No sábado (17), a Santa Sé publicou a a nomeação feita pelo papa Francisco da missionária alemã irmã Birgit Weiler como consultora da Secretaria Geral do Sínodo. Weiler, que vive na Amazônia peruana, é uma acadêmica conhecida que defende questões polêmicas, como o “sacerdócio” feminino.

Abaixo estão algumas chaves do pensamento desta freira participante do Sínodo da Sinodalidade.

A formação acadêmica da irmã Birgit Weiler

Birgit Weiler, nascida em 1958 em Duisburg, norte da Alemanha, é teóloga de profissão. Em 2011 obteve um doutorado em Filosofia, com especialidade em Teologia Intercultural, na Universidade Goethe de Frankfurt am Main. Alemanha.

Entrou na Congregação das Irmãs Missionárias Médicas em 1978 e, há 29 anos, é missionária na Amazônia peruana. Ela colaborou ativamente com a Pastoral do Cuidado dos Bens da Criação da Comissão Episcopal de Ação Social (CEAS) do Peru.

Durante muitos anos foi professora da Universidade Antonio Ruiz de Montoya, vinculada à Companhia de Jesus (jesuítas), na cidade de Lima. Desde 2020 é professora e pesquisadora do Departamento Acadêmico de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP). É também assessora permanente da equipe de reflexão teológico-pastoral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam).

Ela disse que as mulheres da Amazônia administram a unção dos enfermos

Em abril de 2023, Weiler disse que na região amazônica há pessoas que não são sacerdotes, mas ainda assim administram o sacramento da unção dos enfermos com a autorização do bispo local, embora o Código de Direito Canônico estabeleça que isso só pode ser feito validamente pelos sacerdotes.

Numa entrevista ao meio suíço kath.ch, Weiler disse: “Há bispos na região amazônica que, por razões pastorais, consideram que não há outro caminho: porque em muitas comunidades simplesmente não há padres. E quando há pessoas gravemente doentes e há freiras no local, administram o sacramento solicitado pelos enfermos e seus familiares. As freiras fazem isso com a permissão do respectivo bispo”.

“Isso não é nada incomum na Amazônia”, disse Weiler, lamentando a escassez de padres.

Segundo o Código de Direito Canônico (cânon 1003): “Todos os sacerdotes, e só eles, administram validamente a unção dos doentes”. Isto é, nem mesmo os diáconos podem administrar este sacramento.

Weiler também falou da permissão aos leigos para administrar o Batismo, contemplada pelo direito canônico em casos específicos, bem como a questão da confissão aos leigos, embora tenha dito que a absolvição não pode ser concedida “formalmente”.

“É imperativo repensarmos profundamente a nossa teologia dos sacramentos”, disse Weiler na entrevista. “Os representantes da Igreja a todos os níveis reconhecem a necessidade de uma mudança radical. Há uma clara consciência da urgência de romper com as estruturas clericais e avançar para uma Igreja sinodal, disposta a entrar nas periferias sociais e existenciais”, disse.

A opinião da irmã Weiler sobre o celibato sacerdotal

Durante a mesma entrevista, em resposta a uma pergunta sobre se ela está decepcionada com o papa Francisco por não abolir o celibato obrigatório depois do Sínodo da Amazônia de 2019, Weiler disse: “O primeiro passo foi dado”.

“Desde o início ficou claro para nós que o conceito de ‘viri probati’ [homens de virtude comprovada] ainda precisava de maior elaboração. Mas a questão dos ‘viri probati’, isto é, homens casados ​​e com experiência que podem ser ordenados sacerdotes, é mais premente na Amazônia do que em outros lugares”, disse ela.

Ao responder sobre a possibilidade de futura ordenação de homens casados, disse que continua com esperança que “num prazo máximo de dez anos” “se concretize a possibilidade de ordenação ‘viri probati’”.

Sugere um sínodo para examinar o papel das mulheres na Igreja Católica

Participando como uma das especialistas do Sínodo da Amazônia 2019, a irmã Birgit fez campanha por um papel mais forte das mulheres na Igreja.

