É hora de eliminar a arte do padre Marko Rupnik de todos os santuários, templos e instituições católicas? Os editores do National Catholic Register, o jornal católico mais antigo dos EUA que pertence à EWTN, assim como ACI Digital, acham que sim. Em editorial publicado na segunda-feira (15), o jornal diz que “devem ser tomadas medidas concretas” para retirar da exibição pública as obras do ex-jesuíta esloveno acusado de abusos sexuais.

O padre Marko Rupnik é acusado, desde 2018, de abusos sexuais, espirituais e psicológicos contra ao menos 20 mulheres na Comunidade Loyola, fundada por ele e uma religiosa na Eslovênia.

Na qualidade de comissário da Santa Sé para aquela comunidade, dissolvida em dezembro de 2023, dom Daniel Libanori confirmou a veracidade dos abusos contra as freiras de que é acusado o padre Rupnik.

O padre esloveno foi excomungado em maio de 2020 por confessar e absolver uma das suas vítimas que confessou exatamente o pecado de que ele tomou parte. A punição foi levantada duas semanas depois.

A Companhia de Jesus expulsou o padre Rupnik da ordem em julho de 2023, e a diocese de Koper, Eslovênia, abriu-lhe as portas.

Em outubro de 2023, o papa Francisco suspendeu a prescrição do caso e ordenou que o Dicastério para a Doutrina da Fé iniciasse um processo, depois de detectar “graves problemas na forma como foi tratado”.

O padre Rupnik é também artista e suas obras, especialmente mosaicos, estão em muitos locais de peregrinação em todo o mundo. No Santuário Nacional Aparecida os mosaicos que revestem a fachada do templo são obra do Centro de Arte Espiritual Aletti, escola dedicada à promoção da arte sacra, fundada pelo padre Rupnik, em Roma, Itália, segundo o santuário. Os desenhos trazem as marcas características da obra de Rupnik como os grandes olhos negros das personagens.

Por isso, uma parte importante do debate ético que a crise do caso Rupnik trouxe consigo girou em torno da opção de eliminar a sua arte para honrar suas vítimas.

Os editores do jornal Register respondem sem rodeios a esta questão, dizendo que “o ex-padre jesuíta tem direito ao devido processo, mas a sua arte não”. Na verdade, eles sugerem que “embora possa ser mais fácil falar do que fazer”, as suas obras devem ser desmontadas o mais rápido possível “e substituídas por algo melhor”.

“Pode levar anos. Poderia ser caro. Será um fardo, sem dúvida. Mas quanto antes começar o processo, melhor”, dizem os editores.

Uma das maiores objeções à remoção dos mosaicos de Rupnik reside no medo de cair na “cultura do cancelamento”, tão difundida hoje, e na “necessidade” de separar o artista de sua obra. Além disso, na ausência de uma decisão oficial da justiça, alguns dizem que seria uma antecipação desnecessária dos fatos.

No entanto, o Register diz que “o tribunal da opinião pública” já considerou Rupnik culpado e que, embora a verdadeira extensão das suas ações ainda não seja conhecida, “em nenhum lugar está escrito que as obras de arte devem permanecer expostas até que um o veredicto de culpado seja proferido em um tribunal”.

“Os gostos são importantes. As percepções são importantes. Essa é toda a justificativa necessária neste momento. Como artista, o padre Rupnik certamente pode compreender isto. Os grandes talentos artísticos suportaram coisas muito piores”, dizem os editores do jornal católico.

Eles também dizem que os santuários e templos em todo o mundo que exibem os mosaicos de Rupnik “não devem nada à sua arte, nem sequer a presunção de inocência”.

“Seus mosaicos distintos foram encomendados com um propósito: elevar mentes e corações em direção a Deus. Eles não são mais capazes (se é que alguma vez foram) de atingir esse propósito”, acrescentam.

Segundo os editores, agora a obra do padre esloveno causa escândalo, porque as acusações “são demasiado numerosas e demasiado obscuras”. E concluem dizendo que, uma vez removida a arte, “uma parede branca e uma nova camada de tinta” enviarão a mensagem de que – através da sua graça – Deus faz novas todas as coisas (Ap 21,5).