A encenação da Paixão de Cristo, que ocorre todos os anos na Semana Santa no bairro de Iztapalapa, na Cidade do México, foi declarada patrimônio cultural imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

A decisão foi tomada na vigésima sessão do comitê intergovernamental para a salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, que ocorre de 8 a 13 de dezembro em Nova Delhi, Índia, em que a candidatura da via sacra de Iztapalapa foi analisada e aprovada.

Tomando a palavra, Edaly Quiroz, vice-diretora do Patrimônio Cultural Imaterial do México, disse que a Semana Santa em Iztapalapa não é só uma representação teatral, mas uma manifestação "de união, fé e resiliência que reúne milhares de pessoas num exercício coletivo de memória, identidade e participação".

Em seu site, a UNESCO diz que essa lista reconhece práticas, conhecimentos e expressões que as comunidades reconhecem como parte de sua identidade cultural e fala sobre a necessidade de protegê-los para as gerações futuras.

Semana Santa e o Senhor da Pequena Caverna

Juan Pablo Serrano, guardião da imagem do Senhor da Caverna na catedral de Iztapalapa, disse à ACI Prensa, agência em espanhol da EWTN, que essa tradição está intimamente ligada à origem da imagem e a uma promessa comunitária do século XIX.

Ele disse que em 1687 uma imagem de Cristo estava sendo transportada de Oaxaca para a Cidade do México para ser restaurada. Na viagem, aqueles que a transportavam descansaram numa caverna no Cerro de la Estrella (Morro da Estrela), e quando tentaram retomar a viagem, “não conseguiram mais movê-la”.

“Entende-se que a imagem quer permanecer ali, uma imagem que representa Cristo no túmulo. [Estando numa caverna] uma devoção muito particular começa a se desenvolver”, disse.

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Serrano disse que a ligação direta com a via sacra surgiu em 1833, numa epidemia de cólera. Diante do elevado número de mortes, habitantes levaram a imagem em procissão e pediram a sua intercessão. Depois de vários dias de oração, a peste cessou, evento que foi interpretado como um milagre.

Depois desse evento, a comunidade prometeu reencenar a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo todos os anos como sinal de gratidão, e a cada ano a tradição cresce, tanto em número de participantes quanto de espectadores. Só na Semana Santa deste ano, atraiu cerca de dois milhões de pessoas.

Orgulho de Iztapalapa

Serrano expressou sua alegria pelo reconhecimento, que, segundo ele, "é algo de que [os habitantes] sempre se orgulham e se gabam com orgulho e honra".

Ele disse que, nos anos em que esteve encarregado da guarda da imagem, testemunhou a chegada de milhares de visitantes, como pessoas que não se identificam como católicas, que “quando chamadas pela representação, visitam a imagem, visitam o templo e sentem um verdadeiro reflexo em seus corações e uma conversão real”.

Por fim, disse que esse novo status é um compromisso maior para a comunidade, para que a celebração continue sendo “uma expressão de gratidão a Deus".

“Tudo o que é feito como uma oferta a Deus acaba se tornando catequético e evangélico”, disse Serrano.