No último domingo (19) foi o segundo turno eleitoral na Argentina, que elegeu o economista libertário Javier Milei presidente e a advogada Victoria Villaruel vice-presidente. Eles tomarão posse no dia 10 de dezembro.

Villaruel, deputada pelo partido A Liberdade Avança, tem uma longa história como ativista política e escritora, mas também é conhecida por expressar a sua fé católica em público e por criticar políticas contrárias aos seus princípios, como o aborto.

Aqui apresentamos alguns fatos importantes sobre ela.

1. Ela é católica praticante

Villarruel é uma mulher de 48 anos, natural de Buenos Aires, nascida em 13 de abril de 1975. Embora não costume comentar sobre sua vida pessoal, ela fala abertamente sobre a sua fé. Ela se declara católica e é praticante.

Em abril deste ano a deputada desejou uma feliz Páscoa aos seus seguidores com uma mensagem no Instagram e, meses depois, relembrou através da sua conta X o dia de Nossa Senhora de Luján, padroeira da Argentina. Em 2019 publicou também uma fotografia da sua peregrinação à Basílica de Nossa Senhora de Luján.

Em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, ontem (21), o padre argentino Javier Olivera Ravasi, diretor do projeto de apologética católica Que no te la cuente (QNTLC), disse ter conhecido pessoalmente Villarruel em sua capela há um ano e meio.

“Ela foi madrinha de batismo. Ela tem uma personalidade muito forte e determinada, é filha de militar. O pai dela foi colega de turma do meu na escola militar quando eles eram jovens. É católica, apostólica romana, praticante”, disse o padre.

O meio argentino Letra P disse que Villarruel participa da missa tradicional em latim que é celebrada na capela Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, pertencente à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), fundada pelo bispo francês Marcel Lefebvre, em Buenos Aires, bairro de Monserrat, a poucos quarteirões do congresso.

Segundo o padre Olivera, ela frequenta a capela da FSSPX porque é o único local daquela zona onde se celebra a missa em latim, já que na zona próxima da sua residência não há missas tradicionais. A vice-presidente eleita não faz parte da FSSPX e também participa da missa do Novus Ordo em outros locais da cidade, disse.

2. Ela é contra o aborto

Numa entrevista recente ao El País, Villarruel disse que defende “o direito à vida, porque a vida começa na concepção”. Para ela, essa defesa não é “uma questão de religião”, mas de “pura biologia”.

Durante a campanha, a vice-presidente eleita manifestou apoio à revogação da lei do aborto aprovada em 2020, conhecida como Lei de Acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVE).

Na segunda-feira, 14 de novembro, durante entrevista que concedeu ao canal de televisão TN, a deputada confirmou que, juntamente com Javier Milei, quer reabrir a discussão sobre a lei do aborto, centrando o debate em “bases científicas e argumentos sérios” e não em posições ideológicas.

No entanto, disse posteriormente que este tema “tem uma urgência que não é iminente, considerando que a economia está totalmente desorbitada”.

Numa outra entrevista à Infobae, em 16 de maio, ela descreveu a lei do aborto como “desastrosa” e disse que, se pudesse, a revogaria. “Aqui houve um lobby promovido também do exterior, o aborto é um grande negócio e há um lobby que promoveu esta questão”, disse.

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Em 8 de julho de 2018, Villarruel participou de uma missa pela vida na Basílica de Nossa Senhora de Luján, quando o país debatia a legalização do aborto no Congresso.

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Padre Ravasi disse que revogar a lei do aborto será “difícil, porque tem que passar pelo Congresso e o partido deles não tem agora maioria. Mas pelo menos com certeza tentarão começar aos poucos o trabalho para atingir esse objetivo.”

3. Ela rejeitou a união entre pessoas do mesmo sexo durante a campanha

No início de maio, durante uma entrevista, Villaruel se posicionou contra a “Lei do Casamento Igualitário”, a legislação sobre a união entre pessoas do mesmo sexo sancionada na Argentina em 2010.

Quando o apresentador de LN+, Luis Novaresio, perguntou o que ela achava do “casamento gay”, ela disse: “Para mim estava garantido com a união civil. Legalmente, esses direitos estavam garantidos. Eles deveriam ser ampliados? Sim, mas chamar isso de ‘casamento’, que é uma instituição que tem mais a ver com religião... Para mim todos nós temos direitos perante a lei”.

Ao ouvir as declarações da deputada, o apresentador respondeu ressaltando que o casamento não tem relação com religião, mas é “uma questão de lei civil”. Depois disso, Villarruel respondeu: “Sim, claro. Mas a sua origem remonta à consagração anterior da instituição do matrimônio, que tinha caráter religioso”.

Martín Zeballos, advogado e ex-candidato a comunero do partido A Liberdade Avança na Comuna 1 da Cidade de Buenos Aires, disse à ACI Prensa ontem (21), que Villarruel contribuiu a Milei com “um discurso muito sólido que esteve muito próximo de um grande número de Argentinos que amam seu país e querem colocar a família argentina no centro das políticas públicas”.

A família “é algo que as políticas públicas argentinas esqueceram nas últimas décadas e acho importante que este novo governo possa recuperar”, disse.

4. Ela é filha de militar e luta pelas vítimas do terrorismo

Victoria Villarruel é filha de Eduardo Villarruel, militar que combateu na Guerra das Malvinas que foi designado para o norte do país como parte da Operação Independência. Iniciada durante o período democrático e continuada durante a ditadura, esta operação teve como objetivo enfrentar guerrilheiros do Exército Revolucionário do Povo (ERP), organização guerrilheira argentina que atuou na década de 1970.

“Victoria Villarruel será a primeira vice-presidente da Argentina, filha de um veterano da Guerra das Malvinas, uma causa inabalável para o nosso país. Tanto que é mencionada especificamente na Constituição nacional”, disse Zeballos.

Desde 2006, Villarruel é presidente do Centro da Associação Civil de Estudos Jurídicos sobre o Terrorismo e suas Vítimas (CELTYV), organização que assumiu a tarefa de tornar visíveis as vítimas de crimes atribuídos a organizações armadas durante a década de 1970 na Argentina.

Numa entrevista em maio, Villarruel disse que “o que aconteceu nos anos 70 feriu todos os argentinos” e que apenas alguns tiveram o “direito” de contar o que viveram. “Sempre me interessei que houvesse justiça, verdade e reparação para estas vítimas”, disse ela.

Em 2014, foi coautora do livro Os Outros Mortos, que conta histórias de vítimas do terrorismo na Argentina.

No dia 25 de setembro de 2023, Villarruel publicou no Instagram sua participação na missa em memória do ex-líder da Confederação Geral do Trabalho da Argentina, José Ignacio Rucci, morto há 50 anos pelos Montoneros, outro grupo guerrilheiro de esquerda na Argentina. A missa foi celebrada na catedral de Buenos Aires.

Em junho de 2023, a vice-presidente eleita publicou em suas redes sociais que participou da missa pelo nascimento de Argentino del Valle Larrabure, servo de Deus vítima de sequestro, tortura e assassinato pelas mãos do ERP durante a década de 1970.