“Há uma vida comunitária saudável no Centro Aletti, livre de problemas específicos”, diz a diocese de Roma em comunicado sobre a visita canônica feita ao centro de arte sacra fundado pelo padre Marko Rupnik, acusado de ter abusado de freiras e expulso da ordem jesuíta em junho por não obedecer às instruções dos seus superiores.

Segundo o comunicado divulgado hoje (18), a investigação foi conduzida pelo padre Giacomo Incitti, professor de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma.

O padre apresentou o relatório final no dia 23 de junho de 2023 ao cardeal Angelo De Donatis, que “após verificar a inexistência de quaisquer pré-requisitos para outras medidas dentro de sua competência, decretou o encerramento da visitação canônica”.

No relatório final, Incitti diz que “o visitador pôde constatar que os membros do Centro aletti, embora amargurados pelas acusações recebidas e pela forma como foram tratadas, optaram por manter o silêncio - apesar da veemência da mídia - para guardar seus corações e não reivindicar nenhuma posição irrepreensível com o qual pudessem se colocar como juízes dos outros”.

A visita foi iniciada por causa de “notícias divulgadas por agências de imprensa e comunicados assinados pelo padre Johan Verschueren, delegado do prepósito geral para as Casas Interprovinciais em Roma, sobre alguns episódios relacionados ao padre Marko Rupnik, acusado de abusar de religiosas maiores de idade, e também ligados ao Centro Aletti”.

Verschueren era o superior de Rupnik na ordem jesuíta.

A visita canônica foi ordenada pelo cardeal vigário, Angelo De Donatis, no dia 16 de janeiro de 2023.

O comunicado diz ainda que o objetivo da visita foi “verificar o modo como a Associação é administrada e o funcionamento efetivo de seus órgãos de governo; examinar a vida associativa em todos os seus aspectos, incluindo as relações dos membros com o fundador e com o grupo de líderes, bem como a dinâmica relacional entre os próprios membros”.

Relatam ainda que a investigação foi feita “de forma diligente e confidencial” e para isso fizeram “encontros comunitários e um número significativo de entrevistas pessoais com membros atuais e muitas pessoas que em várias funções tiveram contato com a vida e as atividades do centro”.

“Todo este assunto”, diz o comunicado, “ajudou as pessoas que estão vivendo a experiência do Centro Aletti a fortalecer sua confiança no Senhor, sabendo que o dom da vida de Deus abre espaço até mesmo na provação”.

Ao mesmo tempo, diz que “as novas necessidades, que surgiram e também foram avaliadas à luz da decisão da Companhia de Jesus de deixar o Centro Aletti, exigiram algumas mudanças iniciais necessárias no Estatuto, que, no entanto, deixou intactos os objetivos fundadores”.

Dúvidas sobre o pedido de excomunhão

Segundo o comunicado, o padre visitador “examinou também, de forma diligente, as principais acusações feitas contra o padre Rupnik, sobretudo aquela que levou ao pedido de excomunhão”.

“Com base no copioso material documental estudado, o visitador pôde verificar e, portanto, apontar procedimentos seriamente anômalos, cujo exame gerou dúvidas bem fundamentadas até mesmo em relação ao próprio pedido de excomunhão”.

“Em consideração à gravidade dessas constatações, o cardeal vigário encaminhou o relatório às autoridades competentes”.

O comunicado foi divulgado três dias depois do encontro privado do papa Francisco com a teóloga e diretora do Centro Aletti, María Campatelli, colaboradora próxima de Marko Rupnik.

No dia 9 de junho, a Companhia de Jesus expulsou Rupnik da Ordem, depois de ter sido acusado de abusos espirituais, psicológicos e sexuais, bem como de abuso de consciência, situações que teriam ocorrido há mais de três décadas inclusive com mulheres ligadas ao Centro Aletti.

Marko Rupnik também foi brevemente excomungado em 2019 por absolver em confissão uma cúmplice de um pecado contra o sexto mandamento, isto é, ele absolveu uma das freiras que confessou ter tido relações sexuais com ele.