A Conferência dos Bispos Católicos da África Austral (SACBC) se disse disposta a aplicar “com prudência” a declaração Fiducia supplicans, do Dicastério para a Doutrina da Fé que permite bênçãos a “casais em situação irregular” e uniões do mesmo sexo. A SACBC é composta pelos bispos católicos de Botswana, África do Sul e Eswatini.

Desde a sua publicação, Fiducia supplicans gerou reações variadas entre bispos de todo o mundo, que aceitaram ou rejeitaram publicamente o conteúdo da declaração. O prefeito do dicastério, o cardeal argentino Víctor Manuel “Tucho” Fernández, e o papa Francisco deram declarações para tentar diminuir a controvérsia em torno da declaração

Durante o encerramento da assembleia plenária do episcopado da África Austral, no dia 30 de janeiro de 2024, o arcebispo da Cidade do Cabo (África do Sul), cardeal Stephen Brislin, disse que “cabe ao bispo local ver como ele irá aplicá-lo em sua diocese. Isto é muito claro porque é uma questão pastoral e não doutrinal”.

O cardeal Brislin é descendente de escoceses e irlandeses e foi nomeado cardeal pelo papa Francisco, durante o último consistório em 30 de setembro de 2023.

“Na África do Sul pensamos que, claro, depende de cada bispo local, mas que aplicaríamos o documento e as suas recomendações sobre bênçãos, com prudência”, acrescentou.

A decisão da SACBC contrasta com a tomada, também em janeiro, pelo Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM), cujo presidente é o arcebispo de Kinshasa (Congo), cardeal Fridolin Ambongo, de não dar bênçãos por causa do escândalo que causariam.

“As Conferências Episcopais de toda a África, que reafirmaram firmemente a sua comunhão com o papa Francisco, acreditam que as bênçãos extralitúrgicas propostas na declaração Fiducia supplicans não podem ser feitas na África sem se exporem a escândalos”, disse o SECAM num comunicado publicado em 11 de janeiro.

Os bispos do SECAM disseram que o contexto cultural africano, “profundamente enraizado nos valores do direito natural relativos ao casamento e à família”, torna impossível a aceitação das uniões homossexuais “uma vez que são consideradas intrinsecamente corruptas e contraditórias às normas culturais”.

A SACBC considera que Fiducia supplicans não modifica a doutrina católica tradicional em relação às relações homossexuais. A afirmação foi feita pelo presidente da organização e bispo de Umtata (África do Sul), dom Sithembele Sipuka.

“A Igreja Católica continua a acreditar que as uniões entre pessoas do mesmo sexo não estão em conformidade com a vontade de Deus”, disse ele em declarações divulgadas pelo Vatican News. “As pessoas que se desviaram ou estão se desviando da vontade de Deus não estão excluídas da misericórdia de Deus”.

Quanto à “prudência” com que a SACBC recomenda aos sacerdotes que concedam estas bênçãos, dom Sipuka disse que não sabem “que expressão concreta poderá assumir”, mas “dependerá das circunstâncias”.

Ele também disse que “aqueles que pedem uma bênção não devem ter a impressão de que abençoá-los legitima o que fazem. Nem aos solicitantes, nem a quem estiver observando”.

Por fim, o cardeal Brislin destacou o caráter pastoral da Fiducia supplicans, dizendo que o documento não diz respeito apenas aos homossexuais, mas também aos “divorciados e recasados ​​que não tiveram declaração de anulação” e aos jovens que vivem em concubinato “que não estão excluídos do cuidado pastoral da Igreja”.

"O que esse documento diz é que se essas pessoas vierem pedir uma bênção, essa bênção não deve ser negada, porque uma bênção não é uma recompensa pela perfeição", disse o cardeal.

Em meados de janeiro, a Conferência dos Bispos da Região Norte de África (CERNA), liderado pelo arcebispo de Rabat, Marrocos, o cardeal espanhol Cristóbal López Romero, também manifestou a sua intenção de acolher as orientações da Fiducia supplicans.

A organização concluiu em janeiro que concederão as bênçãos tanto a quem as solicite individualmente "com a correspondente disposição de coração", como às pessoas que se apresentem em conjunto a solicitá-las, desde que "não crie confusão para os próprios interessados ​​ou para terceiros."