Introdução
228. A vinda do Espírito Santo em Pentecostes (c£ At 2,1-11) põe de manifeste a universalidade do mandato evangelizador: pre-tende chegar a toda cultura. Manifesta também a diversidade cultural dos fiéis, quando ouviam falar cada um dos apóstolos na sua própria língua.
Nasce a cultura com o mandato inicial de Deus aos seres huma-nos: crescer e multiplicar-se, encher a terra e submetê-1a (Gn 1,28-30). Dessa maneira a cultura é cultivo e expressão de todo o humano em relação amorosa com a natureza e na dimensão comunitária dos povos.
Quando Jesus Cristo, na encarnação, assume e exprime todo 0 humano, exceto o pecado, então o Verbo de Deus entra na cultura. Assim, Jesus Cristo é a medida de todo o humano e portanto também da cultura. Ele, que se encarnou na cultura de seu povo, traz para cada cultura histórica o dom da purificação e da plenitude. Todos os valores e expressões culturais que possam dirigir-se a Cristo promovem o autêntico humano. O que não passa pelo Cristo não poderá ficar redimido.
229. Por nossa adesão radical a Cristo no batismo, comprometemo-nos a fazer com que a fé, plenamente anunciada, pensada e vivida, chegue a fazer-se cultura. Assim, podemos falar de uma cultura cristã quando o sentir comum da vida de um povo tem sido penetrado interiormente, até "situar a mensagem evangélica na base de seu pensamento, nos seus princípios fundamentais de vida, nos seus critérios de juízo, nas suas normas de ação" (DI 24) e dali "projeta-se no ethos de um povo... nas suas instituições e em todas as estruturas" (ibid. 19).
Esta evangelização da cultura, que a invade até seu núcleo dinâ-mico, manifesta-se no processo de inculturação, que João Paulo II chamou de "centro, meio e objetivo da Nova Evangelização" (Discurso ao Conselho Internacional de Catequese, 26.9.92). Os autênticos valores culturais, discernidos e assumidos pela fé, são necessários para encarnar nessa mesma cultura a mensagem evangélica e a reflexão e práxis da Igreja.
A Virgem Maria acompanha os apóstolos quando o Espírito de Jesus ressuscitado penetra e transforma os povos das diversas culturas. Maria, que é modelo da Igreja, também é modelo da evangelização da cultura. É a mulher judia que representa o povo da Antiga Aliança com toda sua realidade cultural. Mas abre-se à novidade do Evangelho e está presente nas nossas terras como Mãe comum, tanto dos aborígines como daqueles que para cá vieram, propiciando desde o princípio a nova síntese cultural que é a América Latina e do Caribe.
230. Inculturação do Evangelho
Posto que "hoje em dia estamos diante de uma crise cultural de proporções inimagináveis" (DI 21) na qual vão desaparecendo valores evangélicos e ainda humanos fundamentais, apresenta-se à Igreja um desafio gigantesco para uma nova evangelização, ao qual se pretende responder com o esforço da inculturação do Evangelho. É necessário inculturar o Evangelho à luz dos três grandes mistérios da salvação: a Natividade, que mostra o cami-nho da Encarnação e move o evangelizador a partilhar sua vida com o evangelizado; a Páscoa, que conduz através do sofrimento à purificação dos pecados, para que sejam redimidos; e Pente-costes, que pela força do Espírito possibilita a todos entender, na sua própria língua, as maravilhas de Deus.
A inculturação do Evangelho é um processo que supõe reconhe-cimento dos valores evangélicos que se têm mantido mais ou menos puros na atual cultura; e o reconhecimento de novos valores que coincidem com a mensagem de Cristo. Mediante a inculturação, busca-se que a sociedade descubra o caráter cristão desses valores, os aprecie e os mantenha como tais. Além disso, pretende a incorporação de valores evangélicos que estão ausen-tes da cultura, ou porque se tenham obscurecido ou porque tenham chegado a desaparecer. "Pela inculturação, a Igreja en-carna o Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente in-troduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que de bom nelas existe, e renovando-as a partir de dentro" (RMi 52). A fé, ao se encarnar nessas culturas, deve corrigir seus erros e evitar sincretismos. A tarefa da inculturação da fé é própria das Igrejas particulares sob a direção dos seus pastores, com a par-ticipação de todo o povo de Deus. Os critérios fundamentais neste processo são a sintonia com as exigências objetivas da fé e a abertura à comunhão com a Igreja universal (cf. RMi 54).
3.1 Valores culturais: Cristo, medida de nossa conduta moral
231. - Criados à imagem de Deus, temos a medida de nossa conduta moral em Cristo, Verbo encarnado, plenitude do homem. Já a conduta ética natural, essencialmente ligada à dignidade huma-na e seus direitos, constitui a base para um diálogo com os não-crentes.
Pelo batismo nascemos a uma vida nova e recebemos a capaci-dade de nos aproximarmos do modelo que é Cristo. Caminhar em direção a Ele é a moral cristã; é a forma de vida própria do homem de fé, que com a ajuda da graça sacramental segue a Jesus Cristo, vive a alegria da salvação e abunda em frutos de caridade para a vida do mundo (cf. Jo 15; OT 16).
