V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe
de 13 a 31 de maio de 2007 · Aparecida - Brasil
Rumo à V Conferência do CELAM: "Devemos transmitir uma esperança que não está apoiada em objetivos puramente humanos: mas sim na pessoa concreta de Cristo".
Entrevista com Dom Luis Robles Díaz vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. 18/4/2007
Cidade do Vaticano (Agencia Fides) - Em 13 de maio, o Santo Padre inaugurará os trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe (CELAM) que acontecerá no Santuário de Aparecida no Brasil. Publicamos sobre este argumento uma entrevista realizada com Dom Luis Robles Díaz, Vice-presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina realizada pela Agência Fides poucos dias antes de sua morte que aconteceu de forma imprevista em 7 de abril, em Roma.
A cerca de um mês da inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano. Que frutos deve esperar a Igreja Latino-americana deste grande encontro episcopal?
Acredito que o principal fruto desta V Conferência Geral deve ser uma renovação intensa na prática pastoral da Igreja. Seria muito útil que a reflexão esteja orientada sobre tudo à pastoral, pois é o que hoje necessita a Igreja nesse continente. O que fazer para que o Evangelho chegue a mais pessoas? O que fazer para difundir uma cultura de vida? O que fazer para fortalecer as famílias e para transmitir o modelo da família cristã? Enfim, acredito que estas e outras perguntas devem encontrar respostas concretas na reflexão e o diálogo que vai se suscitar entre os Pastores das diferentes nações presentes, com a ajuda dos laicos e peritos convidados. América Latina, ainda com a diversidade cultural que tem e sem menosprezar a identidade própria de cada povo, forma uma grande unidade; somos um só povo com uma marcada cultura e identidade católica. Isso deve ser aproveitado para dar soluções que sem deixar de ir ao profundo das coisas, sejam pragmaticamente factíveis e eficazes. Devemos anunciar o Evangelho e levar a cabo a missão da Igreja com eficácia.
Em sua opinião, no que deveria estar apoiada essa eficácia?
Acredito que terá que saber qual é o principal objetivo e colocar todos os meios necessários nessa única direção. Nosso objetivo é anunciar a Cristo e ajudar às pessoas —incluídos os católicos— a converter-se ao Evangelho. Mas devemos transmitir uma esperança que não está apoiada em objetivos puramente humanos: o social, o econômico, etc... Esta esperança está apoiada na pessoa concreta de Cristo. Embora pareça uma verdade evidente, não está demais recordar que o Pastor deve transmitir unicamente o modelo de Cristo. É evidente que hoje em dia o trabalho da Igreja, sobre tudo em países com amplas carências no campo econômico, social e político —como é o caso de muitos países da América Latina—, deve chegar a todos esses âmbitos da vida humana e apresentar respostas concretas, mas qual deve ser a natureza dessas respostas? No que se deve apoiar? Quando a missão da Igreja se confunde com as metas terrenas, incluídos os campos político, econômico e social, o Evangelho se torna ineficaz, os homens o tornamos ineficaz!
Que características particulares deveria ter esta V Conferência a diferença das anteriores?
Para responder a esta pergunta prefiro partir pelo lado oposto: aquilo que têm em comum. Pode-se ver uma clara continuidade, desde Rio a Santo Domingo, entre estas Reuniões Episcopais. Todas elas são uma resposta ao impulso suscitado pelo Espírito no Concílio Vaticano II. Há uma permanente renovação na Igreja, e por isso é que vieram dando sucessivamente estas grandes assembléias, pelo afã de responder a uma situação concreta e atual; mas é um fenômeno de renovação que se dá em continuidade com as experiências anteriores e particularmente com os ensinamentos conciliar. Acredito, entretanto —respondendo a sua pergunta—, que cada Conferencia General foi suscitada em contextos históricos particulares e distintos. Em meio dessa continuidade, cada uma delas respondeu a seu modo a uma situação concreta da Igreja em cada tempo. A riqueza acumulada é imensa! Não acredito que o momento atual da América Latina necessite grandes propostas a nível doutrinal. O Magistério nos últimos 50 anos produziu uma grande quantidade de material que é fruto de reflexões profundas e de uma aproximação aguda à realidade atual da Igreja. Basta dar um olhar ao Magistério de João Paulo II em suas viagens apostólicas por essas latitudes. Só isso, unido aos documentos das anteriores Conferencia Gerais, apresenta uma quantidade infinita de médios a aplicar. Por isso penso que esta V Conferência deve suscitar sobre tudo uma renovação na ação, mas não centrada no político, social e econômico, mas sim centrada em Cristo, no Evangelho, nos valores cristãos, na piedade popular e Mariana, etc…
No contexto da América Latina e no trabalho que realiza a Igreja, que desafios considera você que são os mais urgentes de confrontar?
Acredito que os mais importantes estão enumerados em minha resposta a sua primeira pergunta. Mas acrescentaria outro que considero fundamental: o trabalho vocacional. Imaginemos a um Cristo sem discípulos, sem seguidores; imaginemos a um Jesus sem apóstolos; certo que resulta absurdo? Toda a pessoa de Jesus já era um convite a segui-lo. Ele chamou a seus discípulos e segue fazendo-o hoje em dia através de cada cristão, e de maneira especial através de seus pastores. A Igreja não poderia sustentar-se sem um permanente apostolado vocacional. O Senhor mesmo nos urge a «pedir ao dono da colheita que envie operários». Mas além de pedi-lo terá que buscá-lo com meios concretos. Nos últimos anos se tentaram muitas coisas para acrescentar a resposta ao chamado de Deus, com bons resultados em alguns casos e não tão bons em outros. Mas com não pouca freqüência se perdeu a confiança na eficácia que tem o anúncio direto do Evangelho, do chamado de Cristo, assim como a defesa aberta e sincera do que a Igreja realmente quer transmitir: que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Às vezes se buscam caminhos indiretos que não dão bons resultados, ou se trata de disfarçar a mensagem quando o que precisa é ser apresentado como o que é. Se o Evangelho não for em si mesmo atrativo, então como podemos convencer? Por outra parte acredito que se pode medir o valor real dos meios postos na evangelização nos frutos vocacionais que apresentam. Considero, por isso, que seria uma grande contribuição desta V Conferência uma renovação na pastoral vocacional, que além disso está muito unida à pastoral familiar, de maneira que se suscite em nossos países uma intensa campanha para promover a vida sacerdotal, a vida consagrada, com modelos exemplares, mas que seja clara e direta, que não trate de filtrar-se através dos canais que oferece o mundo, mas sim tenha seu próprio canal, que é o testemunho dos pastores.
Fonte: Agencia Fides
Aparecida 2007














