V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe
de 13 a 31 de maio de 2007 · Aparecida - Brasil
Entrevista com o Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Presidente do Conselho Episcopal da América Latina (CELAM) e Arcebispo de Santiago do Chile
ACI Digital: Por que é importante a V Conferência? Que valor tem para a evangelização na América Latina?
Cardeal Errázuriz: Eu acredito que o primeiro que terei que levar em conta é que existe um lugar de encontro das distintas conferências episcopais da América Latina que se chama Conselho Episcopal da América Latina que é um lugar no qual se trabalha com muita comunhão. São as distintas conferências que escolhem suas diretivas, as do CELAM. Escolhem os bispos que vão se encarregar de determinados programas e se reúnem os representantes das conferências episcopais cada certo tempo, como digo em um espírito de comunhão e colaboração realmente extraordinário.
Muito dos grandes temas que enfrenta a Igreja na América Latina e também no Caribe e também nosso povo de fala espanhola nos Estados Unidos e em outras partes, são comuns, parece que os países são muito distintos mas os grandes desafios são muito semelhantes, com maior intensidade alguns mais que outros segundo o país do qual se trate.
E esta reunião de conferências episcopais que é o CELAM é uma espécie de família e o que me convenci é que gostam de reunir-se cada certo tempo ou seja, o mundo segue adiante, a história avança, apresentam-se novos desafios.
Esta grande família teve um encontro no Rio de Janeiro, muito antes teve outros encontros. Existiu um grande concílio a fins do século XIX em Roma que teve uma importância enorme, mas depois, em torno ao Concílio Vaticano II tiveram um encontro representantes do Episcopado no Rio de Janeiro, 10 ou 12 anos depois em Medellín, depois de um tempo em Puebla e no ano 92 no São Domingo. Os documentos são muito conhecidos e tiveram uma influência muito alta em nossa Igreja latino-americana e também além de nossas fronteiras e aproximando-os 50 anos deste Conselho Episcopal, em uma reunião que tivemos se propôs: “faz tanto tempo que não temos um encontro, mudaram tanto as situações no mundo, na Igreja nos juntemos novamente para assim refletir procurando uma orientação pastoral comum para toda a Igreja”.
Já tínhamos uma, que foi dada pelo Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Igreja na América. Certamente vocês recordam a grande orientação que entregou, que toda a pastoral devia impulsionar o encontro com Jesus Cristo vivo como o Caminho de conversão, de comunhão e de solidariedade para a América. Isto estava entregue faltava aplicá-lo, faltava às vezes descobrir de que maneira se realiza isto ou chegar aos passos seguintes coerentes com essa grande orientação.
Pois bem, quando começamos a refletir sobre as mudanças que tinha enfrentado nosso mundo, demo-nos conta que eram muitos. Fizemos quando estávamos celebrando os 25 anos de Puebla e o fizemos ali mesmo. Vimos que a situação do mundo mudou, são muitos mais claros os sintomas que estamos vivendo, os dores de parto de uma época nova, é muito que muda, o que se pensava do conceito de família há um tempo hoje em dia que quer mudar o que significa uma família, que quer dar igual vigência ao matrimônio de pessoas do mesmo sexo, se pensar sobre a vida em muitos de nossos países nem havia lei de aborto, estendeu a lei de aborto, ou em alguns aparece o tema da eutanásia, se pensarem no que é a liberdade e quando sem lugar a dúvidas Deus entregou a liberdade para que nós cheguemos a gozar da vida de Deus da felicidade de Deus, da paz de Deus, da amizade com Ele e de repente aparece que a liberdade faz com que a pessoa por ser livre não pode atar-se, não pode adquirir compromissos para toda sua vida, não pode casar-se para sempre, é como que perdesse sua liberdade; são muitos os temas nos quais alguém descobre que há uma mudança.
Outro por exemplo o tema da ecologia: há 30 anos não era uma pergunta importante mas hoje em dia o desenvolvimento sustentável, o cuidado da natureza, a destruição da natureza pelo mesmo homem, a camada de ozônio; há uma maneira nova de conviver com esse entorno que é a natureza que Deus nos deu de presente; mas também até na astronomia. Ou seja, o ser humano que ao olhar as estrelas começa a retroceder na história e se tem um sentido distinto de história, de criação, igualmente a ecologia, descobrir a sabedoria de Deus imersa nesta realidade criada, imersa na natureza, é um fato novo, enfim, são muitas as coisas que mudaram.
