Joseph Strickland, bispo de Tyler, Texas, destituído pelo papa Francisco, não se uniu a seus colegas bispos dos EUA na assembleia anual da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) na terça (14) em Baltimore, Maryland, mas não estava longe. Ele rezou um rosário com dezenas de pessoas do lado de fora do hotel Baltimore Marriott Waterfront, onde a reunião dos bispos ocorreu.

“Imaginei que, já que estou na cidade e não precisava ir à reunião, eu só viria aqui rezar”, disse Strickland à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence a ACI Digital.

O papa Francisco demitiu o bispo de 65 anos da diocese de Tyler há três dias.

Strickland é, agora, bispo-emérito, e não há nada nos estatutos da USCCB que o impeça de participar da assembleia desta semana.

Numa entrevista de cinco minutos fora do hotel, Strickland disse que o núncio papal nos EUA, cardeal Christophe Pierre, pediu a ele que não participasse da reunião. Pierre, que falou aos bispos na manhã de terça (14), recusou um pedido de entrevista da CNA.

Strickland apareceu fora da reunião de qualquer maneira, disse ele, porque “já tinha planos de estar aqui”. Ele disse à CNA que também se comprometeu a rezar um rosário do lado de fora da reunião. Ele rezou um rosário do lado de fora da reunião da USCCB nos últimos anos.

Strickland conduziu o rosário de joelhos. Um homem ajoelhado e orando nas proximidades segurava uma placa que dizia: “Amamos o Bispo Strickland”.

“Hoje é um dia para viver o Senhor mais plenamente. E é isso que somos chamados a fazer”, disse Strickland à CNA. “É nisso que eu encorajaria os bispos a continuar se concentrando. Eu tenho que lembrar todos os dias quando acordo: do que se trata? Trata-se de seguir Jesus Cristo”.

“E hoje é um novo dia para segui-lo com alegria e esperança. Sua luz está tão brilhante como sempre. Precisamos todos lembrar disso, especialmente meus irmãos bispos”, disse ele.

Strickland disse que poderá participar de futuras reuniões da USCCB, mas achou melhor não fazê-lo este ano, explicando: “Eu não queria ser uma distração”.

Por que Strickland foi removido?

Strickland disse à CNA que ao ser notificado sobre a sua destituição, recebeu um e-mail “com um anexo da carta que dizia que o papa tinha (…) me exonerado das responsabilidades como bispo de Tyler”.

A remoção de Strickland no último sábado (11) seguiu-se a uma investigação formal dele e de sua diocese ordenada pelo papa Francisco, que ocorreu em junho.

Não foi publicado um relatório oficial da investigação. A Santa Sé não revelou por que Strickland foi destituído.

Strickland foi bispo de Tyler desde 2012 e tem falado abertamente sobre questões como aborto e ideologia de gênero. O bispo tem um número considerável de seguidores nas redes sociais.

O bispo de Galveston-Houston, o cardeal Daniel DiNaldo, da qual a diocese de Tyler é sufragânea, disse após a remoção de Strickland que a investigação se concentrou em “todos os aspectos da governança e liderança” na diocese, que finalmente concluiu com uma recomendação sendo feita ao papa Francisco que “a continuação no cargo do bispo Strickland não era viável”.

Strickland elogiou o número de seminaristas da diocese – 21 – agora em formação, bem como “um presbitério com grandes sacerdotes”.

“Então, sim, você pode fazer alegações de qualquer coisa. Mas acho que se você olhar apenas para o histórico da diocese, ela cresceu. As pessoas estão vindo. É um lugar feliz. Não é perfeito. Não é o paraíso, mas está em boa forma”, disse.

Respondendo se foram dadas razões para a sua destituição, Strickland disse que houve “razões verbais” dadas por Pierre que eram “bastante extensas”, uma das quais o excesso de franqueza.

Um exemplo é um tweet de 12 de maio em que Strickland sugeriu que o papa Francisco estava “minando o depósito da fé”.

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“Houve coisas que, sim, eu fiz. Eu levantei muitas questões. Tentei o máximo que pude para guardar o depósito da fé. E sinto o mesmo comprometmento”, disse ele.

“Alguns dizem que talvez eu tenha falado demais, mas como podemos falar demais pela verdade de Cristo? É um tesouro. É uma luz linda de que o mundo precisa desesperadamente.”

Outra razão que lhe foi dada foi “o fato de eu não ter interrompido a missa em latim na minha diocese porque eu me sentia como um pastor, não poderia fazer isso”, disse ele, referindo-se às restrições impostas pelo papa Francisco à liturgia tradicional em seu motu proprio Traditionis custodes de julho de 2021.

Strickland disse que o documento “não era muito claro” e poderia ser debatido, mas acrescentou que “muitos bispos não deixaram de celebrar a missa em latim em suas dioceses”.

Em última análise, a sua remoção foi o resultado de “um acúmulo de coisas”, disse Strickland.

“Adoro todos os aspectos da Igreja, mas acho que todos concordamos que a Igreja precisa ser mais forte em Cristo, e é isso que tenho incentivado durante tudo isso. Minha oração é que cada bispo, cada fiel católico, possa se aproximar do Sagrado Coração de Cristo”, disse.