A arquidiocese de Liubliana, Eslovênia, anunciou hoje (15) que a Santa Sé decidiu encerrar a comunidade religiosa de irmãs co-fundada pelo padre ex-jesuíta Marko Rupnik, acusado de abuso espiritual, psicológico e sexual por várias irmãs.

A arquidiocese disse que as irmãs da Comunidade de Loyola receberam ontem (14) um decreto do Dicastério da Santa Sé para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica sobre a dissolução de sua comunidade “devido a sérios problemas relativos ao exercício da autoridade e ao modo de viver juntos”.

Segundo a declaração de hoje (15), a dissolução da comunidade deve ocorrer dentro de um ano. O decreto é do dia 20 de outubro.

Rupnik fundou a Comunidade Loyola com a irmã Ivanka Hosta em Ljubljana, Eslovênia, há mais de três décadas. O sacerdote e artista de mosaicos foi afastado da ordem dos jesuítas em junho por não obedecer ordens de se manter longe de ações e declarações públicas.

A diocese de Koper, na Eslovênia, disse, em 25 de outubro, que Rupnik foi incardinado lá no final de agosto para o ministério sacerdotal.

Depois disso, a Santa Sé anunciou que Rupnik enfrentará um processo canônico por causa das alegações de abuso.

Segundo uma italiana que o acusa, Rupnik a orientou a entrar na Comunidade Loyola, na Eslovênia, exigindo “absoluta disponibilidade e obediência”, isolando-a de seus amigos e familiares, em um momento em que ele estava abusando dela física e espiritualmente.

“O padre Marko começou abertamente a coagir outras irmãs da comunidade com as habituais estratégias psicoespirituais que já tinha usado comigo, com o objetivo de fazer sexo com o maior número de mulheres possível”, disse a ex-irmã de Loyola ao jornal italiano Domani em dezembro de 2022.

“No início da década de 1990 havia 41 irmãs e, pelo que sei, o Padre Rupnik conseguiu abusar de quase 20”, disse ela.

Rupnik atuou como capelão da Comunidade Loyola até romper com a comunidade religiosa em setembro de 1993. Várias irmãs deixaram a comunidade com Rupnik, seguindo-o para Roma, onde ele abriu uma escola de arte e teologia, o Centro Aletti. Como teólogo, Rupnik é autor Secondo Lo Spirito: La Teologia Spirituale in Cammino con la Chiesa di Papa Francesco, editado pela editora da Santa Sé na coleção “Teologia do Papa Francisco”.

O padre artista também foi acusado de praticar atos sexuais com mulheres consagradas do centro.

Hosta atuou como superiora geral da comunidade de Loyola de 1994 a 2023. Ela foi discretamente removida do governo da comunidade em junho por um decreto enviado pelo bispo auxiliar de Roma, Daniele Libanori, também jesuíta.

A ex-superiora religiosa foi ordenada a não ter qualquer contato com membros atuais ou passados ​​da Comunidade Loyola durante três anos e, como “penitência externa”, para fazer uma peregrinação mensal durante um ano a um santuário mariano para rezar “pelas vítimas do comportamento do padre Marko Ivan Rupnik e por todos os religiosos da Comunidade Loyola”, a quem ela é acusada de prejudicar.

Libanori soube pela primeira vez alegações de abuso sexual e espiritual de irmãs religiosas por parte de Rupnik quando foi enviado para investigar a Comunidade Loyola na Eslovênia, no meio de queixas sobre Hosta.

Segundo comunicado da arquidiocese de Liubliana, o arcebispo Stanislav Zore pediu uma visita à Comunidade Loyola em 2019 e informou o Dicastério da Santa Sé para a Vida Consagrada dos resultados da visita em fevereiro de 2020.

Como a Comunidade Loyola tinha a sua casa geral em Roma, o dicastério da Santa Sé entregou o assunto à diocese de Roma, que enviou um comissário para falar com as irmãs e enviou um relatório final ao dicastério em setembro de 2022 através da Nunciatura Apostólica.

A diocese de Roma publicou um relatório sobre sua investigação do Centro Aletti de Rupnik em setembro, concluindo que o centro tinha “uma vida comunitária saudável... livre de problemas particularmente sérios”, uma declaração que causou “perplexidade” às vítimas do suposto abuso espiritual e sexual de Rupnik.