24 de out de 2025 às 15:27
O avanço da violência e dos ataques contra locais de culto e fiéis, tradicionalmente associados a regiões de conflito, tem visto um aumento preocupante nos últimos anos na Europa, América do Sul e América do Norte.
Segundo o relatório mais recente da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), a França registrou cerca de mil ataques a igrejas em 2023, e cerca de 600 atos de vandalismo foram registrados na Grécia. Aumentos semelhantes foram registrados na Espanha, na Itália e nos EUA, onde os ataques não visam só objetos sacros, mas também há interrupções de cultos e ataques a clérigos.
"Esses ataques refletem um clima de hostilidade ideológica em relação à religião", disse José Luis Bazán, um dos autores do relatório, à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI. Para Bazán, os incidentes não são mais só episódios isolados: "Ataques ou atos de vandalismo contra locais de culto são uma pandemia".
Bazán se concentra num fenômeno que atravessa continentes: "Estou falando basicamente da Europa e do mundo anglo-saxão — Canadá, EUA, Nova Zelândia, Austrália — e, por extensão, também da América Latina, particularmente do Cone Sul: Chile e Argentina". No Chile, diz ele, foram registrados cerca de 300 ataques de vandalismo contra igrejas, alguns ligados a grupos de extrema-esquerda e a momentos de tensão social, com exemplos de incêndios e atentados no sul do país.
“Temos elementos fragmentados aqui e ali, mas se você juntar todos eles, verá uma tendência ascendente”, diz Bazán.
Bazán também cita episódios coordenados de vandalismo em dias como 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em vários países da América Latina e da Europa. Ele diz que na Colômbia, no Peru, no Chile e na Argentina, "há ataques feministas radicais contra igrejas".
"Às vezes, vandalizam-nas com slogans, como na Espanha também, como Tirem os rosários dos nossos ovários, ou um ainda mais duro, que dizia algo como Vocês beberão o sangue dos nossos abortos. Colocam isso em frente à co-catedral de Logroño", diz ele.
Bazán também cita o caso do artista Abel Azcona, que "roubou de igrejas, assistiu a cerca de 200 missas e roubou hóstias", escrevendo a palavra "pederastia" no chão com elas. "O caso chegou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que infelizmente não entendeu completamente o significado da hóstia consagrada pelos cristãos e a só a considerou um objeto como qualquer outro", diz ele.
O especialista destaca a gravidade do fato de que essa interpretação judicial deu "margem para palavrões, e a partir de agora qualquer um pode roubar hóstia".
“Há uma impunidade enorme”
Bazán, que é consultor jurídico sobre liberdade religiosa na COMECE (Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia), também denuncia a "enorme impunidade" em torno desses ataques.
De qualquer modo, o especialista ressalta que, em caso de vandalismo, "às vezes é difícil saber quem está fazendo isso…"
"São ataques feitos à noite, em igrejas remotas, sem câmeras...", diz Bazán, falando também sobre a fragilidade a que o patrimônio religioso está exposto.
"Estamos falando de dezenas de milhares de igrejas na Europa, muitas delas frágeis e em áreas de difícil acesso", disse ele, dizendo que a dispersão de um grande número de templos, ermidas e capelas em áreas rurais dificulta a prevenção e a investigação.
“Perseguição de colarinho branco”
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O relatório da ACN também fala sobre a crescente pressão sobre a liberdade de consciência na Europa. Para falar sobre isso, o especialista cita o papa Francisco: "Ele denunciou essa perseguição de colarinho branco. Basicamente, o que está acontecendo é uma tentativa de sequestrar a consciência das pessoas", diz Bazán.
Como diz ele, essa maneira de assédio "passa despercebida, porque, em geral, no Ocidente, as pessoas podem ir à igreja, praticar ritos, sacramentos e assim por diante". No entanto, "a questão é o que também acontece na vida social".
Liberdade de consciência sob pressão
O jurista oferece exemplos concretos dessas restrições: "O que acontece, por exemplo, nas universidades quando há um professor que defende uma posição segundo princípios religiosos, ou um médico ou enfermeiro que decide não fazer um aborto e não quer ser, digamos, sujeito a nenhuma vitimização ou punição?", diz ele, citando o exemplo da Espanha, onde se tenta criar uma lista de médicos que se opõem ao aborto, o que teria consequências práticas para suas carreiras.
"Eles provavelmente não poderão fazer parte do comitê de ética do hospital, provavelmente não terão a chance de ter acesso a uma posição de gerência numa unidade, por exemplo, em ginecologia. Em outras palavras, há muitas consequências", diz ele, dizendo que isso também pode ser aplicado a qualquer área profissional.
Autocensura: O modo mais aperfeiçoado de censura
Outra área de preocupação no Ocidente é a “censura indireta ou autocensura”, na qual a pessoa, por conta própria e sem a intervenção de censores, “entende que é melhor não fazer algo porque senão haverá consequências”.
Bazán identifica essas maneiras de censura indireta, que ele define como o modo mais sofisticado de censura clássica, "por meio de proxies, por exemplo, ou por meio de plataformas online que são obrigadas a estabelecer uma política de moderação de conteúdo que introduz elementos proibitivos por parte do Estado". De qualquer modo, nesses casos, "não é o Estado que censura, é a plataforma".
O resultado, diz ele, é que "a pessoa censurada simplesmente verá que a mensagem não aparece mais porque desapareceu da plataforma. E pode até receber uma mensagem dizendo que não poderá publicar nada nas redes sociais por um determinado período".
Em muitos casos, diz Bazán, "verificadores de fatos, que muitas vezes são organizações não-governamentais (ONGs) com viés ideológico, simplesmente tentam censurar certos tipos de mensagens que contrariam uma maneira particular de entender a sociedade".
“Um muro invisível” e regulamentações europeias restritivas
Bazán diz que "a dissidência é evitada" e que cristãos "podem ver uma espécie de muro invisível, que ninguém denuncia. Em muitos casos, o muro sequer é estabelecido pelo Estado, mas sim por uma combinação de elementos estatais e não estatais, em que é muito difícil determinar quem, em última análise, está gerando essa situação".