- Consciente da necessidade de seguir este caminho, o cristão se empenha na formação da própria consciência. Desta formação, tanto individual como coletiva, da maturidade de mentalidade, do seu sentido de responsabilidade e da pureza dos costumes depende o desenvolvimento e a riqueza dos povos (cf. DI 19). A moral cristã só se entende dentro da Igreja e se planifica na Eucaristia. Tudo o que nela podemos oferecer é vida; o que não se pode oferecer é o pecado.
Desafios pastorais
232. - Graças a Deus, na América Latina e no Caribe, há muita gente que segue com fidelidade a Jesus Cristo, mesmo em circuns-tâncias adversas. Todavia, observa-se na nossa realidade social o crescente desajuste ético-moral, em especial a deformação da consciência, a ética permissiva e uma sensível queda do sentido do pecado. Decresce o influxo da fé, perde-se o valor religioso, desconhece-se a Deus como sumo bem e último juiz. Diminui a prática do sacramento da reconciliação. É deficiente a apresen-tação do magistério moral da Igreja.
233. - A corrupção tem-se generalizado. Há um mau emprego dos recursos econômicos públicos; progridem a demagogia, o popu-lismo, a "mentira política" nas promessas eleitorais; burla-se a justiça, generaliza-se a impunidade e a comunidade se sente impotente e indefesa diante do delito. Com tudo isso, fomenta-se a insensibilidade social e o cepticismo ante a falta de aplicação da justiça, emitem-se leis contrárias aos valores humanos e cris-tãos fundamentais.
Não há uma eqüitativa distribuição dos bens da terra, abusa-se da natureza e se danifica o ecossistema.
234.-Fomentam-se a mentalidade e as ações contra a vida mediante campanhas anti-natalistas, de manipulação genética, do abomi-nável crime do aborto e da eutanásia. Muda-se o sentido da vida como conquista do forte sobre o fraco, que propicia ações de ódio e destruição, e impede a construção e o crescimento do homem.
235. - Assiste-se assim à crescente deterioração da dignidade hu-mana. Crescem a cultura da morte, a violência e o terrorismo, a toxicomania e o narcotráfico. Desnaturaliza-se a dimensão inte-gral da sexualidade humana, faz-se de homens e mulheres, inclu-sive de crianças, uma indústria de pornografia e prostituição; no âmbito da permissividade e promiscuidade sexual cresce o terrível mal da AIDS e aumentam as doenças venéreas.
236.-Introduz-se como norma de moralidade a chamada "ética civil ou cidadã", na base de um consenso mínimo de todos com a cultura reinante, sem necessidade de respeitar a moral natural e as normas cristãs. Observa-se uma "moral de situação" segundo a qual algo mau em si deixaria de sê-1o segundo as pessoas, circunstâncias e interesses em jogo. Freqüentemente os meios de comunicação social se fazem eco de todos estes critérios e os difundem.
Linhas pastorais
237. - Trabalhar na formação cristã das consciências e resgatar os valores perdidos da moral cristã. Voltar a tomar consciência do pecado (do pecado original e dos pecados pessoais) e da graça de Deus como força para poder seguir nossa consciência cristã.
Despertar em todos a experiência do amor que o Espírito Santo derrama nos corações, como força de toda Moral cristã.
238. - Zelar para que os meios de comunicação social nem manipu-lem nem sejam manipulados ao transmitir, sob pretexto de plu-ralismo, o que destrói o povo latino-americano. Fortalecer a unidade da família e sua influência na formação da consciência cristã.
239. - Apresentar a vida moral como um seguimento de Cristo, frisando a vivência das Bem-aventuranças e a freqüente prática dos sacramentos. Difundir as virtudes morais e sociais que nos convertam em homens novos, criadores de uma nova humani-dade. Este anúncio tem que ser vital e querigmático, especial-mente onde mais se houver introduzido o secularismo, apresentando na catequese a conduta cristã como o autêntico seguimento de Cristo. Cuidar que, no campo moral, a justa aplicação de critérios de gradualidade não diminua as exigências peremptórias da conversão.
240. - Favorecer a formação permanente dos bispos e presbíteros, dos diáconos, dos religiosos, religiosas e leigos, especialmente dos agentes de pastoral segundo o ensinamento do Magistério.
A liturgia deve expressar mais claramente os compromissos mo-rais que comporta. A religiosidade popular, especialmente nos Santuários, deve voltar-se para a conversão. É mister fomentar e facilitar o acesso ao sacramento da reconciliação.
241. - Quanto ao problema da droga, implementar ações de preven-ção na sociedade e de atenção e cura dos toxicômanos; denunciar com coragem os males que o vício e o tráfico da droga produzem em nossos povos, e o gravíssimo pecado que significa a sua produção, comercialização e consumo. Chamar especialmente a atenção sobre a responsabilidade dos poderosos mercados con-sumidores. Promover a solidariedade e a cooperação nacional e internacional no combate a este flagelo.
