Agora que o Sínodo da Sinodalidade chegou ao fim, todos os olhares estão voltados para o relatório de síntese surgido da reunião eclesiástica que durou um mês.

O acrônimo “LGBT” está notavelmente ausente, a questão do diaconato feminino recebeu a votação mais baixa e mesmo o parágrafo um tanto amplo sobre temas controversos que equiparam a identidade sexual e a eutanásia carece de consenso substancial. Embora todos os métodos (parágrafos) do relatório de síntese da primeira fase do sínodo de 2023 tenham sido aprovados por uma maioria de dois terços, é evidente que se destacam os pontos que carecem de consenso.

O relator geral do sínodo, cardeal Jean-Claude Hollerich, destacou em entrevista coletiva no sábado (28) que “esperava-se que algumas questões encontrassem mais oposição. A parte surpreendente é que muitos votaram a favor, indicando que a resistência não foi tão significativa como se esperava”. As palavras do cardeal revelam um debate robusto e inflexível, sugerindo um desejo de mudança, especialmente quando a narrativa ao longo do sínodo girava em torno da “busca de comunhão”.

Estas expressões também ressoam com as preocupações do bispo emérito de Hong Kong, cardeal Joseph Zen, que, depois de endossar a última carta de dubia enviada ao papa Francisco, também escreveu uma carta a todos os padres sinodais, alertando contra o risco de mudança doutrinária e criticando a Secretaria Geral do Sínodo pela sua habilidade em “manipulação”.

A carta do cardeal Zen e a publicação das dubia dos cinco cardeais caíram em terreno fértil. Do relatório de síntese, em última análise chamado a equilibrar todas as posições, emerge que as preocupações levantadas são as preocupações de muitos bispos. Muitos votaram “sim” pensando em poder consertar as coisas no documento final, querendo evitar debates. Aqueles que votaram “não” o fizeram com a consciência de que enfrentariam uma dura batalha cultural nos próximos meses.

A novidade, porém, é que não haverá novas etapas continentais, como se pensava anteriormente. O roteiro que está surgindo não prevê novas reuniões continentais e documentos, e isso talvez ajude a Secretaria Geral do Sínodo, que corre o risco de encontrar novos documentos com novas dubia dada a próxima etapa do sínodo, que promete ser acalorada.

Identificar as diferenças

As 1.251 alterações propostas ao texto de 40 páginas significaram essencialmente um apelo aos padres sinodais para uma reescrita completa. Do esboço ao rascunho final, muitos termos foram revisados. A referência ao termo “LGBTQ” desapareceu, inicialmente substituída por “identidade sexual” e, eventualmente, por “identidade de gênero” como um compromisso.

Também foi rejeitada a sugestão de responsabilização dos representantes pontifícios pelos bispos locais, o que poderia ter alterado significativamente os papéis, colocando o papa sob a supervisão dos bispos. Em vez disso, o texto menciona a renovação dos procedimentos de seleção dos bispos com maior envolvimento e escuta – uma prática já em vigor, embora com ênfase variável dependendo dos núncios e das suas operações.

A sugestão de um conselho sinodal para ajudar o papa na governança da Igreja também desapareceu, suplantada por uma proposta de reforma sinodal do conselho de cardeais. Provavelmente, alguém observou a redundância na adição de estruturas sobre as existentes.

Ecumenismo e missão

A ênfase no diálogo ecumênico permanece inalterada, embora não sem opiniões divergentes. A ideia de uma nova forma de exercer o ministério petrino, anteriormente abordada pelo papa são João Paulo II, continua a ocupar um lugar no discurso.

A homilia do arcebispo de Vilnius, Lituânia, dom Gintaras Grušas, no dia 18 de outubro, memória de são Lucas, foi bem recebida durante o sínodo.

Grušas, chefe do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, destacou: “Ao discutirmos os processos, estruturas e instituições necessárias para uma Igreja sinodal missionária, devemos garantir que ajudam na missão de difundir a Boa Nova àqueles que necessitam de salvação, incluindo as suas estruturas e reuniões, deve servir a missão evangelizadora da Igreja e não tornar-se um fim em si mesmo”.

Este sentimento de não fazer da sinodalidade um fim em si mesmo foi um tema recorrente nas discussões tanto fora como dentro da sala do sínodo. Como harmonizamos a autoridade do bispo com a sinodalidade? Como encontramos um equilíbrio entre ouvir e ensinar, misericórdia e doutrina?