O arcebispo emérito de La Plata, Argentina, dom Héctor Aguer, criticou dois cardeais por apoiarem a declaração Fiducia supplicans (FS) do Dicastério para a Doutrina da Fé, que permite a bênção a uniões homossexuais.

Num artigo intitulado As consequências da F.S, publicado na sexta-feira (2), dom Aguer refere-se à “divisão que atinge a Igreja” como resultado das reações à declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé.

Depois de elencar alguns elementos da secularização do Ocidente, o arcebispo disse que “a realidade vital da Igreja está se movendo em direção ao Oriente e florescendo na África e na Ásia. Digo-o com tristeza: sou neto de europeus e a cultura que assumi é europeia, mas o espírito da Revolução devastou a cultura cristã; a crise se expressa no progressismo eclesiástico, cúmplice de uma Revolução que liquida a ordem natural da Criação”.

Dom Aguer critica depois a posição do cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), que falou no dia 22 de janeiro no início da sessão de inverno do conselho permanente do Episcopado.

Aguer refere-se aos argumentos utilizados pelo cardeal Zuppi para justificar a FS, qualificando o documento como um “horizonte de misericórdia” e o “olhar de amor da Igreja para todos os filhos de Deus, sem se afastar dos ensinamentos do Magistério”.

“Outra vez a contradição: até o exemplo que Fernández oferece de ‘bênção’, estende essa à ajuda mútua que os membros do casal prestam entre si, ou seja, aprova a união homossexual”, continua o arcebispo argentino.

O arcebispo também questiona os erros na teologia do cardeal Giuseppe Betori, arcebispo de Florença, que expressou seu apoio à declaração, ressaltando que "o amor de Deus não tem fronteiras, e sua obra busca superar as situações difíceis em que o homem se encontra".

A isto dom Aguer responde que, de fato, “o amor do Pai não tem fronteiras, e é por isso que pode abençoar uma pessoa homossexual, chamando-a a viver a castidade, mas não pode consentir em sua união permanente com outra do mesmo tipo, que é a continuidade do pecado".

Todo católico deve viver a “conversão a Deus e o abandono do pecado”, diz o arcebispo, porque “Deus ama a virtude e convida o homem a viver virtuosamente”.

Livro A Paixão Mística do cardeal Fernández

O arcebispo emérito de La Plata também se refere ao livro A Paixão Mística: Espiritualidade e Sensualidade do cardeal Fernández, publicado no México em 1998 e que foi encontrado no início deste mês por um blog argentino.

O texto, do qual o cardeal Fernández quis se distanciar dizendo que “agora não escreveria” algo assim, trata entre outras coisas de “Orgasmo masculino e feminino”, “O caminho para o orgasmo” e “Deus no orgasmo do casal”.

Dom Aguer comenta que no livro “desconhece-se a teologia mística ilustrada pelos Doutores da Igreja, os santos que viveram a união mística com o Deus Trino e deixaram escrita a experiência”.

“Isso”, conclui, “é distorcido na redução sexológica praticada por Fernández, que é um testemunho de ignorância e confusão. Esse pano de fundo está oculto na declaração Fiducia supplicans. Agora se entende!”