Ontem (30), 88 bispos da Conferência Episcopal Espanhola (CEE) se reuniram em assembleia extraordinária. No final da reunião, reiteraram o seu pedido de perdão pelos abusos e especificaram que os dados extrapolados por alguns meios de comunicação, após a apresentação do relatório do Defensor do Povo, “não correspondem à verdade”.

O Defensor do Povo de Espanha, Ángel Gabilondo, entregou na sexta-feira (27) a presidente das Cortes Gerais, Francisca Armengol, o Relatório sobre os abusos sexuais no âmbito da Igreja Católica. Uma resposta necessária, um texto de mais de 770 páginas.

“Ao analisar esta questão, os bispos presentes expressaram a sua dor pelos danos causados ​​por alguns membros da Igreja com abusos sexuais e reiteraram o seu pedido de perdão às vítimas”, diz um comunicado da CEE.

“Os abusos cometidos na Igreja machucam. Também surpreende a extrapolação feita a partir dos dados obtidos numa pesquisa anexa ao relatório. Não correspondem à verdade nem representam o grupo de sacerdotes e religiosos que trabalham com lealdade e dedicação de vida ao serviço do Reino”, acrescenta.

Gabilondo também foi convidado para a assembleia, presidida pelo arcebispo de Barcelona, ​​cardeal Juan José Omella, mas recusou comparecer por motivos pessoais.

No texto, os bispos se unem ao pedido do Defensor do Povo “que exorta o Estado a implementar as recomendações que o relatório faz às suas diferentes instituições, para assumir a sua responsabilidade na tarefa conjunta de pôr fim a este flagelo que afeta toda a sociedade, como diz o próprio relatório”.

“Não levar em conta a magnitude do problema e a sua dimensão em grande parte extra-eclesial significa não enfrentar as causas do problema e perpetuá-lo ao longo do tempo. Além disso, concentrar-se exclusivamente na reparação das vítimas da Igreja discriminaria a maioria das vítimas, transformando-as em vítimas de segunda classe”, continua.

Após destacar que as propostas do relatório “são em grande medida convergentes com outras propostas trabalhadas” na CEE “já há algum tempo”, os bispos informam que confiaram ao seu Serviço de Proteção de Menores “o itinerário para a aplicação das recomendações do Defensor do Povo, em relação aos canais de reparação, prevenção e formação. Este itinerário já será implementado na próxima assembleia plenária, em novembro”.

“Um único caso de abuso é intolerável. A Igreja Católica na Espanha trabalha há anos para pôr fim a este flagelo e continuará trabalhando na mesma linha, incorporando estas recomendações nos seus esforços diários”, diz o comunicado. 

Alguns números do relatório do Defensor do Povo

O documento traz, além de detalhes técnicos sobre sua elaboração, depoimentos de 487 pessoas que relatam ter sofrido abusos, quase todos quando eram menores.

O resumo executivo do relatório diz que “pretender fazer uma estimativa do número de vítimas significaria ignorar o silêncio voluntário de muitas delas e ignorar aquelas que desapareceram como consequência da passagem do tempo”.

Além disso, é reconhecida a disparidade nos números oferecidos pelas diferentes fontes. Ainda assim, o Defensor do Povo diz que, segundo uma pesquisa incluída no relatório feita com mais de 8 mil pessoas, “o abuso sexual infantil cometido em ambiente religioso é um problema que afetou na Espanha 1,13% das pessoas adultas”.

Esta percentagem extrapolada significa que na Espanha haveria mais de 400 mil pessoas adultas que teriam sido vítimas de abusos no âmbito religioso em sentido amplo, o que implica que os perpetradores seriam também professores ou catequistas, entre outros, em paróquias, escolas ou acampamentos.

Também diz que “a porcentagem de pessoas adultas vítimas de abusos cometidos por um padre ou religioso católico é inferior, 0,6%, valor semelhante ao encontrado em estudos feitos noutros países”. Esse percentual seria equivalente a cerca de 200 mil pessoas adultas.

Segundo essa pesquisa, a maioria dos que teriam sofrido abusos seriam homens (64,6%). Por outro lado, verifica-se que “o fato de a prevalência diminuir nas idades mais jovens indica uma tendência decrescente a partir dos anos sessenta e setenta, quando aconteceu o maior número de abusos”.