O padre Marko Rupnik, acusado de ter cometido graves abusos sexuais, espirituais e psicológicos de mulheres durante décadas, voltou ao noticiário depois que a Santa Sé confirmou que em setembro deste ano o papa Francisco retirou a prescrição do seu caso e ordenou ao Dicastério para a Doutrina da Fé que inicie um processo.

A informação veio dois dias depois de dom Jurij Bizjak, bispo de Koper, Eslovênia, país natal do padre acusado e expulso da Companhia de Jesus em 15 de junho de 2023, ter confirmado a incardinação do padre Rupnik em sua diocese.

Abaixo, os principais fatos do caso do padre Marko Rupnik em ordem cronológica:

- Outubro de 2018: Segundo cronologia divulgada pela Companhia de Jesus, as primeiras acusações contra o padre Marko Rupnik foram em relação à absolvição de uma cúmplice em um pecado contra o sexto mandamento. Rupnik absolveu uma religiosa do pecado de ter tido relações sexuais com ele próprio.

Estas acusações foram recebidas pelo delegado da Cúria Jesuíta para as Casas Internacionais em Roma, padre Johan Verschueren, e por isso a companhia iniciou uma investigação preliminar.

- Maio de 2019: A investigação considera as acusações confiáveis e um dossiê é enviado à Congregação – agora Dicastério – para a Doutrina da Fé (CDF).

- Junho de 2019: Os jesuítas impõem restrições ao padre acusado, embora não especifiquem quais são.

- Julho de 2019: A então Congregação para a Doutrina da Fé pede à Companhia de Jesus que instaure um processo penal administrativo.

- Janeiro de 2020: “Os juízes (todos externos da Companhia de Jesus) dizem unanimemente que de fato houve uma absolvição de um cúmplice”.

- Maio de 2020: A CDF declara que ocorreu a absolvição de um cúmplice e, portanto, declara que o padre Rupnik se encontra em estado de excomunhão latae sententiae. A excomunhão dura duas semanas e é levantada por um decreto da CDF no mesmo mês.

- Junho de 2021: A CDF entra em contato com a Cúria Geral dos jesuítas a respeito de acusações relativas ao padre Rupnik e alguns membros da Comunidade de Loyola, fundada pelo padre na Eslovênia.

- Julho de 2021: O padre geral dos jesuítas, padre Arturo Sosa Abascal, abre uma investigação preliminar conduzida por uma pessoa de fora da Companhia de Jesus e são impostas restrições ao padre Rupnik.

- Janeiro de 2022: A investigação conclui que havia um caso para responder. Os resultados são enviados à CDF com a recomendação de um processo penal.

- Outubro de 2022: A CDF diz que os fatos estão prescritos; não é possível proceder com o processo.

- 2 de dezembro de 2022: A Companhia de Jesus pune o padre esloveno por acusações de abusos de mulheres. Foi proibido de exercer o sacramento da confissão, da direção espiritual e de acompanhar os Exercícios Espirituais. Ele também foi proibido de participar de atividades públicas sem a permissão do seu superior local.

- 6 de dezembro de 2022: O padre Miran Žvanut, provincial dos jesuítas na Eslovênia, pronunciou-se sobre as acusações de abusos cometidos pelo padre Marko Rupnik. Lamentou a forma como alguns meios de comunicação se referiram ao caso do padre artista.

- 13 de dezembro de 2022: Uma das mulheres que denunciou os supostos abusos diz que não descansará “até que a história seja completamente esclarecida”.

- 16 de dezembro de 2022: Novas supostas vítimas de Rupnik aparecem em Roma, relacionadas ao Centro Aletti, escola de arte fundada pelo padre jesuíta.

- 19 de dezembro de 2022: Uma suposta vítima narra “sua descida ao inferno” com os abusos sexuais e de consciência que o padre Rupnik supostamente cometeu.

- 20 de dezembro de 2022: O bispo auxiliar de Roma e comissário da Santa Sé, dom Daniele Libanori, confirma a veracidade das acusações.

Mais em

- 22 de dezembro de 2022: Conferência Episcopal da Eslovênia lamenta que os supostos abusos do padre tenham permanecido ocultos durante muitos anos e que as vítimas não tenham sido ouvidas em décadas.

