O papa Francisco acusa “pequenos grupos ideológicos” pelo que considera protestos contra a declaração Fiducia supplicans, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que “coloca a possibilidade de casais em situações irregulares e de uniões do mesmo sexo”. Em entrevista publicada ontem (29), pelo jornal italiano La Stampa, o papa disse não temer um cisma na Igreja.

O papa alegou que o documento responde o sentido do Evangelho, "que é para santificar a todos".

"É claro, sempre que haja boa vontade. E é necessário dar instruções precisas sobre a vida cristã (enfatizo que não se abençoa a união, mas as pessoas)", explicou Francisco.

Ele ainda ressaltou que " todos somos pecadores: então por que fazer uma lista de pecadores que podem entrar na igreja e uma lista de pecadores que não podem estar na igreja? Isto não é o Evangelho", afirmou.

Quanto à divisão entre bispos e padres em todo o mundo depois da publicação do documento em 18 de dezembro de 2023, o papa Francisco destacou que "os que protestam com veemência pertencem a pequenos grupos ideológicos".

Perguntado se teme um cisma, ele respondeu que "não, na igreja sempre houve pequenos grupos que manifestaram reflexões cismáticas... devemos deixá-los ficar e seguir ... e olhar para frente".

Fiducia supplicans: "África é um caso à parte", diz papa Francisco

Desde a sua publicação em 18 de dezembro de 2023, esse documento provocou uma série de reações de bispos e numerosas conferências episcopais, especialmente na África, onde se mostraram contra a aplicação das bênçãos propostas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé.

O papa Francisco se referiu a isto como um caso especial: "Os africanos são um caso à parte, para eles a homossexualidade é algo 'feio' do ponto de vista cultural, não a toleram”.

"Mas, em geral, confio que pouco a pouco todo o mundo vai compreender o espírito da declaração Fiducia supplicans do Dicastério para a Doutrina da Fé: ele quer incluir, não dividir. Convida a acolher, e depois a confiar nas pessoas, e a confiá-las a Deus", destacou o papa.

A esta oposição liderada pela África se juntaram outros bispos, padres e várias dioceses. Na Europa, incluem-se a Conferência Episcopal Polonesa e também os bispos da Holanda. Outras vozes de bispos se levantaram contra esta declaração em países como a Espanha e a França.

Os bispos do Cazaquistão afirmam que a Fiducia supplicans terá "consequências destrutivas e de longo alcance" e o cardeal Joseph Zen ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong, chegou a questionar se o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé deveria renunciar.

Líderes da igreja em países da América Latina, como Brasil, México, Peru e Uruguai, incluindo o arcebispo de Montevidéu, cardeal Daniel Sturla, também se manifestaram em desacordo com este tipo de bênçãos.

Papa Francisco sobre a guerra, Milei, sua saúde e suas viagens em 2024

Guerra na Terra Santa: O papa Francisco falou sobre a guerra na Terra Santa e destacou a figura do patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa nos esforços para trazer paz à região. Ele lamentou que o conflito esteja "aumentando dramaticamente" e disse que, até que o acordo de Oslo seja implementado, "a paz real ainda estará muito distante".

Papa Francisco e Javier Milei: O papa confirmou que em fevereiro receberá o presidente da Argentina, Javier Milei, em uma audiência. Milei viajará a Roma para participar da canonização de "Mama Antula", a primeira mulher nascida na Argentina a se tornar santa.

Saúde do papa Francisco: O papa garantiu que está bem e que não pensou na opção de renunciar. "Não me preocupo. Quando eu não puder mais fazer, começarei a pensar nisto", afirmou.

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Viagens papais em 2024: O papa Francisco disse que em breve visitará a Bélgica e em agosto de 2024, viajará a Timor Leste, Papua Guiné e Indonésia em agosto. Ele disse que uma viagem papal à Argentina está "entre parênteses" porque a organização da visita ainda não começou. Duas cidades italianas receberão o papa este ano: Verona em maio, e Trieste em julho.