A Sala de Imprensa da Santa Sé informou na sexta-feira (27) que o papa Francisco decidiu suspender a prescrição do caso do padre Marko Rupnik, acusado de ter cometido graves abusos contra as mulheres, para permitir que um processo seja realizado.

Segundo comunicado, “em setembro, a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores informou ao papa que havia sérios problemas na forma como o caso do padre Marko Rupnik foi tratado e na falta de proximidade com as vítimas”.

“Consequentemente, o papa Francisco pediu ao Dicastério para a Doutrina da Fé que examine o caso e decidiu derrogar a prescrição para permitir a realização de um julgamento”.

“O papa está firmemente convencido de que, se há algo que a Igreja deve aprender com o sínodo, é ouvir com atenção e compaixão aqueles que sofrem, especialmente aqueles que se sentem marginalizados pela Igreja”, diz.

Desde setembro de 2023 o Dicastério para a Doutrina da Fé tem um novo prefeito, o cardeal Víctor Fernández, após o término do serviço do cardeal Luis Francisco Ladaria.

O caso Rupnik

O padre Marko Rupnik é acusado de abusos espirituais, psicológicos, sexuais e de consciência, situações que ocorrem há mais de três décadas.

Depois de uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) “determinou que os fatos em questão prescreveram e, por isso, encerrou o processo no início de outubro deste ano de 2022”, segundo um comunicado dos jesuítas datado de 2 de dezembro do ano passado.

O superior-geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, confirmou no dia 14 de dezembro que o padre Rupnik tinha sido excomungado em maio de 2020 por ter confessado a uma das suas vítimas, medida que foi levantada em muito pouco tempo.

Em uma cronologia publicada pelos Jesuítas em 18 de dezembro, afirma-se que a CDF declarou em maio de 2020 que, com efeito, Rupnik foi excomungado por confessar a uma das suas vítimas, sentença que foi revogada nesse mesmo mês.

Nova incardinação na Eslovênia

O comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé foi publicado dois dias depois de ter sido confirmado que o padre Rupnik foi incardinado em agosto de 2023 na diocese de Koper, Eslovênia, apenas dois meses depois de ter sido expulso da Companhia de Jesus, no dia 15 de junho deste ano.

O bispo local aceitou o pedido do padre para ser recebido na diocese “com base no decreto de demissão de Rupnik da Ordem dos Jesuítas” e “no fato de nenhuma sentença judicial ter sido proferida contra Rupnik”, algo que pode mudar no futuro com a nova abertura do processo.

Papa Francisco sobre o caso Rupnik

Em uma entrevista publicada pela Associated Press em janeiro de 2023, o papa Francisco falou sobre o caso Rupnik e disse: “não tive nada a ver com isso”, ao responder a se ele teve algum papel na decisão de como levar adiante o processo.

Sobre a “solução” para o caso deste padre jesuíta, o papa Francisco disse não ter claro “como foi o caminho, porque era o tribunal da Companhia” de Jesus, os jesuítas, que o levou adiante.

“Mas uma coisa que o [superior] geral da Companhia teve, pela qual o louvo, é que a instrução do processo, a parte da instrução, foi dada ao encarregado por esses assuntos jurídicos dos dominicanos. A instrução foi feita pelos dominicanos. Eu não mexo com isso. Isso foi uma grande coisa”, disse.

O papa disse que “a coisa estava em processo para um caso que foi resolvido. Não sei como, mas foi resolvido no sentido de comum acordo. Acho que foi paga uma indenização, mas aí não tenho claro o arranjo, mas se resolveu. Mas no intervalo surge aquele de 25 ou 30 anos na Eslovênia. Ou seja, se espalha”, acrescentou.