O padre jesuíta Johan Verschueren, ex-superior do padre Marko Rupnik, acusado de abusar de freiras, disse que a possível expulsão de Rupnik do estado clerical não cabe à Companhia de Jesus, mas à Santa Sé.

Verschueren escreveu uma carta aberta divulgada ontem (24), quando expirou o prazo para o padre Rupnik recorrer do decreto de expulsão da Companhia de Jesus, entregue ao padre e artista esloveno em 14 de junho de 2023. Oficialmente, o religioso acusado de abuso sexual não é mais jesuíta.

O padre Verschueren também disse que alguns meses antes, em janeiro, o padre Rupnik tinha pedido para deixar a Companhia de Jesus. Os jesuítas não concordaram, pois tinham a intenção "de vinculá-lo às suas responsabilidades diante de tantas acusações, convidando-o a enveredar por um caminho de verdade e de confronto com o mal denunciado por tantas pessoas que se sentiam feridas".

“Infelizmente, ele não quis aceitar esse nosso convite e achamos necessário demiti-lo da Companhia pelas razões já explicadas em outro lugar”, disse o padre Verschueren, que serve como delegado das Casas e Obras Interprovinciais em Roma.

Depois de lamentar a "insistente e obstinada incapacidade" do padre Rupnik "para enfrentar as vozes de tantas pessoas que se sentiram feridas, ofendidas e humilhadas pelas suas ações e comportamento para com elas", o superior jesuíta disse que "isto não exclui o bem que ele fez e o fruto espiritual que deu a tantas e tantos outros na Igreja".

As obras de arte do padre Rupnik estão em várias partes do mundo, como no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil; no Santuário de Fátima, em Portugal; no edifício da Conferência Episcopal Espanhola; em Roma e várias cidades da Itália, entre outros.

Por que não houve um julgamento contra o padre Rupnik?

Na carta publicada ontem (24), o padre Verschueren disse: “Muitos nos perguntaram por que não foi feito um processo que pudesse conduzir à perda do estado clerical de Marko Rupnik. Gostaria de recordar aqui que esta não é em si uma competência da Companhia de Jesus, mas da Santa Sé”.

“Sempre quis como superior maior, nas diversas circunstâncias destes longos e complexos acontecimentos, poder iniciar um processo que garantisse a investigação judicial dos fatos, o direito de defesa e a consequente sanção (ou eventual absolvição), mas várias razões, entre as quais os atuais limites da regulamentação em situações semelhantes, não o permitiram”, acrescentou.

O superior jesuíta também falou do "firme desejo" dos jesuítas de se distanciarem do Centro Aletti, fundado pelo padre Rupnik. Ele disse que estão "procurando a melhor forma de fazê-lo, também em colaboração com o Vicariato de Roma, do qual atualmente depende".

“A todos aqueles que, de alguma forma, se sentiram e se sentem feridos e prejudicados pelo nosso ex-confrade, garanto-lhes a minha total solidariedade e abertura para encontrar no futuro as melhores formas de refletir sobre como podemos encontrar a paz interior e a reconciliação através de caminhos que possamos percorrer juntos”, concluiu.

O caso Rupnik

O padre Marko Rupnik é cofundador da Comunidade Loyola na Eslovênia, que surgiu na década de 1980. Ao longo de seus anos como chefe da comunidade, teria abusado de religiosas adultas.

Após uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) “considerou que os fatos em questão prescreveram, por isso arquivou o processo no início de outubro” de 2022, diz um comunicado dos jesuítas de 2 de dezembro.

O superior-geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, disse em 14 de dezembro que Rupnik havia sido excomungado em maio de 2020 por ter atendido a confissão de uma das religiosas com quem manteve relações sexuais. Ao absolver sua cúmplice, o padre incorreu na excomunhão automática. A pena foi suspensa no mesmo mês.

Em dezembro de 2022, uma ex-freira que preferia que sua verdadeira identidade não fosse conhecida, contou em detalhes como foi sua "descida ao inferno" com o abuso sexual e de consciência que sofreu do padre Rupnik.

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