242. - Orientar e acompanhar pastoralmente os construtores da sociedade na formação de uma consciência moral em suas tarefas e na atuação política.
Estar sempre abertos ao diálogo com aqueles que guiam suas vidas por caminhos diferentes da ética cristã. Comprometer-nos efetivamente na consecução da justiça e da paz dos nossos povos.
3.2. Unidade e pluralidade das culturas indígenas, afro-americanas e mestiças
Iluminação teológica
243. - A ação de Deus, através do seu Espírito, dá-se permanente-mente no interior de todas as culturas. Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho Jesus Cristo, que assumiu as condições sociais e culturais dos povos e se fez "em tudo como nós, com exceção do pecado" (Hb 4,15; cf. GS 22).
- A analogia entre a encarnação e a presença cristã no contexto sócio-cultural e histórico dos povos suscita para nós o problema teológico da inculturação. Esta inculturação é um processo que vai do Evangelho ao coração de cada povo e comunidade com a mediação da linguagem e dos símbolos compreensíveis e apro-priados segundo o juízo da Igreja.
- Uma meta da Evangelização inculturada será sempre a salva-ção e libertação integral de um determinado povo ou grupo humano, que fortaleça sua identidade e confie em seu futuro específico, contrapondo-se aos poderes da morte, adotando a perspectiva de Jesus Cristo encarnado, que salvou a vida de todos partindo da fraqueza, da pobreza e da cruz redentora. A Igreja defende os autênticos valores culturais de todos os povos, espe-cialmente dos oprimidos, indefesos e marginalizados, diante da força esmagadora das estruturas de pecado manifestas na socie-dade moderna.
Desafios pastorais
244. - A América Latina e o Caribe configuram um continente multiétnico e pluricultural. Nele convivem, em geral, povos abo-rígines, afro-americanos, mestiços e descendentes de europeus e asiáticos, cada qual com sua própria cultura que os situa em sua respectiva identidade social, segundo a cosmovisão de cada povo. Eles buscam, porém, uma unidade a partir da identidade católi-ca.
245. - Os povos indígenas de hoje cultivam valores humanos de grande significação. Eles têm, nas palavras de João Paulo II, a certeza de que o mal se identifica com a morte e o bem com a vida" (João Paulo IIs Mensagem aos indígenas, 2). Estes valores e convicções são fruto das "sementes do Verbo" que estavam já presentes e atuastes nos seus antepassados, para que fossem descobrindo a presença do Criador em todas suas criaturas: o sol, a lua, a mãe terra etc. (cf. ibid.).
A Igreja, ao se encontrar com estes povos nativos, desde o princípio tratou de acompanha-los na luta pela própria sobrevi-vência, ensinando-lhes o caminho de Cristo Salvador, a partir da injusta situação de povos vencidos, invadidos e tratados como escravos. Na primeira evangelização, junto a enormes sofrimentos, houve grandes acertos e intenções pastorais valiosas, cujos frutos perduram até os nossos dias.
246. - As culturas afiro-americanas, presentes na América Latina e no Caribe, estão marcadas por uma constante resistência à escra-vidão. Estes povos, que somam milhões de pessoas, têm também nas suas culturas valores humanos que expressam a presença do Deus criador.
Durante os quatro séculos passados, é indubitável que vários milhões de africanos negros foram transportados como escravos, violentamente arrancados de suas terras, separados de suas famílias e vendidos como mercadoria. A escravidão dos negros e a matança dos índios foram o maior pecado da expansão colonial do Ocidente. Infelizmente, no que se refere à escravidão, ao racismo e à discriminação, houve batizados que não se mantive-ram alheios a essa situação.
247. - Como o assinalou vigorosamente o Documento de Puebla, nos povos que são fruto da mestiçagem racial, tem-se desenvol-vido uma cultura "mestiça" particular, na qual está muito vigente a religiosidade popular, como forma inculturada do catolicismo. Coexistem, no entanto, o descumprimento de deveres cristãos ao lado de admiráveis exemplos de vida cristã e um desco-nhecimento da doutrina ao lado de vivências católicas enraizadas nos princípios do Evangelho.
Nas expressões culturais e religiosas de camponeses e de habi-tantes das periferias urbanas, reconhece-se grande parte do patrimônio cristão do continente e uma fé arraigada dos valores do Reino de Deus.
Linhas pastorais: Evangelização incultura
248. - Depois de ter pedido perdão com o Papa aos nossos irmãos indígenas e afro-americanos "perante a infinita santidade de Deus, pelos fatos marcados pelo pecado, pela injustiça e pela violência" (Audiência geral, quarta feira 21 de outubro de 1991), queremos desenvolver uma evangelização inculturada:
1. Para com nossos irmãos indígenas:
- Oferecer o evangelho de Jesus com o testemunho de uma atitude humilde, compreensiva e profética, valorizando sua pala-vra através de um diálogo respeitoso, franco e fraterno e esfor-çar-nos por conhecer suas próprias línguas.
- Crescer no conhecimento crítico de suas culturas para apreciá-las à luz do Evangelho.