Em nossos países há problemas sérios, por exemplo, persiste a pobreza, em uma dimensão muito forte, ainda de extrema pobreza. Há países aonde cresceu a extrema pobreza, cresceu a distância entre a gente que tem mais ganhos ou menos ganhos. Nós dissemos em alguma oportunidade: "opção preferencial pelos pobres" e há muita que tem feito uma opção: procurou um estilo de vida mas singelo, preocupou-se muito mais por ser solidário, mas em nível de estado nos arranca a riqueza e a pobreza muitas vezes não alcança a sair dos níveis onde vive e onde alcança a melhorar um pouquinho. Entretanto se distanciam os ganhos, é nosso fracasso, ser um continente no qual virtualmente todos somos cristãos batizados ou batizados em outros grupos cristãos, pentecostais, etc., não católicos, mas todos estamos comprometidos com o Mandamento Novo de amar ao próximo como Cristo nos ama.
E há outros sintomas quanto à ética por exemplo, reconhecer que há valores que são definitivos e que não se podem vulnerar. Há respeito, respeito à vida por exemplo, respeito à dignidade da pessoas, o sentido do trabalho, o tema da educação, há grandes reforma educacionais que propiciaram nossos estados. Não existiam assim há 20, 25 anos e a pergunta que surge é se houver uma idéia da antropologia? E não há, e se responde aos grandes desafios do tempo atual? Não, estão enfocados muitos mais ao tema da economia: ter uma pessoa que tenha conhecimentos, que seja competitivo e que ao dia de amanhã possa produzir produtos que possam participar do mercado mundial. Uma vez conversando com um grande economista no Chile me dizia que o colégio deve ter como meta criar ao homem que produz, ao homem que compete e para que produza e compita bem também tem que preocupar-se com sua felicidade, ou seja, mudou toda a ordem das coisas, que a educação não é para a realização de toda a pessoa mas sim simplesmente vai enfocá-los quanto à economia e que seja uma peça útil nessa engrenagem.
Acredito que é um tema de relativismo moral quando se pergunta o que é o que deveria ser ético, o que deveria ter muitas leis? Aquilo no que haja consenso na população? Mas existe a natureza humana, existe a revelação, existe o querer de Deus, não é questão de consensos mínimos, por citar alguns temas, existem muitos outros temas extremamente preocupantes.
Pois bem, ao ver a mudança enorme, nós dissemos: temos que nos juntar, refletir sobre esta situação nova que estamos vivendo, que está vivendo a Igreja em muitos países que está perdendo membros, afetada por muitos outros grupos cristãos e por seitas que estão lhe tirando pessoas batizadas à Igreja Católica. O que acontece conosco?, Não somos missionários como eles?, Enfim, era necessário deter-se refletir.
O interessante disto é que a primeira vez que nos reunimos os presidentes das conferências episcopais e dissemos que tema deveria ter esta V Conferência, partiram alguns presidentes a diferentes salga, em quatro comissões distintas... E todos unanimemente disseram: "o importante é que nós sejamos discípulos de Cristo", ou seja, que essa grande orientação pastoral da orientação apostólica: o encontro com Jesus Cristo vivo, o encontro conduz a que as pessoas que se encontram com Jesus e às quais Jesus chama por seu nome se transformam em discípulos deles, e em discípulos por uma parte que o seguem, que o escutam, que querem abrir-se a Ele que é a verdade, que querem ter uma profunda solidariedade com Ele, com seu caminho, com o projeto de Deus para a humanidade, com a verdade sobre o homem, sobre Deus, sobre a criação, etc., mas que seja muito claro: nossa definição não é que somente nos encontramos com Jesus, isso leva um compromisso com Ele, o compromisso próprio dos discípulos, igual se nos tivéssemos encontrado isso junto ao lago da Galiléia e Jesus se aproximou de alguém e lhe houvesse tal: "me siga".
