O papa Francisco condenou a “devastação” do meio ambiente como “uma ofensa a Deus” num discurso dirigido aos participantes da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) em Dubai, Emirados Árabes.

Um resumo do discurso do papa foi lido neste sábado (2), pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin. O discurso completo foi distribuído aos presentes.

O papa cancelou a viagem a Dubai por a pedido dos médicos por causa de dificuldades respiratórias e bronquite aguda.

“Infelizmente não posso acompanhar-lhes, como gostaria, mas estou com vocês, devido à urgência da hora em que vivemos, como também porque, agora mais do que nunca, o futuro de todos depende do presente que escolhermos”, disse Francisco no início do seu discurso.

“Estou presente porque a devastação da criação é uma ofensa a Deus, um pecado não só pessoal, mas também estrutural, que recai sobre os seres humanos, sobretudo os mais frágeis; trata-se de um grave perigo, porque, sobre cada um de nós, incumbe o risco de desencadear um conflito entre as gerações”, continuou.

Na sua mensagem à COP28, ele pediu para refletir sobre a escolha entre “uma cultura de vida ou de morte” e fez um chamado à ação: “Peço-lhes, com veemência, para escolher a vida, escolher o futuro!” “Ouçamos os gemidos da terra e o grito dos pobres; prestemos atenção às esperanças dos jovens e aos sonhos das crianças! Todos nós temos uma grande responsabilidade: garantir que não lhes seja negado o próprio futuro”.

Francisco falou da ligação entre o aquecimento global e a atividade humana insustentável, dizendo que a ambição excessiva de produzir e possuir levou à “exploração desenfreada” do meio ambiente. O papa disse que as mudanças climáticas são um alerta para acabar com este “delírio de omnipotência” e defendeu a volta à “consciência, com humildade e coragem, do nosso limite”.

Francisco também falou das divisões existentes na comunidade internacional e a necessidade de superar os interesses nacionais em favor do bem comum global. Ele pediu a reconstrução da confiança e o fortalecimento do multilateralismo, dizendo que “um mundo interconectado não pode ser separado daqueles que o governam”.

Francisco também desafiou as narrativas daqueles que culpam os pobres, “que são as vítimas do que está acontecendo”, ou daqueles que culpam o crescimento populacional pela crise climática, dizendo que a responsabilidade recai sobre todos. Defendeu o perdão da dívida econômica dos países sobrecarregados, “tendo em conta a dívida ecológica que existe a seu favor”.

Sobre as soluções, o papa Francisco defendeu a “necessidade de mudança política” para enfrentar as mudanças climáticas e disse aos presentes que “a Igreja católica garante seu compromisso e apoio, através da educação, para sensibilizar a participação comum e promover estilos corretos de vida”.

O papa concluiu a sua mensagem com uma visão esperançosa, com o desejo de que esta “COP seja um ponto de partida e de mudança de rota, para acelerar a transição ecológica”.

Ele também defendeu abordagens eficientes, vinculantes e monitoráveis em âmbitos como a eficiência energética, as fontes renováveis ​​e a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis; e pediu a construção de um novo multilateralismo, dizendo que a luta contra as mudanças climáticas e a busca da paz estão interligadas.

Em 2023, o papa Francisco teria sido o primeiro papa a participar na conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, que acontece anualmente desde 1995.

O cuidado com a criação tem sido um tema importante durante o pontificado do papa Francisco. Ele escreveu a sua encíclica sobre o clima Laudato Si' em 2015, antes da COP21 em Paris e publicou recentemente uma nova exortação apostólica intitulada Laudate Deum (“Louvado seja Deus”), na qual disse que as mudanças climáticas são “um dos principais desafios enfrentados pela sociedade e pela comunidade global”.