18 de jun de 2025 às 16:04
Munidos de bandeiras e faixas, e divididos em capítulos por países ou regiões, peregrinos do mundo todo caminharam por três dias, do amanhecer ao cair da noite, e passaram as noites acampados em seus destinos diários de Paris à catedral de Chartres. Os dias foram repletos de missas, cânticos de peregrinação e orações entoadas.
Organizada pela associação francesa Notre-Dame de Chrétienté (Nossa Senhora da Cristandade) desde 1983, a caminhada de três dias, que este ano ocorreu de 7 a 9 de junho, atrai milhares de peregrinos todos os anos para celebrar a missa em latim. Este ano, o contingente foi de 19 mil pessoas.
A peregrinação do ano passado registrou um comparecimento recorde de cerca de 18 mil participantes no ano passado (contra 16 mil em 2023). As inscrições deste ano foram esgotadas em cinco dias, com um novo nível recorde de participação, segundo os organizadores.
A idade média dos peregrinos neste ano foi de 20 anos, segundo os números mais recentes.
Robin Franssen, de 19 anos de idade, da Holanda, foi atraído para a peregrinação por seu “profundo amor pela tradição”, que, segundo ele, “encontra sua melhor expressão na missa tradicional em latim”.
“Esses jovens, homens e mulheres, como eu, cresceram em sociedades completamente secularizadas, onde ideologias extremas foram impostas a eles”, disse Franssen ao jornal National Catholic Register, da EWTN.
"Eu acho que os jovens estão apenas indo na direção exatamente oposta, como uma reação direta a isso”, disse Robin. “Um verdadeiro despertar espiritual está acontecendo na Europa, do qual esta peregrinação é a vitrine".
Amor à tradição, à missa e à eucaristia
O padre Vilhelm Torbiörn, de 34 anos, que fez sua primeira peregrinação como seminarista do Instituto do Bom Pastor em 2018, disse ao Register que foi "sua primeira vez fazendo a peregrinação como padre" neste ano, o que a tornou uma "experiência muito diferente".
“Como padre, foi acima de tudo a oportunidade de servir às almas que me atraiu para a peregrinação deste ano”, disse ele. “Estávamos como se estivéssemos imersos em confissões e conversas, e por causa dessa bela oportunidade, o tempo passou muito rápido”.
O Padre Torbiörn disse que “o amor pela tradição, esse amor e reverência pela missa e pela Eucaristia, o amor por nosso Senhor Jesus Cristo que está presente em toda a peregrinação” estava no centro do que o inspirou a participar da peregrinação pela primeira vez, sete anos atrás.
Voltar a cada ano nunca foi um problema para ele. "É difícil e bastante intenso, e mesmo que no momento reclamemos e sintamos os pés doloridos, ficamos felizes em voltar a esse caminho todos os anos, porque sabemos, acima de tudo, a alegria que nos aguarda no final e todos os frutos que isso traz", disse o padre.
"Para que Ele Reine, Assim na Terra Como no Céu"
A 43ª edição da peregrinação foi feita com o tema “Para que Ele reine, na Terra como no Céu”, em homenagem ao centenário da encíclica Quas primas, publicada pelo papa Pio XI em 1925 — uma escolha deliberada, segundo o bispo auxiliar de Astana, Cazaquistão, Athanasius Schneider.
“O Filho de Deus se fez homem para reinar como Rei, como Verdade e como Salvador sobre todos os corações humanos, sobre todas as nações, sociedades e instituições humanas”, disse ao Register o bispo Schneider, que celebrou a missa de domingo de Pentecostes. “Ele não reina pela força, mas pelo poder do seu amor”.
“Há uma sede de experimentar a beleza espiritual e a firmeza da Igreja”, disse o bispo.
Igreja Jovem Abraçando a Tradição
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Embora a maioria dos peregrinos seja francesa, cerca de 15% vêm do exterior — outro número que cresce a cada ano, testemunhando o desejo e a esperança europeus por um renascimento cristão.
