A Conferência Episcopal Peruana (CEP), reunida na semana passada em sua 126ª Assembleia Plenária, manifestou por unanimidade sua "adesão filial" e "obediência" ao papa Francisco e a sua missão como líder da Igreja Católica.  

"Os bispos do Peru, sem exceção, compartilham unanimemente a expressão de comunhão com seu ministério Petrino: 'Com Pedro e sob Pedro' sempre", disse a CEP em uma carta divulgada na sexta-feira (26).

A mensagem foi lançada em meio a uma divisão entre bispos e padres em todo o mundo depois da publicação da declaração Fiducia supplicans, em 18 de dezembro de 2023. O referido documento do Dicastério para a Doutrina da Fé permite que os sacerdotes abençoem de forma "pastoral" e não ritualizada uniões do mesmo sexo ou casais em situação irregular.

No dia 26 de janeiro, o papa Francisco destacou que com Fiducia supplicans não se abençoa a união, "mas simplesmente as pessoas que a solicitaram juntas" e que estas não requerem "perfeição moral para serem recebidas".

Embora o comunicado da CEP não faça menção à declaração da Santa Sé, ressaltou que acolhe "com alegria a insistência" do papa Francisco "em aceitar a todos para mostrar-lhes a proximidade, a ternura e a misericórdia de Deus".

"Seu Magistério é uma fonte de inspiração para nós e para as comunidades cristãs em que vivemos. Em um mundo cheio de ruídos, sua voz ressoa com clareza para proclamar a presença de Deus em nossas vidas, a defesa da dignidade humana e da criação”, acrescentou a nota.

Mensagem diante da crise no Peru

Durante a 126ª Assembleia Plenária, os bispos peruanos também se referiram à "grave situação geral do país", especificamente a "soma de crises que afetam a vida social, a economia, a política e, acima de tudo, a ética".

No final de 2023, aconteceram vários eventos políticos e sociais no Peru que marcaram o panorama nacional. Entre eles, destacam-se a suspensão da procuradora da Nação, Patricia Benavides, a libertação do ex-presidente Alberto Fujimori e as manifestações em diferentes regiões do país.

Além disso, segundo a última Pesquisa Nacional de Domicílios do Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI), os peruanos ainda consideram a corrupção, a criminalidade e os baixos salários/altos preços como alguns dos principais problemas.

"Os valores que fundaram a nação estão em crise, envolvendo muitos dos que hoje exercem o poder em meio a um crescente autoritarismo", disse um comunicado publicado no dia 24 de janeiro.

A conferência episcopal lamentou que "a corrupção generalizada tenha desempenhado um papel central nos últimos anos" e a classificou como uma "verdadeira pandemia que aumentou devido ao crescimento de uma economia ilegal: tráfico de drogas, mineração ilegal, extração ilegal de madeira, tráfico de pessoas, tráfico de imóveis, etc.".

"Impõe-se uma economia que busca benefícios subalternos, violando a legalidade", ressaltou a conferência.

Disse ainda que está preocupada com a "crescente insegurança cidadã que atinge até mesmo os setores mais vulneráveis".

A conferência se referiu também à tentativa frustrada de golpe de Estado do ex-presidente Pedro Castillo, em dezembro de 2022. Este evento gerou um amplo protesto social que incluiu episódios lamentáveis de violência e danos ao patrimônio. A gravidade da situação se refletiu na morte de 70 peruanos, incluindo civis, policiais e militares.

"As mortes ainda não foram esclarecidas. Não foi realizada uma investigação efetiva e as reparações necessárias, aumentando a animosidade das regiões mais afetadas com o Governo", disse.

Outras críticas foram dirigidas ao Congresso da República e à "má gestão" do Executivo na economia, segurança pública, saúde, educação, trabalho e mudanças climáticas.

A CEP lamentou que a opinião pública não conte com uma "organização para propor alternativas políticas que gerem debates com implicações práticas".

"Este é o problema político mais urgente. Não basta que haja eleições em dois anos que podem ser muito críticos. É preciso promover iniciativas claras agora para romper com o impasse atual e que os líderes que o sustentam se abram a novos caminhos, a um diálogo diferente", disse.

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A necessidade de encontrar uma direção

A conferência episcopal enfatizou a necessidade de mudar "a mentalidade, converter-nos e focar nosso olhar na dignidade da pessoa humana" (...) "enchendo-nos de serviço ao próximo na ação" e "solidariedade ao aplicar as políticas".

"A economia deve estar ligada à justiça social e ambiental e é necessário proteger e defender a vida em toda circunstância, desde a concepção até a morte natural", acrescentou.

Lembrou também que "a política deve voltar a ser efetivamente representativa dos interesses dos cidadãos e transparente para sair do grande buraco em que nos encontramos".

Por fim, pediu a "todas as forças sociais e políticas que busquem consenso com políticas eficazes onde a agenda prioritária seja o bem-estar de todos os peruanos".