A Cáritas Brasileira manifestou “profunda indignação” depois da operação policial ontem (28) no Rio de Janeiro que deixou mais de 100 mortos. Em um “Manifesto por investigação diante da tragédia de extrema violência no Estado do Rio de Janeiro” publicado nas redes sociais, a organização exige “apuração rigorosa e transparente de cada morte e de cada ferido, sobretudo quando há indícios de que civis e inocentes foram gravemente afetados”.

“Como organização da Igreja Católica, reafirmamos que a segurança não se constrói com armas ou operações pontuais, mas com políticas estruturais: educação, moradia digna, geração de trabalho, reforma das instituições e políticas de segurança efetivas”, disse.

A Cáritas disse ter “compromisso com a promoção da paz, defesa dos direitos humanos e fortalecimento da dignidade de cada pessoa” e disse estar “vigilantes e atuantes para que esta tragédia não se dilua no esquecimento”.

“Precisamos de mudanças profundas de justiça social para um mundo verdadeiramente mais seguro”, conclui o manifesto.

A Cáritas Brasileira é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “com atuação em direitos humanos e desenvolvimento sustentável”, como se autodefine a instituição em suas páginas oficiais. É presidida pelo arcebispo de Cuiabá (MT), dom Mário Antônio da Silva.

A Segurança Pública do Rio de Janeiro realizou uma operação ontem contra o Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, com objetivo de cumprir cem mandados de prisão e impedir o avanço territorial do CV. A operação aconteceu nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade.

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No fim da madrugada, a polícia chegou aos lugares alvos da operação e os traficantes reagiram com tiros e barricadas. Segundo a Polícia Civil, os criminosos reagiram inclusive com bombas lançados por drones.

Ao longo do dia, o tráfico orquestrou represálias pela cidade, pondo barricadas com veículos tomados ou entulhos em importantes vias do Rio de Janeiro.

Segundo balanço divulgado pelo governo do Rio de Janeiro, pelo menos 64 pessoas morreram na operação, sendo quatro policiais. Outras 81 pessoas foram presas e quase cem fuzis foram apreendidos.

Na madrugada de hoje (29), moradores do complexo da Penha levaram para uma praça da região pelo menos 64 corpos que foram retirados da mata onde houve confrontos entre as forças de segurança e os traficantes. Segundo o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, esses corpos não constavam nos números oficiais divulgados.

No manifesto divulgado, a Cáritas condena “com veemência a escalada da violência, que transforma territórios em zonas de confronto permanentemente”. “Operações de segurança não podem se tornar o caminho para soluções que atentem contra a vida humana transformando cidades em territórios de medo”, disse a organização.

Ao exigir apuração do ocorrido, a Cáritas solicita “que os poderes públicos garantam respeito aos direitos humanos, à dignidade e à justiça, sem exceções”.