A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) recebeu o relatório sobre os abusos sexuais e de consciência na Igreja Católica na Espanha, encomendado ao escritório de advocacia Cremades & Calvo Sotelo em fevereiro de 2021.

A “auditoria independente sobre as denúncias de abusos sexuais dentro da Igreja Católica espanhola”, como foi apresentado pelo arcebispo de Barcelona, ​​cardeal Juan José Omella, presidente da CEE, , está “sendo estudado para a sua integração no trabalho da conferência e será publicado na íntegra em breve”, disse o porta-voz da instituição, padre José Gabriel Vera.

O anúncio da encomenda deste estudo ocorreu poucos dias depois de o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) ter registado no congresso uma proposta para que o Defensor do Povo fizesse uma investigação sobre casos de abusos dentro da Igreja Católica. A encomenda do relatório foi aprovada em 10 de março de 2020 e seus resultados foram apresentados em 27 de outubro passado.

Outras duas propostas parlamentares, que acabaram por ser rejeitadas, previam a criação de uma comissão de inquérito na Câmara dos Deputados.

Atraso no relatório sobre abusos encomendados pela CEE

O relatório sobre os abusos é precedido por uma polêmica que levou os bispos a censurar publicamente o escritório de advogados, quando a conferência entendeu que os termos do contrato relativos aos prazos não estavam sendo respeitados.

O escritório lançou uma equipe composta por cerca de trinta profissionais com perfis profissionais diversos e cujo trabalho tinha a duração prevista de um ano. A entrega dos resultados estava prevista para março de 2023. Este período foi prorrogado até junho de 2023.

Em setembro de 2023, o escritório profissional informou à Comissão Permanente da CEE que o texto final estaria pronto nas próximas semanas. Em aparição pública no dia 28 de setembro, o porta-voz, dom Francisco César García Magán, deixou clara a decepção da conferência por não receber o relatório: “Nós, bispos, não gostamos do atraso e o escritório garante que não é por nossa causa, mas que há uma complexidade, uma profundidade no trabalho”.

No dia 11 de outubro, através do portal de informação oficial da CEE, Ecclesia, soube-se que os bispos deram um ultimato de 10 dias ao escritório para entregar o trabalho. O escritório Cremades & Calvo Sotelo disse que esse limite não seria cumprido, o que confirmou a tensa relação entre as duas entidades.

Outros relatórios sobre abusos

Em junho de 2023, a CEE apresentou por sua própria iniciativa outro relatório intitulado Para dar luz, no qual recolheu 927 denúncias de supostos abusos sexuais contra menores ou pessoas vulneráveis ​​cometidos entre os anos 1940 e 2022.

Nele, foram coletados dados fornecidos pelos escritórios diocesanos criados para a proteção de menores “sem pressupor ou provar inocência ou culpa”. Também advertia que “é possível que haja algumas duplicações de depoimentos”.

O Defensor do Povo, Ángel Gabilondo, divulgou no final de outubro o “Relatório sobre os abusos sexuais no âmbito da Igreja Católica. Uma resposta necessária” no qual são recolhidos depoimentos de 487 supostas vítimas.

O trabalho feito por Gabilondo, membro do PSOE e ex-religioso, inclui uma pesquisa na qual se diz que “o abuso sexual infantil cometido em ambiente religioso é um problema que afetou 1,13% dos adultos em Espanha”.

Estes dados foram rapidamente extrapolados por alguns meios de comunicação, sugerindo que na Espanha teria mais de 400 mil adultos que teriam sido vítimas de abusos no ambiente católico, seja em igrejas, congregações ou escolas, por parte de leigos e pessoas consagradas.

A publicação do relatório levou à convocação extraordinária de uma Assembleia Plenária.

Tanto o cardeal Omella como outros bispos rejeitaram as extrapolações. O arcebispo de Barcelona disse através de X (antes Twitter): “Cada vítima é um drama terrível a quem pedimos perdão e acompanhamos. Mas uma coisa é a verdade e outra são extrapolações sem fundamentos. Continuamos trabalhando para acabar com esse terrível flagelo na Igreja e em toda a sociedade”.

Confiabilidade dos relatórios sobre abusos

Pouco depois da publicação deste relatório, o jornal ABC revelou como alguns leigos conseguiram 'infiltrar' um falso caso de abuso através do jornal El País, cujos trabalhos foram assumidos pelo Defensor do Povo.

Este caso também teria sido incluído pelo escritório de advocacia Cremades & Calvo Sotelo em uma versão preliminar de seu trabalho entregue em 17 de novembro.

Mais em

No final da 123ª Assembleia Plenária que aconteceu no final de novembro, o porta-voz da Conferência Episcopal, dom Magán, não quis comentar o questionamento que este caso pode levantar sobre os relatórios de abusos, mas “ele pediu que todos os estudos de investigação sejam feitos com o maior cuidado e rigor”.

Magán anunciou a preparação de um Plano de Reparação para as vítimas de abusos, que poderá incluir aquelas cujo caso não pôde ser julgado, mas sobre as quais existe uma “convicção moral”.