Ryan Hawkes, de 24 anos de idade, seminarista de Portsmouth, na Inglaterra, disse ao Register que "foi uma ótima maneira de celebrar este Ano Jubilar da Esperança, pois havia um sentimento palpável de alegria entre os peregrinos. Cercado por tantos jovens e famílias cheios de fé, tive a real sensação de que a Igreja está viva e que seus membros estão se esforçando para serem santos".
Refletindo sobre a intensidade da jornada de três dias, Hawkes enfatizou que é “uma peregrinação no sentido mais verdadeiro: a Igreja em marcha em direção a Deus”.
“Num mundo que muitas vezes é tão acelerado e desconectado esses três dias oferecem uma alternativa radical”, disse ele. “Você está imerso em oração, penitência e beleza”.
“Está claro que os jovens católicos estão abraçando a tradição, vendo-a não como um fardo, mas como o presente que ela realmente é”, disse Hawkins.
Max-Martin Skalenius, de 27 anos, fundador do capítulo sueco de St. Eric — “o primeiro capítulo nórdico a se juntar à peregrinação de Chartres” — disse ao Register que, com quase 100 peregrinos em seu grupo, eles também tiveram que encerrar as inscrições mais cedo.
Embora os católicos sejam poucos na Suécia, Skalenius sugere que “talvez não seja tão surpreendente que haja tantos peregrinos suecos e tanto entusiasmo pela peregrinação”.
“Na Suécia, Deus é removido de tudo, e o homem é exaltado, nossos próprios desejos e vontades colocados no centro”, disse Skalenius. Na peregrinação de Chartres e “na missa tradicional, que oferece um gostinho do paraíso na terra, recebemos o antídoto para muito do que enfrentamos na Suécia moderna”.
“Isso atrai os jovens — para ver uma missa e uma Igreja que transformam o mundo, em vez de serem transformados por ele”, disse também Skalenius. “Porque os próprios jovens querem ser transformados, eles não querem mais do que o mundo tem a oferecer”.
Retorno do cristianismo aos corações e às cidades
Olhando para o futuro depois da peregrinação, o padre Torbiörn disse que sente “uma profunda paz e confiança”, dizendo também que “ver a tocha da fé passada de mão em mão” alimenta a esperança.
“Percebemos que precisamos simplesmente viver a nossa fé, e há uma espécie de reação em cadeia: o bem se espalha e atrai as pessoas, especialmente os jovens. Com seu entusiasmo, vitalidade, fervor e alegria, eles atraem outros de fora como um fogo ardente”.
Expressando sua esperança por “um retorno do cristianismo aos corações e cidades”, o padre Torbiörn disse que iniciativas como a peregrinação de Chartres são “algo que deveria acontecer em toda a Europa — a velha e cansada Europa que precisa redescobrir sua fé para reencontrar sua alegria de viver, sua razão de ser e sua salvação”.
Para o seminarista inglês Hawkes, o que dá esperança “é que todos os milhares de peregrinos já voltaram para casa, para suas famílias, amigos, empregos e escolas. Cada um deles agora partirá, fortalecido pelo Espírito Santo e pelo que viveu naqueles dias, para transformar o mundo”.
Apesar da intensidade habitual da peregrinação — com sua fadiga, dores e desafios — todos os peregrinos falaram sobre seu entusiasmo, apesar do cansaço, assim como sua alegria em se reconectar com pessoas que veem só uma vez por ano e sua alegria em fazer novos amigos pelo mundo todo.
Para Skalenius, houve uma alegria adicional: ao chegar em Chartres, ele pediu sua namorada, Elisabeth, em casamento.
“Queremos continuar caminhando agora”, disse Skalenius, “e foi isso que eu disse a ela quando me ajoelhei — que mesmo depois desta peregrinação, quero continuar caminhando com ela na vida e em direção ao céu, junto com Nossa Senhora de Chartres — que nos uniu — Deus e todos os seus santos”.