“O que ocorreu diante dos olhos de toda a sociedade não foi acidente nem excesso. Foi uma ação planejada pelo próprio Estado, que promoveu uma execução coletiva sob o nome de ‘operação policial’”, diz nota de repúdio da Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB) sobre a operação policial de terça-feira no Rio de Janeiro que resultou na morte de 121 pessoas - entre elas, quatro policiais - na prisão de 113 indivíduos, e na apreensão de cerca 100 fuzis e mais de uma tonelada de drogas nos complexos do Alemão e da Penha.

“Diante da tragédia que abalou o país, marcada por mais uma chacina em comunidades do Rio de Janeiro “, continua a nota, cujo tom contrasta com a manifestação do arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani cardeal Tempesta, e a declaração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

“A Família Franciscana do Brasil sente-se convocada a mobilizar-se e a denunciar a política de morte que, de forma cruel e sistemática, atinge a população pobre e negra das periferias”, diz a nota da CFFB. “O que aconteceu é crime, planejado e executado pelo Estado contra o nosso povo”.

A CFFB, com sede em Brasília, é a organização sucessora do Centro de Estudos Franciscanos e Pastorais para a América Latina, fundado em 1965 no Chile e visa ser “um movimento franciscano que unisse, em espírito de fraternidade, todos os franciscanos e franciscanas do Brasil, para promover a reflexão sobre o carisma e a missão franciscanos e para dar uma resposta aos desafios da Igreja latino-americana”.

Entre os objetivos da organização está “colocar-se a serviço da justiça, paz e ecologia, promovendo e valorizando a vida onde ela se encontra mais ameaçada”.

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Combate ao narcotráfico

A Operação Contenção feita contra o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, envolveu 2,5 mil policiais civis e militares com o objetivo de desarticular e conter a expansão territorial do CV, além de cumprir cerca de 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.

Segundo o Governo do Rio de Janeiro, durante a ação foram registrados vários confrontos com intenso tiroteio principalmente na área de mata, onde pelo menos 64 criminosos resistiram à ação policial e morreram. Nesta ação também morreram quatro policiais.

Para os franciscano, tratou-se de “um ataque cruel e seletivo contra comunidades pobres e negras, que espalhou medo, destruiu famílias e expôs ao mundo mais de 120 corpos enfileirados pelos próprios moradores no Complexo da Penha – resultado trágico e cruel de uma política que decide quem pode viver e quem deve morrer”.

O secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Felipe Curi, disse hoje (31), que até o momento foram identificadas 99 das pessoas que morreram na Operação Contenção. Ele disse que dentre os mortos identificados, 42 tinham mandados de prisão pendentes, 78 apresentavam “relevante histórico criminal” e 40 eram de outros Estados. Dentre os mortos, de acordo com o secretário, estão: Russo, chefe do tráfico em Vitória (ES); Chico Rato, chefe do tráfico em Manaus (AM); Mazola, chefe do tráfico em Feira de Santana (BA); Fernando Henrique dos Santos, chefe do tráfico em Goiás.