- 23 de dezembro de 2022: A Universidade Francisco de Vitoria (Madri, Espanha) decide pausar os trabalhos relacionados com o programa iconográfico da nova capela que estão construindo e que estava a cargo do padre Marko Rupnik.

- 23 de dezembro de 2022: Em comunicado, o cardeal Angelo De Donatis, vigário-geral da diocese de Roma, diz que ofereceu “toda a colaboração necessária” neste caso e diz que “provavelmente envolverá uma série de medidas com respeito aos ofícios canônicos diocesanos dos quais o padre Rupnik ainda está investido”.

-23 de dezembro de 2022: A diocese de Versalhes, França, anuncia que encerrou “toda colaboração” com o padre e artista jesuíta Marko Rupnik.

- 21 de janeiro de 2023: O padre Marko Rupnik pede formalmente a demissão da Companhia de Jesus. A ordem nega.

-25 de janeiro de 2023: O papa Francisco fala sobre o “caso Rupnik” em entrevista à Associated Press.

-15 de fevereiro de 2023: A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), no Brasil, decide revogar o título de doutor honoris causa que conferiu ao conhecido padre e artista.

- 21 de fevereiro de 2023: A Companhia de Jesus impõe novas restrições ao padre Rupnik, como a proibição de qualquer exercício artístico público, depois de um relatório ter relatado 15 novas denúncias de abuso. A Companhia propõe que o padre inicie um processo de avaliação psicológica e terapia para reconciliação com as supostas vítimas. O padre Rupnik o rejeita e pede sua renúncia à ordem, o que não é aceito.

-24 de fevereiro de 2023: O padre Johan Verschueren, superior do padre Rupnik, confirma que sua excomunhão foi suspensa em apenas duas semanas devido ao seu arrependimento, então “aquele estado de desonra havia desaparecido”.

-5 de março de 2023: O padre Marko Rupnik concelebra uma missa numa basílica de Roma, apesar de estar sob restrições.

- Março de 2023: O bispo de Koper, Eslovênia, dom Jurij Bizjak, escreve uma carta formal dirigida aos jesuítas onde expressa a sua “vontade de incardinar o padre Rupnik”. A Companhia de Jesus informa “exaustivamente” a diocese sobre as acusações contra o padre.

-31 de março de 2023: O bispo de Lourdes, França, dom Jean-Marc Micas, informa que os mosaicos do padre Rupnik que decoram a basílica do santuário de Lourdes poderão ser removidos devido ao sofrimento das vítimas que chegam ao santuário em busca de consolo.

-14 de abril de 2023: O superior do padre Rupnik nega a possível transferência do padre para Milão.

-14 de junho de 2023: O padre Rupnik continua viajando e fazendo projetos artísticos apesar das restrições impostas pela Companhia de Jesus. O padre Johan Verschueren confirma a veracidade desta informação e diz que “esta é uma grave transgressão das medidas restritivas impostas”.

- 15 de junho de 2023: O padre Johan Verschueren, autoridade jesuíta e ex-superior do padre Marko Rupnik, anuncia a expulsão definitiva do sacerdote da Companhia de Jesus devido à sua “recusa repetida” em enfrentar as denúncias de abuso sexual e em cumprir as restrições impostas.

-19 de junho de 2023: Um grupo de jesuítas diz que deixará a ordem após a expulsão do padre Rupnik.

- 14 de julho de 2023: Expira o prazo para o padre Rupnik apelar à ordem pela saída da Companhia de Jesus.

- Agosto de 2023: O padre Rupnik é incardinado na diocese de Koper, Eslovênia.

- 18 de setembro de 2023: A diocese de Roma comunica as conclusões da visita canônica ordenada pelo cardeal vigário, Angelo De Donatis, ao Centro Aletti.

-20 de setembro de 2023: As supostas vítimas de abusos espirituais e sexuais cometidos pelo padre Marko Rupnik expressam a sua “consternação” após a publicação do relatório da diocese de Roma sobre o Centro Aletti.

- Setembro de 2023: O papa Francisco suspende a prescrição do caso e ordena ao Dicastério para a Doutrina da Fé que inicie um processo.