- Promover uma inculturação da liturgia, acolhendo com apreço seus símbolos, ritos e expressões religiosas compatíveis com o claro sentido da fé, mantendo o valor dos símbolos universais e em harmonia com a disciplina geral da Igreja.
- Acompanhar sua reflexão teológica, respeitando suas formula-ções culturais, que os auxiliem a dar razão de sua fé e de sua esperança.
- Crescer no conhecimento de sua cosmovisão, que faz da globa-lidade de Deus, homem e mundo, uma unidade que impregna todas as relações humanas, espirituais e transcendentais.
- Promover nos povos indígenas seus valores culturais autóctones mediante uma inculturação da Igreja, para atingir uma maior realização do Reino.
249. 2. Para com nossos irmãos afro-americanos:
- Conscientes do problema da marginalização e do racismo que pesa sobre a população negra, a Igreja, na sua missão evangeli-zadora, quer participar dos seus sofrimentos e acompanhá-los em suas legítimas aspirações em busca de uma vida mais justa e digna para todos (cf. ibid.).
- Pela mesma razão, a Igreja na América Latina e no Caribe quer apoiar os povos afro-americanos na defesa de sua identidade e no reconhecimento de seus próprios valores; como também ajudá-los a manter vivos seus usos e costumes compatíveis com a doutrina cristã (Discurso do Papa João Paulo II aos Afro-ame-ricanos em Santo Domingo).
- Da mesma forma, comprometemo-nos a dedicar especial aten-ção à causa das comunidades afro-americanas no campo pasto-ral, favorecendo a manifestação das expressões religiosas pró-prias de suas culturas (ibid.).
250. 3. Desenvolver a consciência da mestiçagem, não só a nível racial mas também cultural, que caracteriza as grandes maiorias em muitos dos nossos povos, pois está vinculada à inculturação do Evangelho.
Promoção humana das etnias
251. Para uma autêntica promoção humana, a Igreja quer apoiar os esforços que estes povos fazem para ser reconhecidos como tais pelas leis nacionais e internacionais, com pleno direito à terra, às suas próprias organizações e vivências culturais, a fim de garantir o direito que têm de viver segundo sua identidade, sua própria língua e seus costumes ancestrais, e de se relacionar com plena igualdade com todos os povos da terra.
Portanto assumimos os seguintes compromissos:
- Superar a mentalidade e a práxis do desenvolvimento induzido do exterior, em favor do autodesenvolvimento, a fim de que estes povos sejam artífices do seu próprio destino.
- Contribuir eficazmente para deter e erradicar as políticas tendentes a fazer desaparecer as culturas autóctones como meios de forçada integração; ou pelo contrário, políticas que queiram manter os indígenas isolados e marginalizados da realidade na-cional.
- Impulsionar a plena vigência dos direitos humanos dos indíge-nas e afro-americanos, incluindo a legítima defesa de suas terras. - Como um gesto concreto de solidariedade em favor dos cam-poneses, indígenas e afro-americanos, apoiar a Fundação Popu-lorum Progressio, instituída pelo Santo Padre.
- Rever completamente nossos sistemas educacionais, para eli-minar definitivamente todo aspecto discriminatório no que diz respeito a métodos educativos, volume e investimento de recur-sos.
- Fazer o possível para que se garanta aos indígenas e afro-americanos uma educação adequada a suas respectivas culturas, começando inclusive com a alfabetização bilingüe.
Situação
252. - Embora realidade pluricultural, a América Latina e o Caribe estão profundamente marcados pela cultura ocidental, cuja memória, consciência e projeto se apresentam sempre no nosso predominante estilo de vida comum. Daí o impacto que a cultura moderna e as possibilidades a nós oferecidas por seu período pós-moderno produziram em nossa maneira de ser.
A cultura moderna se caracteriza pela centralidade do homem; os valores da personalização, da dimensão social e da convivência; a absolutização da razão, cujas conquistas científicas e tecnológicas e informáticas têm satisfeito muitas das necessidades do homem, ao mesmo tempo que têm buscado uma autonomia em relação à natureza, a qual domina; em relação à história, cuja construção ele assume; e inclusive em relação a Deus, do qual se desinteressa ou relega à consciência pessoal, privilegiando exclusivamente a ordem temporal.
- A pós-modernidade é o resultado do fracasso da pretensão reducionista da razão moderna, que leva o homem a questionar tanto alguns êxitos da modernidade como a confiança no progresso indefinido, embora reconheça, como o faz também a Igreja (GS 57), seus valores.
- Tanto a modernidade, com seus valores e contravalores, como a pós-modernidade enquanto espaço aberto à transcendência, apresentam sérios desafios à evangelização da cultura.
Desafios pastorais
253. - Ruptura entre fé e cultura, conseqüência do fechamento do homem moderno à transcendência, e da excessiva especialização que impede a visão de conjunto.
- Escassa consciência da necessidade de uma verdadeira inculturação como caminho para a evangelização da cultura.
- Incoerência entre os valores do povo, inspirados em princípios cristãos, e as estruturas sociais geradoras de injustiças, que im-pedem o exercício dos direitos humanos.
