Um possível milagre que teria ocorrido no México poderia levar à canonização do beato Álvaro del Portillo, primeiro sucessor de são Josemaría Escrivá à frente da Opus Dei.

A fase diocesana do estudo do possível milagre foi encerrada no dia 30 de agosto em León. A documentação, que será enviada à Santa Sé para estudo, traz o selo e a assinatura de dom Alfonso Cortés Contreras, arcebispo de León.

O possível milagre atribuído à intercessão do beato Álvaro del Portillo é a cura de um homem, identificado apenas com as iniciais J.C.B.C, que ficou entre a vida e a morte por ter atropelado um cavalo com seu carro.

Em 9 de agosto de 2015. J.C.B.C. dirigia seu carro na rodovia entre León, no Estado de Guanajuato, a Lagos de Moreno, no Estado de Jalisco.

Ele dirigia em “alta velocidade” quando “um cavalo saiu do muro de contenção por uma pequena abertura que deixaram no muro, exatamente no momento em que estávamos passando”, conta J.C.B.C. no site da Opus Dei.

Quando chegou ao hospital, o diagnóstico foi de “colapso parietal direito, edema cerebral, traumatismo cranioencefálico grave, NSA Fisher IV e trauma torácico fechado”.

Após o acidente, foram organizadas campanhas de oração pela sua saúde através do WhatsApp, pedindo a intercessão do beato Álvaro del Portillo.

J.C.B.C. conta através do site da Opus Dei que o médico que o tratou disse à sua mulher após a sua melhoria: “Senhora, o seu marido é um milagre, acredite. O seu marido estava na linha entre a vida e a morte".

Dom Álvaro del Portillo, nascido em Madri, Espanha, em 11 de março de 1914, foi sacerdote e bispo da Opus Dei. Após a morte de são Josemaría Escrivá, em 1975, tornou-se o seu primeiro sucessor à frente daquela que anos mais tarde se tornaria, até agora, a única prelazia pessoal da Igreja.

Participou do Concílio Vaticano II e tornou-se muito próximo de são João Paulo II. Morreu em Roma, Itália, em 23 de março de 1994. O papa Francisco aprovou a sua beatificação, que foi finalizada numa cerimônia feita em 27 de setembro de 2014 pelo cardeal Angelo Amato, então prefeito da Congregação para as Causas de Santos, diante de cerca de 120 mil pessoas em Madri. A sua festa é dia 12 de maio.

O padre Francesco Russo, postulador da causa de canonização de dom Álvaro, disse ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que “o processo diocesano sobre o caso da cura extraordinária de um homem foi encerrado. Foi na arquidiocese de León. Recuperou-se de forma extraordinária, de forma rápida e totalmente integrada, de um acidente gravíssimo”.

O padre Russo disse à ACI Prensa que os médicos que trataram o ferido “não confiavam que algo pudesse ser feito. Além disso, quando o operaram, o cirurgião comentou com a mulher do acidentado: “Vamos operá-lo, mas não sabemos se ele sobreviverá e, acima de tudo, não saberemos como ele sobreviverá".

“Ele saiu do coma, reconheceu os que estavam na sala, conversou com eles e depois tiveram que operá-lo para reconstruir a órbita do olho e realizar toda uma série de operações”, continuou o postulador da causa de canonização do beato Álvaro del Portillo.

Atualmente, disse, o homem “terminou o mestrado e tem um emprego. Está completamente bem".

O processo de canonização

O padre Russo disse que o papa Francisco aprovou a beatificação de dom Álvaro del Portillo no dia 5 de julho de 2013, “porque houve uma cura extraordinária e ficou demonstrado que não tinha explicação científica. Este milagre aconteceu no Chile”.

Russo disse que para a canonização, “após a beatificação, é necessário que seja aprovado outro milagre que a Igreja deve estudar”.

Trata-se, disse, de “mais um caso, geralmente de cura extraordinária”, que deve ser estudado para verificar que “não só não há explicação científica, mas que pode ser atribuir esta cura extraordinária à intercessão”.

O postulador da causa do sucessor de são Josemaría disse que outros dois casos de milagres atribuídos à intercessão do beato Álvaro del Portillo estão sendo estudados no Chile e na Alemanha. “Mas ainda têm um longo caminho a percorrer, ainda não passaram da fase diocesana. O caso do México já passou dessa fase", disse.

“No caso do México, a postulação pediu a opinião de vários médicos, inclusive daqueles que acompanharam a recuperação, e todos ficaram surpresos por ele ter sobrevivido e, além disso, sem nenhuma sequela”, disse.

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Segundo o postulador, “também foi solicitada a opinião de outros dois especialistas externos para ver se também achavam que era algo extraordinário, que não poderia ser explicado cientificamente, e ambos confirmaram que era algo fora do comum”.

Com esta informação, continuou, foi pedido ao arcebispo de León que abrisse uma investigação diocesana. Isto, disse, consiste em “ouvir as testemunhas do acontecimento, tanto a copiloto que sobreviveu, a sua mulher, e nada lhe aconteceu, como o seu irmão que estava no banco de trás. Foi pedido o testemunho a familiares, amigos, conhecidos, antes e depois do acidente e, sobretudo, a todos aqueles que rezaram ao beato Álvaro por esta cura, para reunir todos os elementos, tanto médicos como teológicos, para demonstrar eficazmente que esta cura é extraordinária”.

O padre Russo disse que dom Alfonso Cortés Contreras nomeou “um tribunal diocesano, um juiz com outros dois colaboradores que ouviram as diferentes testemunhas dos acontecimentos”.

“Agora que foi a última sessão, declara-se que o processo, toda a investigação, foi encerrada. Fecharam os documentos, selaram-nos, entregaram-nos a um sacerdote para os levar a Roma e iniciar o processo no Dicastério das Causas dos Santos”, disse.

O que segue para a causa de canonização do beato Álvaro del Portillo?

O postulador da causa disse que “uma vez recebidos os papéis no Dicastério das Causas dos Santos, o primeiro passo é estudar todos os atos e que cumpram o seu procedimento, respeitadas as normas legais do processo”.

“Esta fase pode levar meses de estudo, porque deve ser muito cuidadosa”, disse.

O padre manifestou grande alegria por ter chegado a essa fase, mas especificou que isto “não significa que já está tudo feito”.

“No Dicastério, será investigado por sete médicos de diferentes especialidades, para dar a sua opinião. Pelo menos cinco dos sete médicos devem concordar que foi uma cura extraordinária e que não tem explicação", disse.

“Uma vez aprovado pelos médicos, se for positivo, o estudo será analisado por nove teólogos do Dicastério que deverão dar a sua opinião do ponto de vista teológico: se realmente se pode dizer que esta cura é um milagre por intercessão do beato Álvaro del Portillo”.

“Os milagres são feitos por Deus, mas ele pode usar a intercessão dos santos”, disse ele.

Após o profundo estudo científico e teológico, a decisão final caberá ao papa.