Dom Bernard Fellay, bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), celebrou uma missa tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II depois de uma procissão eucarística ontem (26) no Rio de Janeiro (RJ).

O evento foi organizado pelo Centro Cultural Permanência e pela FSSPX, com o apoio do Centro Dom Bosco (CDB).

Segundo CDB, é “a primeira Missa Tradicional pública celebrada no Rio de Janeiro desde o Congresso Eucarístico Internacional de 1955”.

Dom Fellay é um dos quatro bispos ordenados pelo arcebispo Marcel Lefebvre sem autorização da Santa Sé em 1988. A missa celebrada foi a solenidade de Cristo Rei, que, no calendário estabelecido pela nova liturgia de são Paulo VI, se chama Cristo Rei do Universo e se celebra no último dia do ano litúrgico.

Segundo o CDB, mais de mil pessoas participaram. Imagens publicadas pelo centro mostram muitas crianças, jovens e famílias.

A concentração aconteceu na Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, em frente ao monumento em honra ao Santíssimo Sacramento, construído pelo CDB em 2024. Às 15h, a procissão saiu pelas ruas da cidade, acompanhada pela Cavalaria da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

A procissão de cerca dois km seguiu até a Praça das Crianças, no Aterro do Flamengo, onde dom Fellay celebrou missa pontifical.

Procissão pelas ruas do Rio de Janeiro. Alex Duarte
Procissão pelas ruas do Rio de Janeiro. Alex Duarte

Dom Bernard Fellay

Dom Bernard Fellay, 67 anos, é um bispo suíço, ex-superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

A Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) é uma sociedade sacerdotal tradicionalista canonicamente irregular criada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre em 1970, em oposição ao Concílio Vaticano II e suas reformas.

Em 1988, indo contra uma proibição expressa da Santa Sé, dom Lefebvre sagrou quatro bispos para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, em Écône, Suíça: Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta.

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No dia seguinte à sagração dos bispos, 1º de julho de 1988, a Congregação para os Bispos da Santa Sé emitiu decreto declarando que Lefebvre e os quatro bispos ordenados tinham incorrido em excomunhão latae sententiae reservada à Sé Apostólica.

Em 2 de julho de 1988, o papa são João Paulo II publicou a carta apostólica Ecclesia Dei. O documento diz sobre a ordenação dos quatro bispos: “Em si mesmo, tal ato foi uma desobediência ao Romano Pontífice em matéria gravíssima e de importância capital para a unidade da Igreja, como é a ordenação dos bispos, mediante a qual é mantida sacramentalmente a sucessão apostólica. Por isso, tal desobediência ― que traz consigo uma rejeição prática do Primado romano ― constitui um ato cismático. Ao realizar tal ato, não obstante a advertência formal que lhes foi enviada pelo Prefeito da Congregação para os Bispos no passado dia 17 de junho, Mons. Lefebvre e os sacerdotes Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta, incorreram na grave pena da excomunhão prevista pela disciplina eclesiástica”.

O papa Bento XVI suspendeu a excomunhão em 2009, embora tenha escrito numa carta que a FSSPX não tem status canônico e, portanto, "seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja". Na época, dom Bernard Fellay era o superior geral da FSSPX, cargo que ocupou de 1994 a 2018.

O papa Francisco determinou que, durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia de 2015-2016, as confissões ouvidas pelos padres da FSSPX fossem válidas. Depois, o papa estendeu a validade dessa ordem indefinidamente.

Centro Dom Bosco e FSSPX

A Associação Civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, conhecida como Centro Dom Bosco, é uma associação de leigos que “se reúnem para rezar, estudar e defender a fé”, diz o seu site oficial. Afirma ter a missão de “ajudar a resgatar a bimilenar Tradição da Igreja por meio de livros, aulas e iniciativas apologéticas”.

Em junho, ao divulgar a realização, em agosto, do VIII Fórum Nacional da Liga Cristo Rei, o CDB afirmou sua aproximação com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Na época, divulgaram que uma das novidades deste ano no evento era a “presença de padres ligados à Fraternidade Sacerdotal São Pio X”, que estariam “palestrando, atendendo confissões e celebrando a missa de sempre”, como se referem à missa no rito romano anterior à reforma do Concílio Vaticano II estabelecido pelo Concílio de Trento no século XVI.

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A arquidiocese do Rio de Janeiro reagiu com uma nota assinada pelo delegado episcopal para a atenção pastoral dos grupos de fiéis que celebram o rito romano segundo o missal anterior à reforma de 1970, monsenhor André Sampaio de Oliveira. Na nota, a arquidiocese orientou os fiéis católicos a não participarem de eventos promovidos pelo Centro Dom Bosco, depois que esta instituição “se autodeclarou sob a direção” da Fraternidade Sacerdotal São Pio X “e de ministros que a ela pertencem ou a suas comunidades amigas”.

A arquidiocese também falou especificamente sobre a FSSPX, na nota, dizendo que a fraternidade “ostenta sérias oposições em matéria de obediência à autoridade de todos os papas exercida desde o Concílio do Vaticano II, bem como oposições às próprias diretrizes do mesmo Concílio”.

Disse ainda que enquanto a FSSPX “não tiver uma posição canônica legítima na Igreja, também os seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja”. Por isso, “os fiéis católicos devem abster-se de participar das atividades promovidas por tal Fraternidade ou por associações jurídica ou espiritualmente a ela vinculadas, como é o caso agora do Centro Dom Bosco”, completou.