- O vazio ético e o individualismo reinante, que reduzem a fundamentação dos valores a meros consensos sociais subjetivos. - O poder massivo dos meios de comunicação social, com fre-qüência a serviço de contravalores.
- A escassa presença da Igreja no campo das expressões domi-nantes da arte, do pensamento filosófico e antropológico-social, no universo da educação.
- A nova cultura urbana, com seus valores, expressões e estrutu-ras características, com seu espaço aberto e, ao mesmo tempo, diversificado, com sua mobilidade, em que predominam as rela-ções funcionais.
Linhas pastorais
254. - Apresentar Jesus Cristo como paradigma de toda atitude pessoal e social, e como resposta aos problemas que afligem às culturas modernas: o mal, a morte, a falta de amor.
- Intensificar o diálogo entre fé e ciência, fé e expressões, fé e instituições, que são grandes âmbitos da cultura moderna.
- Cuidar dos sinais e da linguagem cultural que assinala a pre-sença cristã e permite introduzir a originalidade da mensagem evangélica no coração das culturas, especialmente no campo da liturgia.
- Promover e formar o laicado para exercer no mundo sua tríplice função: a profética, no campo da Palavra, do pensamento, de sua expressão e valores; a sacerdotal no mundo da celebração e do sacramento, enriquecida pelas expressões da arte, e da comuni-cação; a régia no universo das estruturas sociais, políticas, eco-nômicas.
- Promover o conhecimento e discernimento da cultura moderna visando a uma adequada inculturação.
Desafios pastorais
255. - A América Latina e o Caribe acham-se hoje num processo acelerado de urbanização. A cidade pós-industrial não repre-senta só uma variante do tradicional habitat humano, mas cons-titui, de fato, a passagem da cultura rural à cultura urbana, sede e motor da nova civilização universal (cf. P 429). Nela altera-se a forma com a qual num grupo social, num povo, numa nação, os homens cultivam sua relação consigo mesmo, com os outros, com a natureza e com Deus.
- Na cidade, as relações com a natureza se limitam, quase sempre e pelo próprio ser da cidade, ao processo de produção de bens de consumo. As relações entre as pessoas se tornam amplamente funcionais e as relações com Deus passam por uma acentuada crise, porque falta a mediação da natureza tão importante na religiosidade rural e porque a modernidade tende a fechar o homem dentro da imanência do mundo. As relações do homem urbano com ele mesmo também mudam, porque a cultura moderna faz com que valorize principalmente sua liberdade, sua autonomia, a racionalidade científico-tecnológica e, de modo geral, sua subjetividade, sua dignidade humana e seus direitos. Com efeito, na cidade encontram-se os grandes centros geradores da ciência e tecnologia moderna.
- Nossas metrópoles latino-americanas têm também como característica atual periferias de pobreza e miséria, que quase sempre constituem a maioria da população, fruto de modelos econômicos exploradores e excludentes. Até o campo se urbaniza pela multiplicação das comunicações e transportes.
- Por sua vez, o homem urbano atual apresenta um tipo diverso do homem rural: confia na ciência e na tecnologia; é influenciado pelos grandes meios de comunicação social; é dinâmico e projetado em direção do novo; consumiste, audiovisual, anônimo na massa e desarraigado.
Linhas pastorais
256. - Realizar uma pastoral urbanamente inculturada com relação à catequese, à liturgia, e à organização da Igreja. A Igreja deverá inculturar o Evangelho na cidade e no homem urbano, discernir seus valores e antivalores; captar sua linguagem e seus símbolos. O processo de inculturação abrange o anúncio, a assimilação e a reexpressão da fé.
257. - Reprogramar a paróquia urbana. A Igreja na cidade deve reorganizar as suas estruturas pastorais. A paróquia urbana deve ser mais aberta, flexível e missionária, permitindo uma ação pastoral transparoquial e supraparoquial. Além disso, a estrutura da cidade exige uma pastoral especialmente pensada para essa realidade. Lugares privilegiados da missão deveriam ser as gran-des cidades, onde surgem novas formas de cultura e comuni-cação.
258. - Promover a formação de leigos para a pastoral urbana, com formação bíblica e espiritual; criar ministérios conferidos aos leigos para a evangelização das grandes cidades.
259. - Multiplicar as pequenas comunidades, os grupos e movimen-tos eclesiais, e as comunidades eclesiais de base. Iniciar a chama-da "pastoral dos edifícios", mediante a ação de leigos comprometidos que vivam neles.
260. - Programar uma pastoral ambiental e funcional, diferenciada segundo os espaços da cidade. Uma pastoral de acolhida, dado o fenômeno das migrações. Uma pastoral para os grupos margi-nalizados. Assegurar a assistência religiosa aos habitantes das grandes cidades durante os meses de verão e férias; dispensar atenção pastoral aos que passam habitualmente os fins de sema-na fora da cidade, onde não têm possibilidade de cumprir o preceito dominical.
261. - Incentivar a evangelização dos grupos de influência e dos responsáveis da cidade, no sentido de fazer da mesma, principal-mente nos bairros populares, um habitat digno do homem.
