O papa Francisco revelou que onde gostaria de ser sepultado na basílica de Santa Maria Maior em Roma em entrevista a jornalista Valentina Alazraki, correspondente da Televisa, do México, no Vaticano, e publicada hoje (13), no N+.

Ao contrário dos pontífices dos últimos dois séculos cujos caixões estão nas criptas no subsolo da Basílica de São Pedro no Vaticano, o papa disse que mandou preparar o seu túmulo na basílica de Santa Maria Maior de Roma, , uma das quatro basílicas papais, pela grande devoção que tem à Virgem Salus Populi Romani (protetora do povo romano), a quem disse ter feito uma promessa.

O último papa sepultado fora de São Pedro é Leão XIII, que foi papa de 1878 a 1903.

Em Santa Maria Maior estão sepultados vários papas, como Clemente IX (papa de 1667 a 1669), Paulo V, (1605 a 1621) e Pio V (1566 a 1572).

“E como sempre prometi à Virgem, o lugar já está preparado”, disse o papa à vaticanista mexicana ontem (12), festa de Nossa Senhora de Guadalupe.

“Eu sempre ia lá nas manhãs de domingo, ficava lá por um tempo. Há um vínculo muito grande”, disse o papa sobre sua devoção à Virgem Salus Populi Romani.

Francisco visitou a basílica na manhã seguinte à sua eleição, em 14 de março de 2013, para confiar o seu ministério petrino diante do ícone de Maria Salus Populi Romani.

O papa Francisco visita Santa Maria Maior antes e depois de cada viagem apostólica.

“Preciso que rezem pela minha saúde”

À pergunta se “deveríamos nos preocupar com a saúde dele”, Francisco respondeu que “um pouquinho sim, preciso que rezem pela minha saúde”.

“E a velhice não vem sozinha. A velhice não se maquia, ela é ela mesma, apresenta-se tal como é. E, por outro lado, é preciso saber aceitar os dons da velhice. Deve-se aceitar que se pode fazer muito bem a partir de outra perspectiva. É verdade que as viagens agora estão todas repensadas”, disse.

Ao mesmo tempo, disse que se sente bem e melhorou. “Às vezes me dizem que sou imprudente porque tenho vontade de fazer coisas e me movimentar (…) estou muito bem”, disse.

A “coragem” de Bento XVI

Durante a entrevista, o papa Francisco elogiou a “coragem” de Bento XVI em renunciar ao pontificado, embora tenha dito que nunca pensou em fazer o mesmo. “Quando percebeu que não conseguia, preferiu dizer basta, e isso é bom para mim como exemplo e peço ao Senhor que, em um determinado momento, eu possa dizer basta, mas quando Ele quiser”.

Ele também disse que a sua relação com Ratzinger era “muito próxima”: “Às vezes eu o consultava. Ele, com grande sabedoria, me dava sua opinião, mas dizia 'decida você', deixava nas minhas mãos".

Ele disse que durante o tempo em que conviveram no Vaticano, “ele sempre me ajudava” e foi “muito generoso nesse aspecto”.

“E tive a graça de poder despedir-me porque descobri por uma enfermeira que ele estava mal e avisei naquela quarta-feira na audiência e fui vê-lo”, disse ele.

Francisco disse que naquele momento Bento XVI “estava lúcido, mas não conseguia mais falar e segurou minha mão, assim. Foi muito bonita aquela despedida. Foi muito bonita. E depois de três dias ele morreu”.

“Bento era um grande homem, um homem humilde e simples que, quando percebeu suas limitações, teve a coragem de dizer chega. Eu admiro esse homem”, disse ele.

Nossa Senhora de Guadalupe “deve nos dar forças para seguir em frente”

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No âmbito da festa de Nossa Senhora de Guadalupe, o papa Francisco disse que “o povo mexicano merece uma mãe”.

“Quando falo da Virgem, gosto de usar esse gesto em suas mãos, como a mãe. As mamães que sabem acompanhar seus filhos. E quando os filhos são rebeldes, a mãe se cala, mas os acompanha pacientemente até que lentamente se encontram”, disse ele.

“O Senhor foi grande conosco nos dando uma mãe assim, e temos que repetir essa frase nos momentos de tristeza de amor. 'Estou aqui, que sou a sua mãe. Por que duvida? Não estou eu aqui, que sou a sua mãe?’ e isso deve nos dar forças para seguir em frente.”

Possíveis viagens em 2024

O papa Francisco informou que há uma próxima viagem garantida à Bélgica em 2024 e que há duas ainda por confirmar: “Uma à Polinésia e outra à Argentina, que estão pendentes, veremos como as coisas vão se desenvolver, mas com o tempo vou retomando as coisas”.

Respondendo a uma pergunta sobre a sua possível visita à Argentina depois das polêmicas declarações do novo presidente, Javier Milei, o papa Francisco disse que “na campanha eleitoral, as coisas são ditas em tom de brincadeira, eu digo entre aspas: são ditas de maneira séria, mas são coisas provisórias, coisas que servem para chamar um pouco de atenção, mas que depois desaparecem por si mesmas.”.

“É preciso distinguir muito entre o que um político diz na campanha eleitoral e o que ele realmente faz depois, porque é depois que chega o momento da concretização e das decisões”, disse.

“Ligo todos os dias para a paróquia de Gaza”

No final da entrevista lamentou que “já nos acostumamos” com a guerra na Ucrânia, “e parece que como se fosse o café com leite de todos os dias e lá morrem pessoas, morrem jovens”.

Ele disse “que a guerra é sempre uma derrota, sempre, os únicos que ganham na guerra são os fabricantes de armas”.

“Acabei de falar com Gaza, ligo todos os dias para a paróquia. Há 600 pessoas lá. Os padres e as freiras cuidam de toda aquela gente e me contam o que está acontecendo ali. Aterrorizante, né? O que ganhamos com a guerra? Destruição, nada mais do que isso.” Para o papa, as mães que perdem os filhos nas guerras são “heroínas”.