12 de dez de 2025 às 10:23
O papa Leão XIV falou ontem (11) sobre o valor acadêmico, cultural e eclesial da arqueologia e pediu a promoção da “diplomacia da cultura” para superar fronteiras e preconceitos.
O papa recebeu em audiência os membros do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã. Ele disse que as fontes literárias e monumentais deles são uma parte essencial das “raízes” da sociedade e das nações europeias.
“Incentivo-vos também a participar, através dos vossos estudos, nessa diplomacia da cultura de que o mundo tanto necessita hoje”, exortou o papa, dirigindo-se a professores, alunos e funcionários desse centro.
Para introduzir sua reflexão, ele citou o motu proprio I primitivi cemeteri (Os Cemitérios Primitivos), publicado exatamente um século antes pelo papa Pio XI, no qual ele enfatizava a responsabilidade da Igreja na proteção de seu patrimônio sagrado.
Pio XI decidiu então acrescentar ao trabalho da Comissão Pontifícia de Arqueologia Sacra e da Pontifícia Academia Romana de Arqueologia um órgão: o Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, criado para "orientar jovens interessados, de todos os países e nações, para os estudos e a pesquisa científica sobre os monumentos da antiguidade cristã".
Um século depois, Leão XIV disse que essa missão permanece plenamente em vigor.
A dignidade científica da arqueologia cristã
O papa aproveitou a oportunidade para apresentar aos presentes sua nova carta apostólica, na qual enfatiza a importância da arqueologia cristã. Ele disse que esse campo, focado nos monumentos dos primeiros séculos do cristianismo, tem um “estatuto epistemológico” próprio, com “orientações cronológicas, históricas e temáticas específicas”.
Leão XIV lamentou que, em algumas áreas, a arqueologia cristã continue sendo inserida sem distinção na arqueologia medieval.
“A esse propósito, sugiro que defendais a especificidade da sua disciplina, na qual o adjetivo cristão não pretende exprimir uma perspectiva religiosa, mas sim qualificar a própria disciplina com a sua dignidade científica e profissional”, disse o papa.
Uma ponte para o ecumenismo
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Leão XIV falou sobre a natureza ecumênica da arqueologia cristã, destacando sua capacidade de recordar um tempo em que a Igreja permanecia unida. Seu estudo, disse ele, “pode ser uma ferramenta valiosa para o ecumenismo”, pois permite que as várias tradições cristãs reconheçam uma herança comum.
Ele disse que, em sua recente viagem apostólica a İznik — a antiga Niceia — na Turquia, na qual celebrou o 1700º aniversário do primeiro concílio ecumênico junto com representantes de outras Igrejas, pôde ver pessoalmente essa realidade: “A presença dos vestígios dos antigos edifícios cristãos foi comovente e motivadora para todos nós”.
O papa também saudou o fato de o instituto ter dedicado um dia de estudo ao tema, em colaboração com o Dicastério para a Evangelização.
O poder da “diplomacia da cultura”
Segundo o papa, o estudo rigoroso e a pesquisa histórica são uma maneira privilegiada de construir pontes: “Através da cultura, o espírito humano transcende as fronteiras nacionais e supera as barreiras do preconceito para servir o bem comum. Também vós podeis ajudar a construir pontes, promover encontros e fomentar a harmonia”.
Ele disse que o instituto está simbolicamente situado entre dois grandes temas do Jubileu: a paz, tema central do Ano Santo de 1925, e a esperança, foco do Jubileu atual.
“De fato, sois portadores de paz e de esperança onde quer que trabalheis com as vossas escavações e pesquisas, de modo que, reconhecendo a vossa bandeira vermelha e branca com a imagem do Bom Pastor, vos abram as portas não só como portadores de conhecimento e de ciência, mas também como arautos da paz”.
Cristianismo, a raiz da Europa
Por fim, Leão XIV evocou as palavras do papa são João Paulo II sobre as raízes cristãs da Europa, citando a afirmação do papa polonês feita em 1981 de que “a Europa precisa de Cristo e do Evangelho, pois neles estão as raízes de todos os seus povos”.
“Entre as raízes da sociedade e das nações europeias está certamente o cristianismo, com as suas fontes literárias e monumentais; e o trabalho dos arqueólogos é uma resposta ao apelo que acabei de referir”, disse Leão XIV.