262.-Promover no âmbito continental (CELAM), nacional e regio-nal, encontros e cursos sobre evangelização das grandes metró-poles.
3.4 A ação educativa da Igreja
Iluminação teológica
263. - Reafirmamos o que dissemos em Medellín e Puebla (cf. Documento de educação, Medellín, Puebla) e a partir dali assi-nalamos alguns aspectos importantes para a educação católica nos nossos dias.
- A educação é a assimilação da cultura. A educação cristã é a assimilação da cultura cristã. F a inculturação do Evangelho na própria cultura. Seus níveis são bem diversos, podem ser escola-res ou não escolares, elementares ou superiores, formais ou não-formais. Em todo caso, a educação é um processo dinâmico que dura a vida toda da pessoa e dos povos. Recolhe a memória do passado, ensina a viver hoje e se projeta para o futuro. Por isto, a educação cristã é indispensável na nova evangelização.
264. - A educação cristã desenvolve e assegura a cada cristão a sua vida de fé e faz com que verdadeiramente nele sua vida seja Cristo (cf. F1 1,21). Por ela, ecoam no homem as "palavras de vida eterna" (Jo 6,68), realiza-se em cada pessoa a "nova criatura" (2 Cor 5,17) e se leva a cabo o projeto do Pai de "recapitular em Cristo todas as coisas" (Et 1,10). Assim a educação cristã se funda numa verdadeira antropologia cristã que significa a abertura do homem para Deus como Criador e Pai, para os outros como seus irmãos, e para o mundo como àquilo que lhe foi entregue para potenciar suas virtualidades e não para exercer sobre ele um domínio despótico que destrua a natureza.
265. - Nenhum mestre educa sem saber para que educa e em que direção educa. Há um projeto de homem encerrado em qualquer projeto educativo; e este projeto vale ou não segundo construa ou destrua o educando. Este é o valor educativo. Quando falamos de uma educação cristã, queremos dizer que o mestre educa para um projeto de homem no qual viva Jesus Cristo.
Há muitos aspectos nos quais educar e muitos que constam do projeto educativo do homem; há muitos valores; mas estes valores nunca estão sós, sempre formam uma constelação ordenada explicita ou implicitamente. Se a estruturação tem como fundamento e termo a Cristo, tal educação recapitulará tudo em Cristo e será uma verdadeira educação cristã; caso contrário, pode falar de Cristo, mas não é educação cristã.
- O mestre cristão deve ser considerado como sujeito eclesial que evangeliza, que catequiza e educa cristãmente. Tem uma identidade definida na comunidade eclesial. Seu papel deve ser reconhecido na Igreja.
266. - Na situação atual encontramos uma pluralidade de valores que nos interpelam e que são ambivalentes. Daí surge a necessidade de confrontar os novos valores educacionais com Cristo revelador do mistério do homem. Na nova educação, trata-se de fazer crescer e amadurecer a pessoa segundo as exigências dos novos valores; a isto deve agregar-se a harmonização com a tipologia própria do contexto latino-americano.
- Geralmente nos pedem, com base em critérios secularistas, que eduquemos o homem técnico, o homem apto para dominar seu mundo e viver num intercâmbio de bens produzidos sob certas normas políticas; as mínimas. Esta realidade nos interpela fortemente para podermos ser conscientes de todos os valores que estão nela e podê-los recapitular em Cristo; interpela-nos para continuar a linha da Encarnação do Verbo na nossa educação cristã, e para chegar ao projeto de vida para todo homem, que é Cristo morto e ressuscitado.
Desafios pastorais
267. - A partir de outros aspectos a realidade latino-americana nos interpela pela exclusão de muita gente da educação escolar, mesmo a básica, pelo grande analfabetismo que existe em vários dos nossos países; interpela-nos pela crise da família, a primeira educadora, pelo divórcio existente entre o Evangelho e a cultura; pelas diferenças sociais e econômicas que fazem com que para muitos seja dispendiosa a educação católica, especialmente nos níveis superiores.
Interpela-nos também a educação informal que se recebe através de tantos comunicadores não propriamen-te cristãos, p.ex., na televisão.
268.-Um grande desafio é a Universidade católica e a Universidade de inspiração cristã, já que o seu papel é especialmente o de realizar um projeto cristão de homem e portanto, tem de estar em diálogo vivo, contínuo e progressivo com o Humanismo e com a cultura técnica, de maneira que saiba ensinar a autêntica Sabedoria cristã pela qual o modelo de "homem trabalhador", aliado ao de "homem sábio", culmine em Jesus Cristo. Só assim poderá apontar soluções para os complexos problemas não re-solvidos da cultura emergente e para as novas estruturações sociais, como a dignidade da pessoa humana, os direitos inviolá-veis da vida, a liberdade religiosa, a família como primeiro espaço para o compromisso social, a solidariedade nos seus distintos níveis, o compromisso próprio de uma sociedade democrática, a complexa problemática econômico-social, o fenômeno das seitas, a velocidade da mudança cultural.
