22 de ago de 2025 às 15:51
O missionário leigo Fernando Gutiérrez acaba de completar uma peregrinação a pé de dez meses da Espanha até Belém, convencido de que a solução para todos os problemas está em olhar para o Menino Jesus.
Ele disse isso à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, poucas horas depois de sua chegada à cidade onde o Filho de Deus nasceu há cerca de dois milênios.
Na conversa, o missionário falou sobre a peregrinação: “O Senhor logo me ensinou que a usaria como instrumento para levar muitas almas e muitos olhos a Belém”, convencido de que “a solução para todos os problemas do mundo está em olhar para o Menino que nasceu em Belém”.
Somo “chamados a nos posicionar com Jesus, nunca de nenhum lado desta sociedade ou deste mundo que nos polariza, que nos empurra, às vezes agressivamente, a nos posicionar de um lado ou de outro”, disse. “O nosso lugar, apesar do que dizem e do que nos atacam, é em Jesus”.
Em 12 de outubro, Fernando Gutiérrez partiu do santuário de Santo Toribio de Liébana, onde se encontra o maior lignum crucis (lenho ou madeira da Cruz) do mundo, e iniciou sua jornada sob o lema "da Cruz para a vida". Foram dez meses de jornada, enquanto ele se esforça para refletir sobre os próximos passos em sua dedicação ao Senhor.
A experiência profissional de Fernando como jornalista o levou a desenvolver uma sensibilidade especial pela proteção de crianças em Melilla e em Gaza, onde passou anos como correspondente de guerra.
Aos 30 anos, depois de uma confissão, foi para a Índia viver com a congregação fundada por santa Teresa de Calcutá e ingressou no seminário das Missionárias da Caridade. Quatro anos depois, depois de intenso discernimento, deixou a comunidade rumo ao Quênia, onde fundou a missão Mary's Children (Crianças de Maria), dedicada a proteger a vida de crianças e mães numa favela próxima a um lixão.
A peregrinação começa agora
“Desde muito jovem, ouvi dizer que devemos levar a vida a sério e, em parte, isso é verdade”, diz o missionário. Ele disse que sempre se lembra do que dizia santa Teresa de Calcutá: “As crianças devem ser muito importantes se o próprio Deus Se fez criança”.
“Há muito, ouso dizer, de teológico nas crianças que precisa ser descoberto”, disse. “As crianças são muito especiais no plano de Deus e nos ensinam muito”.
A primeira coisa que ele fez ao chegar em Belém foi visitar instituições de acolhimento de crianças antes de dedicar um tempo para refletir sobre o futuro de sua missão na Terra Santa: "Tenho no coração que ficarei aqui por um tempo".
Não foi à toa que ele iniciou essa jornada até o lugar onde o Salvador nasceu: "O chamado que senti foi o de encontrar respostas para a missão de vida que iniciamos no Quênia há três anos. Pois bem, é sobre isso que o Senhor e eu vamos conversar em Belém nestes dias".
Por enquanto, Fernando já disse à ACI Prensa que está considerando a presença dos Filhos de Maria na Terra Santa, onde espera levar uma réplica de Nossa Senhora da Vida no próximo Natal.
“A peregrinação começa agora, e começa assim, confiando no que Deus nos trará”, diz ele.
Um deserto pela falta da Eucaristia
Ao longo da jornada, Fernando viveu momentos de acolhida, alegria, encontro fraterno e oração, mas também momentos de deserto espiritual, principalmente na parte final da peregrinação.
"Recuperei-me um pouco depois de deixar Medjugorje e começar em Montenegro”, diz ele. “Na Albânia, recuperei-me um pouco graças às Missionárias da Caridade e ao Caminho Neocatecumenal, que é muito presente na Albânia, e isso me salvou".
Na Grécia, a falta de igrejas católicas o levou a navegar “por um deserto complicado em termos de aceitação, de encontrar a Eucaristia”, que só encontrou “numa cidade, e em Patras, onde está santo André”.
Nessas circunstâncias, Fernando experimentou uma iluminação espiritual, na qual trabalhou e através da qual entendeu por que o Senhor lhe “propôs essa loucura", diz ele.
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Tentações ao longo do caminho
Sua longa peregrinação não foi isenta de tentações e interrupções. Questões bancárias inevitáveis no Quênia exigiram a presença de Fernando enquanto ele estava em Montpellier, França. Ele voltou à África e logo retomou sua jornada.
Mais tarde, outras tentações surgiram, como uma visita a Madri ou um retorno à África para ajudar a organizar os voluntários da missão em junho e julho.
“Permaneci firme e entendi que o Senhor queria que continuássemos a batalha, que continuássemos juntos e que nunca mais nos distraíssemos ao longo do caminho”, disse ele à ACI Prensa.
Entrega total na Quinta-feira Santa
Ao longo do caminho, Fernando viveu muitas iluminações espirituais.
“Talvez o dia mais importante tenha sido em Veneza, a Quinta-feira Santa. Na noite da Quinta-feira Santa, tive uma noite muito intensa de oração e compreensão do que estava acontecendo e do que o Senhor estava fazendo, a entrega total de Si mesmo, aquela entrega total de Jesus no Getsêmani. Ele me deu o presente de vivê-la um pouco ao Seu lado e de vivê-la com tanta intensidade que olhei para trás e me perguntei se eu estava realmente me entregando por inteiro”.
Por outro lado, diz ele, também tem “trabalhado um pouco no discernimento da missão”, na “vocação pessoal dentro da missão”, tarefa que continuará em Belém.
"O que tenho que colocar no papel agora, quando chegar a Belém, é escrever alguns estatutos como uma associação no Quênia, como uma fundação, se seremos leigos consagrados, famílias consagradas...", diz também Gutiérrez.
A solução entre Israel e o Hamas é que eles conheçam Jesus
Esta não é a primeira vez que Fernando visita a Terra Santa, e ele está bem ciente do sofrimento de seus habitantes — judeus, cristãos e muçulmanos — devido a divisões, mal-entendidos e guerras.
“Sempre acreditei, e sempre acreditarei, que a solução é que eles conheçam Jesus”, diz ele a partir de sua experiência. “Que as partes em conflito, sejam elas quem forem, aceitem que são irmãos e irmãs e a mensagem de Jesus de amor mútuo”.
Até que o Estado de Israel e os terroristas do Hamas aceitem isso, disse Gutiérrez, "não haverá possibilidade de encontro".
No entanto, de sua jornada pela Terra Santa até Belém, ele resgata um vislumbre de esperança: “Essa terra é uma terra com a qual todos nos identificamos. Na qual todos temos um papel a desempenhar: muçulmanos, cristãos e judeus têm raízes nessa terra. Alguns porque nosso Senhor nasceu e morreu, e porque é a terra de Jesus. Outros por causa de Abraão, e outros porque é a terra para a qual Deus os trouxe”.
Sobre a coexistência de diferentes denominações cristãs, Fernando também acredita que "Jesus não é mais meu do que dos ortodoxos, nem vice-versa".
Assim, ele chegou à conclusão de que "tudo aqui é um milagre", apesar da guerra. "Podemos olhar para as coisas com esperança. Há uma convivência muito intensa e bela na vida cotidiana, e a maioria das pessoas que se encontram, no Bairro Muçulmano, no Bairro Árabe, em Jerusalém, na Cidade Velha, todos se encontram".





