O papa Leão XIV disse que não se pode servir a Deus e à riqueza e pediu orações para que os políticos não transformem o capital que administram em “armas que destroem as pessoas”.

“Hoje, em particular, a Igreja reza para que os governantes das nações sejam livres da tentação de usar a riqueza contra o homem, transformando-a em armas que destroem os povos e em monopólios que humilham os trabalhadores”, disse na homilia da missa que celebrou na manhã de ontem (21) na paróquia de Santa Ana.

Essa igreja, que fica dentro dos muros do Vaticano, está confiada desde 1929 à Ordem Agostiniana, à qual o papa Leão XIV pertence.

Em seu sermão, Leão XIV convidou os fiéis a perseverar com esperança na oração "num tempo seriamente ameaçado pela guerra".

"Povos inteiros são hoje esmagados pela violência e ainda mais por uma indiferença descarada, que os abandona a um destino de miséria", disse.

Ele também exortou a não ser passivo "diante dessas tragédias" e convocou a anunciar "com palavras e obras que Jesus é o Salvador do mundo, Aquele que nos liberta de todo o mal".

Ao comentar o Evangelho do dia, que narra a parábola do administrador infiel, ele disse que não se pode servir a Deus e às riquezas.

“Não se trata de uma escolha contingente, como tantas outras, nem de uma opção revisível ao longo do tempo, dependendo das situações”, disse o papa. “É preciso decidir um verdadeiro estilo de vida. Trata-se de escolher onde colocar o nosso coração, de esclarecer quem amamos sinceramente, a quem servimos com dedicação e qual é realmente o nosso bem”.

Jesus contrapõe a riqueza com Deus

“É por isso que Jesus contrapõe precisamente a riqueza a Deus: o Senhor fala assim porque sabe que somos criaturas indigentes, que a nossa vida está cheia de necessidades. Desde que nascemos, pobres e nus, todos precisamos de cuidados e afeto, de uma casa, de comida, de roupa”, disse o papa Leão XIV.

“A sede de riqueza corre o risco de tomar o lugar de Deus no nosso coração, quando pensamos que é ela que salva a nossa vida”, continuou.

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Ele também se concentrou na tentação de pensar que “sem Deus poderíamos viver bem, enquanto que sem riqueza seríamos tristes e afligidos por mil necessidades”.

“Quem serve a Deus torna-se livre da riqueza, mas quem serve a riqueza permanece escravo dela! Quem busca a justiça transforma a riqueza em bem comum; quem busca o domínio transforma o bem comum em presa da sua própria ganância”, disse.

Uma revolução interior

A Palavra do Senhor, continuou o papa, “não opõe os homens em classes rivais, mas exorta todos a uma revolução interior, uma conversão que começa no coração”.

O papa disse que a providência de Deus alcança os pobres materialmente, bem como aqueles que sofrem a miséria espiritual ou moral, “que aflige tanto os poderosos como os fracos, os indigentes como os ricos”.

Leão XIV comentou que a Igreja de Santa Ana fica “na fronteira”, na entrada do Vaticano, um ponto de passagem para trabalhadores, peregrinos e visitantes. Ele pediu que esta paróquia, construída no século XVI e sede da histórica Confraria dos Palafrenieri Pontifícios, responsável pelas cavalarias papais, seja um espaço aberto ao encontro, à oração e à caridade.

A missa foi concelebrada pelo novo prior dos agostinianos, padre Joseph Farrell, e pelo pároco, padre Mario Millardi. A celebração também contou com a presença do padre Gioele Schiavella, também agostiniano, que fez 103 anos. Em sua homilia, o papa lembrou que Schiavella foi pároco desta igreja de 1991 a 2006 e que ele mora lá atualmente.

A visita do papa Leão XIV à paróquia de Santa Ana tem um forte valor simbólico: como cardeal, Robert Francis Prevost ele celebrou a missa nesta mesma igreja em 26 de julho de 2024, memória litúrgica dos Santos Joaquim e Ana, pais da Virgem Maria.

Depois dos Pactos Lateranenses, em 30 de maio de 1929, que estabeleceram a autonomia do Vaticano em relação à Itália, então sob o governo do líder fascista Benito Mussolini, Pio XI elevou a igreja à categoria de paróquia por meio da constituição apostólica Ex Lateranensi pacto e confiou sua pastoral aos agostinianos. O primeiro pároco, padre Agostino Ruelli, foi nomeado alguns meses depois, em 7 de agosto de 1929. Atualmente, a comunidade é liderada pelo padre agostiniano Mario Millardi.

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Os papas na paróquia de Santa Ana

Os papas tiveram uma relação especial com a paróquia de Santa Ana ao longo dos anos. Pio XI foi pessoalmente à inauguração do órgão em 1931; João XXIII visitou-a em 1961; são Paulo VI celebrou os 50 anos de sua ordenação sacerdotal lá, em 1970; são João Paulo II a chamou de “minha paróquia” durante uma visita em dezembro de 1978; Bento XVI celebrou uma missa lá em 2006; e o papa Francisco a escolheu como local para sua primeira missa pública em 17 de março de 2013.