269. - No campo escolar, outro desafio é o que representa em vários países o espinhoso problema das relações entre a educação estatal e a educação cristã. Embora em outras nações se tenha produzido uma maior viabilidade das mesmas, há países em que ainda não se compreende que a educação católica é um direito inalienável dos pais católicos e dos seus filhos e neles não se recebem os recursos necessários para ela, ou simplesmente é proibida.
270. - Outros desafios significativos são a ignorância religiosa da juventude, a educação extra-escolar e a educação informal. Tam-bém é um desafio a educação adequada às diferentes culturas, em especial às culturas indígenas e afro-americanas; não só no sentido de que não se adapta à sua maneira de ser, mas no de não marginalizá-las nem excluí-las do progresso, da igualdade de oportunidades e da capacidade de construir a unidade nacional.
Linhas pastorais
271. - Nossos compromissos no campo educacional se resumem, sem dúvida, à linha pastoral da inculturação: a educação é a mediação metodológica para a evangelização da cultura. Portan-to pronunciamo-nos por uma educação cristã desde e para a vida no âmbito individual, familiar e comunitário e no âmbito do ecossistema; que fomente a dignidade da pessoa humana e a verdadeira solidariedade; educação a ser integrada por um pro-cesso de formação cívico-social inspirado no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja. Comprometemo-nos com uma educação evangelizadora.
272.-Apoiamos os pais de família para que decidam de acordo com suas convicções o tipo de educação para seus filhos e denuncia-mos todas as intromissões do poder civil que coorte este direito natural. Deve garantir-se o direito da formação religiosa para cada pessoa, e, portanto, o do ensino religioso nas escolas em todos os níveis.
273. - Apoiamos os educadores cristãos que trabalham em institui-ções da Igreja, as congregações que se dedicam ao trabalho educativo e os professores católicos que trabalham em institui-ções não católicas. Devemos promover a formação permanente dos educadores católicos no que concerne ao crescimento de sua fé e à capacidade de comunicá-1a como verdadeira Sabedoria, especialmente na educação católica.
274. - Urge uma verdadeira formação cristã sobre a vida, o amor, a sexualidade, que corrija os desvios de certas informações que se recebem nas escolas. Urge uma educação para a liberdade, um dos valores fundamentais da pessoa. É também necessário que a educação cristã se preocupe de educar para o trabalho, especi-almente nas circunstâncias da cultura atual.
275. - Os carismas das ordens e congregações religiosas, postos a serviço da educação católica nas diversas igrejas particulares do nosso Continente, nos auxiliam sobremodo a cumprir o mandato recebido do Senhor de ir e ensinar a todas as gentes (Ml 28,18-20), especialmente na evangelização da cultura. Conclamamos os religiosos e religiosas que abandonaram este campo tão impor-tante da educação católica a que se reincorporem à sua tarefa; recordando que a opção preferencial pelos pobres inclui a opção preferencial pelos meios a que as pessoas saiam da sua miséria, e um dos meios privilegiados para isto é a educação católica. A opção preferencial pelos pobres se manifesta também em que os religiosos educadores continuem seu trabalho educativo em tan-tas regiões rurais tão afastadas como necessitadas.
276. - Devemos também nos esforçar para que a educação católica escolar em todos seus níveis esteja ao alcance de todos e não se veja restrita a alguns, mesmo em vista dos problemas econômicos que isso implica. Deve-se promover a responsabilidade da comu-nidade paroquial na escola e sua gestão. Pedimos que se garan-tam os recursos públicos destinados à educação católica. Cremos particularmente que a universidade católica, a partir da Constituição apostólica Ex carde Ecclesiae, é chamada a uma importante missão de diálogo entre o Evangelho e as culturas e de promoção humana na América Latina e Caribe.
277. - Cientes da extensão planetária da cultura atual formaremos a partir da educação católica e em todo nível uma consciência crítica diante dos meios de comunicação social. Urge dotar a família de critérios de verdade para capacitá-1a para o uso da TV, da imprensa e do rádio.
278. - Transformar a escola católica numa comunidade que seja centro de irradiação evangelizadora, mediante alunos, pais e mestres. Empenhamo-nos em fortalecer a comunidade educativa e nela um processo de formação cívico-social, inspirado no Evan-gelho e no magistério social da Igreja que responda às verdadei-ras necessidades do povo. Reforça-se-á outrossim a organização dos estudantes, docentes, pais de alunos e ex-alunos, como mé-todo de educação cívico-social e política que possibilite a formação democrática das pessoas. Solicitamos aos governos que sigam em seus esforços para promover cada vez mais a democratização da educação.
3.5 Comunicação social e cultura
Iluminação teológica
279.-A evangelização, anúncio do Reino, é comunicação, para que vivamos em comunhão (cf. P 1063): "O que vimos e ouvimos vo-1o anunciamos para que estejais também em comunhão co-nosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo" (1Jo 1,3). Cada pessoa e cada grupo humano desenvolve sua identidade no encontro com os outros (alteridade). Esta comunicação é caminho necessário para chegar à comunhão (comunidade). A razão é que o homem foi feito à imagem de Deus Uno e Trino, e no coração da Revelação encontramos seu mistério trinitário como a comunicação eternamente interpes-soal, cuja palavra se faz diálogo, entra na história por obra do Espírito e inaugura assim um mundo de novos encontros, inter-câmbios, comunicação e comunhão. Esta comunicação é impor-tante não só com o mundo, mas também ao interior da Igreja.
