O padre Gabriel Romanelli, pároco da única igreja católica em Gaza, a paróquia da Sagrada Família, disse ontem (18) que uma ordem de retirada da população do bairro de al-Zaytun, ao redor da paróquia na Cidade de Gaza foi dada pelas Forças de Defesa de Israel.

A ordem de ontem fazia parte de um plano israelense mais amplo para realocar palestinos do norte de Gaza, onde fica a paróquia, para zonas designadas no sul. No início deste mês, Israel revelou seu plano de ocupar Gaza.

Romanelli expressou preocupação sobre a viabilidade de realocar os 2,3 milhões de habitantes de Gaza, porém, perguntou: "Onde eles podem encontrar espaço para todos os habitantes?" Ele disse que Israel estava distribuindo tendas para facilitar a evacuação.

Os militares israelenses disseram que o plano de realocação é necessário para proteger os civis em meio à guerra de dois anos em andamento, que levou a uma crise humanitária devido à grave escassez de alimentos, água e suprimentos médicos, com a Cáritas Jerusalém dizendo que "pessoas estão morrendo de fome" e "todas as crianças estão sofrendo de desnutrição".

Apesar da ordem de evacuação, Romanelli notou “sinais contraditórios”, dizendo que um grupo de ajuda continuou a distribuir vegetais aos civis.

O complexo da paróquia da Sagrada Família, que contém uma escola, um convento, um centro multiuso e um prédio das Missionárias da Caridade, tem servido como abrigo desde o início da guerra em outubro de 2023. Cerca de 600 pessoas, a maioria das quais são cristãos ortodoxos, protestantes e católicos, assim como pelo menos 50 crianças muçulmanas com deficiência e suas famílias vivem ali.

Paróquia foi atingida

Três civis foram mortos e o padre Romanelli e outras oito pessoas ficaram feridas num ataque acidental de Israel à igreja em julho passado.

Em resposta ao ataque, o papa Leão XIV disse que “é hora de acabar com esse massacre” e reafirmou seu apelo por um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, expressando seu desejo de diálogo, reconciliação e paz duradoura na região.

Na plataforma de mídia social X, no dia do ataque, o relato do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, dizia: “Israel lamenta profundamente que um projétil perdido tenha atingido a Igreja da Sagrada Família em Gaza. Cada vida inocente perdida é uma tragédia. Compartilhamos a dor das famílias e dos fiéis”.

“Somos gratos ao papa Leão por suas palavras de conforto. Israel está investigando o incidente e continua comprometido em proteger os civis e os locais sagrados”, disse o primeiro-ministro.

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As Forças de Defesa de Israel disseram lamentar o ataque e disseram depois da investigação que o ataque foi acidental, chamando-o de "desvio de munições".

Em 18 de julho, o patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, visitou a paróquia da Sagrada Família junto com o patriarca ortodoxo grego Teófilo III para oferecer apoio depois do ataque.

Israelenses protestam

Em Tel Aviv, Israel, centenas de milhares de pessoas protestaram contra o governo israelense no fim de semana, exigindo o fim da guerra e argumentando que o plano de Israel de ocupar Gaza poderia colocar em risco os cerca de 20 reféns vivos ainda mantidos pelo Hamas.

Em relação à sua ocupação, Israel tem um plano de cinco etapas que inclui desarmar o Hamas, libertar todos os reféns vivos e mortos, desmilitarizar a Faixa de Gaza, estabelecer o controle israelense temporário sobre o enclave e, eventualmente, substituir o Hamas por uma administração civil árabe.

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O Hamas é um grupo terrorista muçulmano que luta pela destruição do Estado de Israel e tomou o poder na Faixa de Gaza em uma guerra civil com a Autoridade Palestina em 2007.

Netanyahu disse sobre os protestos de domingo, que levaram a dezenas de prisões: "Aqueles que hoje pedem o fim da guerra sem derrotar o Hamas não estão só endurecendo a posição do Hamas e atrasando a libertação de nossos reféns, eles também estão garantindo que os horrores de 7 de outubro se repitam", referindo-se ao ataque do Hamas contra Israel em 2023 que matou 1,2 mil pessoas e deu início à guerra.

Na missa de domingo (17) na Igreja da Sagrada Família, uma explosão danificou um tanque de água próximo, embora não tenha havido feridos no incidente.

“Mais um domingo de guerra”, disse Romanelli.