dia e noite a via cravada à janela, sem pestanejar, sem comer, sem mover um instante. Tinha o nome de Tecla, vivia com sua mãe Teóclia e com freqüência ia visitar a um jovem, chamado Tamiris, a quem tinha sido prometida em matrimônio. Alarmada pela atitude de sua filha, que seguia junto à janela em atitude de êxtase, Teóclia chamou  Tamiris com urgência, mas nem a vinda do jovem pôde tirar a daquele estranho arroubo. Em conseqüência, Paulo foi denunciado como enganador e feiticeiro. Foi condenado e levado à prisão. Tecla então saiu de sua casa, e soltando os aros de ouro que rodeavam seus braços, os deu ao porteiro. À porta do cárcere se lembrou de que levava um espelho de prata para comprar o carcereiro. Entrou transbordante de alegria, e sentada aos pés do prisioneiro, escutava horas e horas as grandezas de Deus. O amor do Tamiris se tornaódio, a própria mãe se faz acusadora de sua filha diante do governador; Paulo é flagelado e banido; na praia se acende uma imensa fogueira para castigar a sua discípula, mas Tecla se salva milagrosamente, foge em busca do homem que lhe tinha ensinado a ciência da vida, e iluminada pela promessa das bem-aventuranças, percorre o mundo tomada de uma embriaguez divina.

O que há de verdade em tudo isto? É difícil responder, mas é um fato que a figura da virgem do Iconio ilumina e perfuma as primitivas comunidades cristãs. Relatam suas visões, seus raptos, suas viagens; fala-se de sua beleza e sua sabedoria; a apresenta como a personificação vivente da doutrina pregada por São Paulo. Não obstante, parece como se a realidade se perdesse no labirinto da fábula. Desde princípios do século II corre a novela das viagens do Paulo e Tecla, urdida com piedosos discursos, esmaltada de prodígios extravagantes, cheia de sucessos inverossímeis. Diz-se que São João, que dirigia ainda as Igrejas asiáticas, protestou; e Tertuliano assegura em seu livro De baptismo, cap. 17, que seu autor, um sacerdote, foi despojado de sua dignidade. Mais tarde, São Gerônimo, coloca entre os apócrifos as viagans de Paulo e Tecla e toda a fábula do leão batizado" (De viris illustribus, VII). Não obstante, o apócrifo percorre o mundo em todos os lugares orientais, e a imagem de Tecla segue brilhando esplendorosa no amanhecer do cristianismo. Os mártires a invocam nas chamas, sua sabedoria é celebrada em todo o Oriente, e os Padres da Igreja grega cantam suas virtudes e seus triunfos. "A ela —diz São Metódio no Banquete das dez virgens— a mais bela e florida das coroas, porque brilhou sobre todas no heroísmo da virtude", e o mesmo São Gerônimo, que catalogava sua lenda entre os apócrifos, acredita que havia nela algo de verdade, posto que, ao terminar sua carta ao Eustoquio, evoca o dia da partida, "em que María avance para a alma triunfadora e Tecla se apresse radiante para abraçá-la", e em sua Crônica, no ano 376, recorda que Melania chegou a Jerusalém, "onde suas virtudes fizeram dela uma nova Tecla". Pela vida de São Martinho sabemos que o Santo recebia freqüentemente a visita do Inês, Tecla e María, assim como dos apóstolos Pedro e Paulo.

O centro do culto da "protomártir semelhante aos apóstolos", estava no Meriamlik, perto do Selefkie ou Seleucia. A basílica da Santa, um dos mais concorridos santuários da antigüidade, era uma construção monumental, magnificamente decorada. Sob o templo se encontrava a gruta em que Tecla teria terminado sua vida antes de desaparecer detrás da rocha, que se fechou para ocultar seu corpo. O próprio deste culto é que nele falta a tumba. São Basilio, no livro dos Milagres, fala-nos das impressões dos peregrinos do século V. "A gente elogia o esplendor das festas, outro a imensa multidão dos visitantes, outro o grande número dos bispos, outro a eloqüência dos oradores, outro a beleza da salmodia, outro a concorrência dos fiéis aos ofícios da noite, outro a magnificência das cerimônias, outro a piedade dos assistentes, ou os apertos da multidão, ou o mormaço, ou o fluxo dos que entram e saem, os gritos, as disputas, a desordem e até as disputas por ocupar os primeiros postos durante a celebração dos Santos mistérios." Entre os milagres que nos conta o bispo da Seleucia há alguns que nos recordam casos parecidos dos templos pagãos, como este que antigamente se atribuiu ao Asclepios: "Uma mãe apresenta diante da Santa a sua filha, que estava a ponto de perder um olho; leva-a a parque das aves, e enquanto a menina joga com elas, um ganso lhe pica no olho doente. Houve gritos e lamentos, mas logo pôde ver-se que o ave tinha feito arrebentar um abcesso, com o qual a paciente curou rapidamente".

O poder da Santa atraía peregrinos de todas as regiões do Império. Ali se prostrou Gregório  Naziazeno; ali se apresentou muitas vezes Tarasio, correspondente de São Isidoro do Pelusio; ali chegou também, em 415, a monja espanhola Eteria, que orou junto ao martyrium, e mandou logo que a lessem as atas da Santa. Jerusalém tinha também sua igreja da Santa Tecla, situada no Bethfagé; tinham-na também Antioquia e Constantinopla, e no Chipre havia cinco localidades com o nome da Hagia-Thekla, com feiras em 24 de setembro, que era, segundo os calendários orientais mais antigos, o dia de sua festa. Em 1320, o braço da Santa, quão único tinha ficado ao desaparecer detrás da rocha, foi transladado de Armênia a Tarragona, cuja catedral está consagrada a sua memória. daqui o culto que lhe rende no Levante espanhol. Um primitivo da escola levantina, talvez Jacomart, representa a São Martinho falando com Nossa Senhora, com a Santa Tecla e Santa Inês, inspirando-se no relato do Sulpicio Severo.

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