- No gesto de comunicação do Pai, através do Verbo feito carne, "a palavra se faz libertadora e redentora para toda a humanidade na pregação e na ação de Jesus. Este ato de amor pelo qual Deus se revela, associado à resposta de fé da humanidade, gera um diálogo profundo" (AN 6).
Assim Cristo é o modelo de comunicador, n'Ele, Deus, o totalmente Outro, sai ao nosso encontro e espera nossa resposta livre. Este encontro de comunhão com Ele é sempre crescimento. É o caminho da santidade.
- Assim dá-se uma relação muito íntima entre evangelização, promoção humana e cultura, fundada na comunicação, o que impõe à Igreja tarefas e desafios concretos no campo da comunicação social. Disse-o o Papa no discurso inaugural desta Conferência: "Intensificar a presença da Igreja no mundo da comunicação há de ser certamente uma das vossas prioridades" (DI 23).
- Sabemos que nos encontramos na nova cultura da imagem, e que a Mensagem evangélica deve inculturar-se nessa cultura, levando-a a ser expressão de Cristo, a máxima comunicação.
Compreendemos a importância dos inumeráveis meios eletrônicos que agora estão ao nosso alcance para anunciar o Evangelho. Damos graças a Deus por este novo dom que nos deu na cultura atual.
Desafios pastorais
280.- O desenvolvimento tecnológico em matéria de comunicações, especialmente na televisão oferece à evangelização amplas perspectivas de comunicação nos mais diversos níveis e facilita à sociedade, em geral, uma interrelação também planetária. Este é um fato positivo, mas também no contexto atual apresenta desafios muito sérios pela orientação secularista de muitas programações.
Damo-nos conta do desenvolvimento da indústria da comunicação na América Latina e Caribe que mostra o crescimento de grupos econômicos e políticos que concentram cada vez mais em poucas mãos e com enorme poder a propriedade dos diferentes meios e chegam a manipular a comunicação, impondo uma cultura que estimula o hedonismo e o consumismo e atropela nossas culturas com os seus valores e identidades.
- Vemos como a publicidade freqüentemente introduz falsas expectativas e cria necessidades fictícias; vemos também como especialmente na programação televisiva sobejam a violência e a pornografia que penetram agressivamente no seio das famílias. Também constatamos que as seitas fazem uso cada vez mais intensivo e extensivo dos meios de comunicação.
- Por outro lado, a presença da Igreja no sistema de meios é ainda insuficiente e se carece de suficientes agentes com a preparação devida para enfrentar o desafio; além disso, falta por parte dos diferentes episcopados um adequado planejamento da pastoral das comunicações.
A telemática e a informática são novos desafios para a integração da Igreja no seu mundo.
Linhas pastorais
281. - Apoiar e estimular os esforços daqueles que, com o uso dos meios defendem a identidade cultural, assumem o desafio do encontro com realidades novas e distintas e procuram que se dê lugar a um diálogo autêntico. Articular a comunicação massiva com a comunitária e grupai.
Esforçar-se para ter meios próprios e ao menos uma produtora de vídeo a serviço da América Latina e do Caribe.
282. - Ajudar a discernir e orientar as políticas e estratégias da comunicação, que devem encaminhar-se a criar condições para o encontro entre as pessoas, para a vigência de uma autêntica e responsável liberdade de expressão, para fomentar os valores culturais próprios e para buscar a integração latino-americana.
283. - Dar aos profissionais católicos da comunicação o apoio suficiente para cumprir sua missão. Procurar uma crescente relação de comunhão eclesial com as organizações internacionais (OCIC-AL, UNDA-AL, UCLAP) "cujos membros podem ser colaboradores valiosos e competentes das Conferências episco-pais e dos diferentes bispos" (AN 17). As comissões episcopais de comunicação de cada país e o próprio DECOS-CELAM e o SERTAL hão de aumentar e melhorar sua presença neste cam-po.
284. - Deve-se pôr todo empenho na formação técnica, doutrinal e moral de todos os agentes de pastoral que trabalham em e com os meios de comunicação social. Ao mesmo tempo, é necessário um Plano de educação orientado para a percepção crítica, espe-cialmente nos lares, como para a capacidade de utilizar ativa e criativamente os meios e sua linguagem, empregando os símbolos culturais do nosso povo.
285. - É necessário levar as Universidades católicas a oferecer formação do melhor nível humano, acadêmico e profissional em comunicação social. Nos seminários e casas de formação religio-sa se ensinarão as linguagens e técnicas de comunicação, que garantam uma preparação sistemática suficiente.
É hoje imprescindível usar a informática para otimizar nossos recursos evangelizadores. Deve-se avançar na instalação da rede de informática da Igreja nas diferentes Conferências episcopais.
286. - Que as editoras católicas ajam coordenadamente
dentro da pastoral orgânica.