Foi muito notável a mudança porque não ficaram os bispos no centro a dizer que há uma grande tarefa por realizar, que devem realizar todos os cristãos juntos. Claro que há grandes tarefas e valem todas as conferências episcopais anteriores, sem lugar a dúvidas as conferências gerais do episcopado: vale Puebla, vale Santo Domingo e todas as metas sociais e de outro tipo que expôs Medellín. Todo isso vale, mas a pergunta é quem é o sujeito que vai realizar todo aquilo?, Esse cristão que hoje não está na política, que não está intervindo na vida pública que talvez tenha uma função de um meio de comunicação e não a está cumprindo como cristão? Há uma dor muito grande tanto da falta de presença de mais católicos resolvendo os grandes problemas do mundo como também uma dor porque a densidade da convicção do compromisso com Cristo não se expressa suficientemente em muitos nem na política, nem na empresa nem nos meios de comunicação nem em tantas outras tarefas, portanto, procurar a formação: ser e formar discípulos de Jesus Cristo que sejam coerentes com sua fé, bom, e ser missionários de Jesus Cristo, porque quando Jesus chama não chama simplesmente para que a gente caminhe com Ele, escute-o e o siga, mas sim sempre chama para enviar para participar também na missão de Cristo. Alguém o vê nos apóstolos: durante bastante tempo escutando-o, seguindo-o, sendo testemunhas dos fatos de Jesus Cristo, sendo os que acolhiam as mensagem de Jesus Cristo, até que Pedro diz: "Você só tem palavra de vida eterna". Chega Pentecostes, o espírito de Jesus se derrama sobre eles, os que não pregavam antes começaram a pregar e Pedro faz alguns milagres, sai pelo mundo, estão fazendo discípulos a todos os povos, portanto não é separável ser discípulos e ser missionários.
Mas nos encontramos com a surpresa de viver em um continente que durante séculos foi virtualmente quase exclusivamente católico. Partiram os católicos daqui a África, partiram para a Ásia, uns poucos chegaram a Filipinas do México, mas em geral nosso compromisso com Jesus Cristo não chegou, em termos gerais, a tal maturidade que se produziu um compromisso com a missão Dele, para sair a pregar o evangelho, a lhe entregar a grande riqueza que o Senhor mesmo e tudo o que Ele nos trouxe.
Bom há outra realidade, nós fomos durante muito tempo moderado que teve a sorte de ser evangelizado, que teve a sorte que muitos missionários da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá chegaram a nossas terras e nos acostumamos a receber gente e a receber ajuda mas não a despertá-la missionariamente e sendo todos mais ou menos católicos. O espírito católico de ir a outros e falar de Jesus Cristo estava em muitos países muito dormido: se todos formos católicos para que, por que vou eu a outro a anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo? Então chamávamos a alguma ordem: os Claretianos, os Capuchinhos, os Redentoristas, mas não o faziam normalmente nem o laico, nem o sacerdote diocesano e vai trocando e há atualmente missões organizadas por paróquias, há missões universitárias, há missões familiares, vai trocando. O que nós queríamos é que se chegue a um grande despertar do espírito missionário em nossa Igreja.
Pensamos concluir a V Conferência com uma Grande Missão Continental. Assim também o aprovaram os presidentes das conferências episcopais mas tem que ser aprovado pela Assembléia mesma. Até que não o aprove a assembléia é sozinho um projeto, um desejo, mas essa grande missão tem a finalidade de que ocorra um grande despertar missionário, estamos celebrando aqui no Peru a Santo Turíbio de Mogrovejo, o Espírito Santo o moveu pelos caminhos do grande o Peru daquele tempo, naquele tempo, com todas as dificuldades, com uma sede de entregar a vida de Cristo no povo impressionante.
A primeira parte do tema da V Conferência é precisamente esse: discípulos e missionários de Jesus Cristo que veio para instaurar o reino e que todos os homens chegassem ao conhecimento de Deus através d'Ele. Portanto há uma vontade de construir esse reino de justiça, de paz, de amor, de santidade, de graça, evidente e nós o formulamos dizendo: queremos ser discípulos e missionários do Jesus Cristo para que nossos povos tenham vida. O Santo Padre, quando propusemos o tema disse: Para que os povos nele tenham vida, em Jesus Cristo, ou seja o grande nosso presente aos povos é a vida nova em Cristo, que saibam que são filhos de Deus, que têm essa dignidade extraordinária, que são irmãos, que portanto querem viver na justiça, na solidariedade, na benevolência, no perdão mútuo, na generosidade, no serviço, etc., e que também querem viver nessa abertura ao Deus da história com o que qual quer colaborar e com essa abertura ao Deus trino ao qual quer contemplar e servir e lhe servindo, assumindo os planos de redenção de Jesus Cristo mas também indo ao pobre, ao aflito, ao encarcerado, ao doente, ao faminto para encontrar no também o rosto de Cristo que pede nosso serviço.
Nisto também queremos prolongar a fidelidade de Cristo à Virgem Maria, assim como a Virgem se preocupou com os maridos de Cana e se preocupou de forma extraordinária por seu próprio Filho, ou seja, quando Cristo morria e quando era açoitado, a preocupação dela e a proximidade e o carinho e compartilhar também a grande finalidade de Jesus Cristo. Quiséssemos nós com a Virgem, fazer esta grande obra de todos nossos povos tenham a cultura da vida –o incluo no programa naturalmente ou seja, o respeito da concepção até a morte e também que todos vivam conforme a sua dignidade de filhos de Deus, de pessoas, e tudo isto está na cultura da vida– mas sim também queremos fazer o presente a nossos povos da vida em cristo, essa é a grande coloque de nossa V Conferência.
