No contexto da beatificação da família Ulma, que acontecerá no domingo (10) em Markowa, Polônia, a Santa Sé confirmou ontem (5) que Wittoria Ulma, grávida do sétimo filho, deu à luz em meio ao martírio, acrescentando o bebê na lista de mártires da Igreja.

"Referindo-se às notícias recentemente divulgadas em alguns meios de comunicação sobre o martírio da família Ulma", o Dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé publicou um comunicado que diz: "No momento do assassinato, a Sra. Wittoria Ulma estava grávida de seu sétimo filho. Este filho nasceu no momento do martírio de sua mãe”.

Batismo de sangue

“Esta criança se soma ao número de crianças que também foram mártires. De fato, no martírio de seus pais, recebeu o batismo de sangue”, lê-se no comunicado publicado ontem (5) e assinado pelo cardeal Marcello Semeraro e pelo arcebispo Fabio Fabene, respectivamente, prefeito e secretário do dicastério.

O termo “batismo de sangue” é usado para se referir àqueles que, por seu martírio ou sacrifício em nome de sua fé, recebem um “batismo espiritual” que purifica sua alma, mesmo que não tenham sido formalmente batizado nas águas.

O Catecismo da Igreja Católica diz no numeral 1258 que “desde sempre, a Igreja tem a firme convicção de que aqueles que sofrem a morte por causa da fé, sem terem recebido o Batismo, são batizados pela sua morte por Cristo e com Cristo. Este Batismo de sangue, tal como o desejo do Batismo ou Batismo de desejo, produz os frutos do Batismo, apesar de não ser sacramento”.

No seu numeral 1261, o Catecismo diz que “quanto às crianças que morrem sem Batismo, a Igreja não pode senão confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral. De fato, a grande misericórdia de Deus, ‘que quer que todos os homens se salvem’ (1 Tm 2, 4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que O levou a dizer: ‘Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis’ (Mc 10, 14), permitem-nos esperar que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem sem Batismo”.

Uma família heroica

Em dezembro de 2022, o papa Francisco reconheceu o martírio do casal polonês e seus sete filhos, “mortos por ódio à fé em 24 de março de 1944 em Markowa, Polônia” durante a Segunda Guerra Mundial.

Na manhã de 24 de março de 1944, uma patrulha nazista cercou a casa de Józef e Wiktoria Ulma. Eles descobriram oito judeus que se refugiaram na propriedade da família Ulma e os executaram.

Depois, a polícia nazista matou Wiktoria, que estava grávida de sete meses, e Józef. Quando as crianças começaram a gritar ao ver seus pais mortos, os nazistas atiraram nelas também.  Elas tinham entre 1 ano e meio e oito anos. Uma delas foi a criança que Wiktoria Ulma deu à luz no momento do martírio.

Esses futuros beatos são conhecidos como “os samaritanos Markowa”. Eles se dedicavam à agricultura e viviam na pequena cidade polonesa de Markowa, no condado de Lancut, distrito de Rzeszow.

“Que o exemplo desta família heroica, que sacrificou a vida para salvar os judeus perseguidos, os ajude a compreender que a santidade e os atos heroicos se alcançam através da fidelidade nas pequenas coisas do cotidiano”, disse o papa aos fiéis poloneses na Audiência Geral de 31 de agosto.