23 de out de 2025 às 12:13
O papa Leão XIV e o rei Carlos III da Inglaterra rezaram lado a lado, marcando a primeira vez desde a reforma protestante que um monarca britânico reinante e chefe da Igreja da Inglaterra, e um papa rezaram juntos numa visita de estado real ao Vaticano.
O papa liderou a oração do meio-dia do Ofício Divino, de pé sob o afresco O Juízo Final, de Michelangelo, ao lado do arcebispo de York, Stephen Cottrell, da Igreja da Inglaterra, pelo rei Carlos III e pela rainha Camilla.
O culto ecumênico teve a presença do coro da Capela Sistina, junto com os coros da capela de São Jorge no castelo de Windsor e da capela real de Sua Majestade.
Os coros cantaram Come, Holy Ghost, Who Ever One (Vem, Espírito Santo, Quem Sempre Um), um hino de santo Ambrósio traduzido para o inglês por são João Henrique Newman. O papa Leão XIV vai declarar são Newman, cardeal inglês do século XIX e convertido do anglicanismo ao catolicismo, doutor da Igreja em 1º de novembro.
O rei Carlos III compareceu à canonização de são Newman em 2019 e recentemente foi o primeiro monarca britânico a visitar o oratório de Birmingham, fundado por Newman em 1848.
Na oração, os coros cantaram versos dos Salmos 8 e 64 em latim e em inglês. Uma leitura da carta de são Paulo aos Romanos (cf. Rm 8,22-27) foi lida em voz alta antes de o papa Leão XIV e Cottrell proferirem juntos a oração de encerramento em inglês.
Cardeais, bispos e representantes anglicanos compareceram ao culto, que foi o destaque da primeira visita de Estado do rei Carlos III à Santa Sé desde sua ascensão ao trono em 2022.
Como parte da visita de Estado, o papa Leão XIV aprovou a outorga de um título ao monarca: Real Confrade da basílica papal de São Paulo Fora dos Muros. O cardeal James Michael Harvey, arcipreste da basílica, concederá formalmente a honraria num culto ecumênico à tarde no túmulo de são Paulo apóstolo.
Em troca, foi oferecido ao papa Leão XIV o título de Confrade Papal da capela de São Jorge no castelo de Windsor, na Inglaterra, um convite que o papa aceitou.
“Esses presentes mútuos de confraternidade são reconhecimentos de companheirismo espiritual e são profundamente simbólicos da jornada que a Igreja da Inglaterra (da qual Sua Majestade é governador supremo) e a Igreja Católica Romana percorreram nos últimos 500 anos”, disse a embaixada britânica junto à Santa Sé.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Antes da cerimônia, o rei Carlos III e a rainha-consorte Camila tiveram uma audiência privada com o papa Leão XIV no Palácio Apostólico, no Vaticano. O rei também se encontrou com o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, e o ministro das Relações Exteriores da Santa Sé, arcebispo Paul Gallagher. A Santa Sé disse que as discussões se concentraram na proteção ambiental, no combate à pobreza e na promoção do diálogo ecumênico.
“Foi dada especial atenção ao compromisso compartilhado de promover a paz e a segurança diante dos desafios globais”, disse a Sala de Imprensa da Santa Sé.
O rei Carlos III também conferiu ao papa a honra de Cavaleiro da Grande Cruz da Ordem de Bath. Leão XIV conferiu ao rei a honra de Cavaleiro da Grande Cruz com o Colar da Ordem do Vaticano do Papa Pio IX e à rainha Camilla a honra de Dama da Grande Cruz da mesma ordem.
O palácio de Buckingham disse que a visita de Estado do rei, adiada no início deste ano por causa da saúde precária do papa Francisco, celebra o Ano Jubilar 2025 da Igreja e "o trabalho ecumênico entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja Católica, refletindo o tema do ano jubilar de caminhar juntos como peregrinos da Esperança".
Depois da cerimônia na Capela Sistina, o papa Leão XIV e o rei Carlos III se encontraram com líderes empresariais e religiosos na Sala Régia, no Palácio Apostólico, para uma discussão sobre sustentabilidade ambiental e cuidado com a criação.
Depois das reuniões no Vaticano, o rei Carlos III visita a basílica de São Paulo Fora dos Muros, reavivando os laços históricos entre a Inglaterra e a basílica papal. Depois da chegada à Inglaterra de monges missionários romanos, como santo Agostinho de Cantuária e são Paulino de York, nos séculos VI e VII, governantes saxões, como os reis Offa e Etelvulfo, contribuíram para a manutenção dos túmulos dos apóstolos em Roma.
No fim da idade média, os reis da Inglaterra eram reconhecidos como "protetores" da basílica de São Paulo e da abadia, e seu escudo heráldico passou a ter a insígnia da Ordem da Jarreteira. Essa tradição foi interrompida pela reforma protestante e pelos séculos de distanciamento que se seguiram.
Uma cadeira recém-encomendada com o brasão real e a frase em latim Ut unum sint (Que sejam um) foi instalada na basílica de São Paulo Fora dos Muros para que o rei Carlos III e seus sucessores a usem em futuras visitas.
O rei Carlos III visitou o Vaticano várias vezes como Príncipe de Gales, inclusive para o funeral do papa são João Paulo II em 2005 e para a canonização de são João Henrique Newman em 2019. Sua audiência papal mais recente foi com o papa Francisco em abril deste ano, pouco antes da morte do papa argentino, embora não tenha sido uma visita oficial de Estado.