Em outubro de 2019, Weiler expressou ao The Tablet a necessidade de “promover um debate mais amplo sobre o papel das mulheres em posições de liderança dentro da Igreja”. Segundo o portal católico, ele era a favor da realização de um sínodo dedicado exclusivamente ao papel da mulher na Igreja Católica.

Mais em

“A Igreja precisa de dar um passo consciente e permitir que as mulheres ocupem posições de liderança onde tenham os dons, competências e conhecimentos, e não simplesmente prefiram os homens às mulheres”, disse ela.

Em abril do ano passado, pela primeira vez na história do Sínodo dos Bispos, instituído pelo papa Paulo VI em 1965, mais de 50 mulheres foram autorizadas a votar na 16ª Assembleia Geral, cuja primeira sessão aconteceu de 4 a 29 de outubro de 2023.

Ela é favorável às diaconisas e ao “sacerdócio” feminino

Na entrevista ao kath.ch, Weiler comentou que as diaconisas são inevitáveis: “Na verdade, isso pode acontecer muito em breve. Não existem obstáculos teológicos se o diaconado for entendido como um ofício independente na Igreja, através do qual Cristo está presente na Igreja no seu serviço à vida das pessoas”.

Contudo, um mês depois desta declaração, em maio de 2019, o papa Francisco se pronunciou sobre a possibilidade da ordenação de diaconisas, dizendo que a comissão encarregada de estudar esta possibilidade não alcançou um nível de consenso suficiente.

 

Durante a coletiva de imprensa que deu na volta da viagem apostólica à Macedônia em 2019, ao responder sobre o mesmo tema, o papa disse: “Não há certeza de que a delas fosse uma ordenação com a mesma forma e com a mesma finalidade que a ordenação masculina. Alguns dizem: existe a dúvida. Vamos continuar estudando. Mas até este momento não vai”.

Em 2020, foi lançada uma nova comissão de estudo, que se reuniu pela primeira vez em setembro de 2021.

Em relação à pergunta da mídia suíça sobre as razões teológicas para a admissão de mulheres ao sacerdócio, Weiler disse: “Por um lado, isso se deve à nossa dignidade como seres humanos. Homens e mulheres são igualmente feitos à imagem de Deus. Se você quer colocar isso de forma bíblica, então somos todos portadores de Cristo. Todos temos a mesma dignidade batismal. Não há mais para uma pessoa e menos para outra. Portanto, na minha opinião, deveria ser possível que as mulheres que se sentem chamadas a fazê-lo sejam admitidas ao sacerdócio”.

Weiler também disse que a aprovação do “sacerdócio” feminino levará mais tempo do que a ordenação de homens casados. “Mas é imperativo que a Igreja reconheça a urgência desta questão”, disse.

Em junho de 2018, o papa Francisco disse que a porta ao sacerdócio das mulheres na Igreja Católica estava fechada porque “dogmaticamente não funciona”. Em diversas ocasiões Francisco disse que este tema já foi definitivamente resolvido por são João Paulo II.

“Sobre a ordenação de mulheres na Igreja Católica, a última palavra é clara, foi dada por São João Paulo II e permanece”, disse Francisco em novembro de 2016, referindo-se à carta apostólica Ordinatio sacerdotalis do seu antecessor.

“A ordenação sacerdotal, pela qual se transmite a missão, que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o início e sempre, exclusivamente reservada aos homens”, diz a carta apostólica de são João Paulo II de 1994.

Destaca que, entre as razões apresentadas para isso, estão “o exemplo ― registado na Sagrada Escritura ― de Cristo, que escolheu os seus Apóstolos só de entre os homens; a prática constante da Igreja, que imitou Cristo ao escolher só homens; e o seu magistério vivo, o qual coerentemente estabeleceu que a exclusão das mulheres do sacerdócio está em harmonia com o plano de Deus para a sua Igreja”.