ACI Digital:A V Conferência está dirigida para avivar a fé do católico considerado comum? O que pode fazer o católico da pé, digamos, na América Latina e nas regiões de fala Hispana para preparar-se para esta V Conferência? Ou é algo que é terá que deixar somente aos bispos?
Cardeal Errázuriz: Eu queria deixar a impressão de que isto é só para o católico comum. Se vocês pensarem o que significa que um sacerdote, que vai ser pastor de uma comunidade vai estar animando um grupo, etc. que os próprios fiéis percebam com muita força que esta pessoa que está dirigindo nossa comunidade é discípulo de Jesus, sempre está meditando a palavra de Deus: sempre o posso encontrar junto ao Santíssimo, sempre está fazendo as obras de caridade e de misericórdia que Jesus Cristo nos propôs, que vive o espírito das bem-aventuranças porque Ele não quer ser simplesmente professor, quer ser discípulo que insígnia, não quer ser somente pastor que guia mas sim ovelha que –se quer– é guiada por Cristo e que ao mesmo tempo estaria fazendo a função de guiar a outra gente. Importa-me muito que seja perceptível, que seja visível e que se aprofunde esse vínculo que existem entre o sacerdote e seu Senhor e Mestre e que os mesmos fiéis apalpem que estou frente a alguém que é discípulo do Jesus e que é missionário dele e o mesmo vale para os bispos.
O que estamos tratando de fazer é que todos se preparem. Tem dois sentidos: a gente é que refletindo sobre nosso mundo e sobre o fato de que nós somos discípulos e missionários de Cristo, muitas comunidades ao longo da América Latina digam: de que maneira podemos ser melhor discípulos e missionários? Qual deve ser o itinerário, a pedagogia pastoral para que muita gente seja discípulos e missionários para que nossos povos em Cristo tenham vida?
Nós estamos em um processo de reflexão, de discernimento da realidade. Recolher experiências, de itinerários de formação, muitos estão em movimentos apostólicos, outras antigas ordens também têm seus próprios itinerários, queremos recolher estas riquezas de maneira que fecunde a vida de nosso moderado. Tiramos um pequeno livrinho que se chama "Processo de Participação" que é muito importante porque é um convite no que se expõe um pouco o tema. Também existem fichas para que um grupo possa elaborar um pouco o tema e possam pouco a pouco ir maturando respostas que eles esperam que os bispos dêem como orientação pastoral.
O segundo aspecto são estes grupos que começam a refletir sobre esta matéria e que oferece contribuições de maneira que a reflexão dos bispos seja muito próxima à vida dos fiéis de nossa Igreja. Outro aspecto é que quando um grupo entra em refletir neste material e diz: "eu que fui chamado pelo Senhor, que me chamou por meu nome, que quer que eu seja melhor discípulo e que ser discípulo significa isto e aquilo e que me encontro ante este mundo, eu imediatamente porque escuto a palavra de Deus nesta preparação da V Conferência, eu começo este processo e o levo a prática". Eu não digo: "agora estou vendo verdades, as vou realizar dois ou três anos depois quando já tiver o documento". Não. Mas sim se eu me aproximo de Jesus, eu entendo algo de Jesus eu digo: "hoje mesmo vou fazer o que Jesus me peça": então é um grande processo de vida e de oração.
Se é que o Espírito Santo não atua, se não ser Ele o que inspira aos bispos, lhes dando sua luz, lhe dando seu ardor interior, lhes dando essa vibração por Ele, as coisas de Deus e pelas coisas do povo de Deus, são palavras o que se diz, são papéis os que se escrevem, mas não é a obra da graça o que ocorre.
Portanto estamos convocando a uma grande corrente de oração, o Papa nos entregou uma oração, um texto, estamo-la rezando em muitos lugares da América Latina. Muitas destas coisas que vocês vão se interessar as pode encontrar em uma pagina Web: http://br.celam.info, e aí encontram o documento de participação, ficha para o trabalho, também os distintos trabalhos. As conferências episcopais estão entregando fichas para o trabalho, para recolher elas mesmas primeira nas diocese e em seguida nas conferências episcopais as contribuições dos distintos grupos, já está ocorrendo graças a Deus, já chegou ao conhecimento de muitas gente este trabalho e já estão fazendo suas fichas.















