O Fundo de População da Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês) recomenda autonomia reprodutiva, “a capacidade de uma pessoa de fazer escolhas livres e informadas sobre sexo, contracepção e constituição de família — se, quando e com quem quiser”, como solução para o declínio da taxa global de fertilidade. Para isso, a UNFPA apoia mais educação sexual nas escolas, maior acesso a contraceptivos e aborto, adoções por uniões homossexuais, acesso à tecnologia de reprodução assistida e o desmantelamento das normas tradicionais de gênero.

Teoria de gênero é a militância política baseada é a ideia de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da CNBB.

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.

A UNFPA, junto com a YouGov, entrevistou cerca de 14 mil adultos em 14 países: EUA, Índia, Alemanha, Hungria, Suécia, Itália, México, Brasil, Tailândia, Coreia do Sul, Indonésia, Nigéria, Marrocos e África do Sul.

O relatório The Real Fertility Crisis: The Pursuit of Reproductive Agency in a Changing World (A Real Crise da Fertilidade: A Busca da Agência Reprodutiva num Mundo em Transformação) constatou que cerca de 39% das pessoas pesquisadas que desejam ter filhos disseram que limitações financeiras como falta de segurança no emprego, limitações de moradia e opções de cuidados infantis como motivos para ter menos filhos do que o desejado. Cerca de 19% das mulheres entrevistadas disseram que o medo em relação ao futuro contribui para a expectativa de ter menos filhos.

Só 37% responderam que esperam ter o número de filhos que desejam.

Quase um quarto dos entrevistados disseram que não conseguiram realizar o desejo de ter um filho no momento desejado.

A fertilidade tem diminuído drasticamente nos EUA e em outras partes do mundo ocidental há cerca de 50 anos e também apresentou tendência de queda em outras partes do mundo nas últimas décadas.

“Uma em cada quatro pessoas vive atualmente em um país onde se estima que a população já tenha atingido o pico. O resultado serão sociedades como nunca vimos antes: comunidades com proporções maiores de idosos, parcelas menores de jovens e, possivelmente, forças de trabalho menores”, disse o relatório da UNFPA.

Autonomia reprodutiva

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Embora o UNFPA tenha reconhecido preocupações sobre o envelhecimento da população causado pela falta de filhos, o relatório concluiu que "a verdadeira crise" revelada pelas descobertas é a falta de "autonomia reprodutiva", dizendo que as pessoas "são incapazes de realizar suas aspirações de fertilidade", com algumas tendo mais filhos do que o desejado e outras tendo menos.

“Descobrimos que, quando fazemos as perguntas certas, conseguimos enxergar tanto o problema quanto a solução com clareza”, diz o relatório.

O relatório criticou campanhas que incentivam as pessoas a constituir família. Ele disse que os créditos fiscais para pais "podem dar uma ajuda crucial", mas também podem estigmatizar as pessoas que os recebem, e que incentivos para famílias maiores ou menores podem "levar a restrições à escolha reprodutiva, aumentando a vulnerabilidade de homens e mulheres à coerção de parceiros, familiares ou parentes por afinidade".

"Qual é a alternativa às políticas que buscam influenciar as taxas de fecundidade? Políticas que expressamente — na letra e no espírito — afirmam os direitos de mulheres e homens de fazerem suas próprias escolhas", disse o relatório.

Rebecca Oas, diretora de pesquisa do Centro de Família e Direitos Humanos (C-Fam), disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, que “a baixa fertilidade é um tópico importante e oportuno a ser abordado”, mas o relatório é, “como todos os relatórios [do UNFPA], apresentado como um modo de promover as prioridades e valores típicos do UNFPA”.

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A diretora, cuja organização promove valores pró-vida e pró-família em escala global, disse que a estrela-guia do UNFPA é a "saúde e os direitos sexuais e reprodutivos", como o aborto. Ela disse que o relatório ignorou o principal argumento contra o aborto: a oposição à "retirada de vidas humanas inocentes".

Segundo Oas, os argumentos do relatório foram, em sua maioria, “apresentados com uma antipatia presumida em relação a qualquer coisa que pudesse apontar para valores tradicionais, normas de gênero e entendimentos sobre a família”.

“A definição do UNFPA sobre o que constitui o florescimento humano envolve a redefinição da família, a microgestão dos cuidados dentro do lar pelo Estado e o acesso legal e subsidiado pelo governo à contracepção e ao aborto”, disse ela.

Catherine Pakaluk, professora de economia na Universidade Católica da América considera as conclusões do UNFPA “ridículas”.

"Não acho que eles realmente tenham a mínima ideia do porquê as pessoas não estão escolhendo ter filhos”, disse Pakaluk à CNA. “A dificuldade não é controlar a fertilidade — nós sabemos como fazer isso".

Catherine criticou o relatório por criticar as normas tradicionais de família e gênero, dizendo que muitas partes da Europa fizeram isso e "simplesmente não vemos uma recuperação nas taxas de natalidade".

Ela disse que as comunidades que tendem a ter altas taxas de natalidade são aquelas baseadas na “religião tradicional e bíblica — pessoas que são incrivelmente religiosas”.

“Pessoas que acreditam que Deus ama as crianças e quer abençoá-los com filhos parecem ter muito mais filhos”, disse Pakaluk.

Embora Pakaluk tenha dito que algumas pessoas podem adiar a gravidez por razões financeiras, ela disse que isso também não dá uma resposta sobre as taxas de fertilidade mais baixas, pois "à medida que os países enriqueceram, as pessoas tiveram menos filhos". Ela disse que se trata mais de "capacidade de pagar por um estilo de vida, não pela capacidade de gerar caixa".

“Eles não conseguem priorizar as crianças nessa cesta de coisas que estão buscando”, disse Pakaluk. “Acredito que podemos fazer a diferença. O lugar para fazer a diferença é trabalhando para ajudar as pessoas a enxergarem o valor das crianças”.