Com as taxas de fertilidade caindo no mundo a níveis abaixo da taxa de substituição, mesmo os países majoritária e historicamente católicos não estão livres do colapso demográfico.

A fertilidade global diminui há décadas, especialmente nos países industrializados com padrões de vida elevados. As taxas de fertilidade em muitos países em desenvolvimento com recursos escassos, especialmente na África Subsaariana, continuam a subir. Segundo dados do Banco Mundial, muitos dos países mais desenvolvidos do mundo estão muito abaixo da “taxa de reposição” de 2,1 filhos por mulher necessária para manter uma população estável.

Nos EUA, a taxa global de fertilidade em 2021 era de cerca de 1,7, e caiu para 1,6 dois anos depois; no Reino Unido, em 2021, era cerca de 1,6; na Grécia cerca de 1,4. O Japão e a Coreia do Sul têm algumas das taxas de natalidade mais baixas do mundo, com 1,3 e 0,81, respectivamente.

Com a proibição tradicional aos meios contraceptivos, os católicos foram associados a elevadas taxas de fertilidade, reafirmada claramente em 1968 na encíclica Humanae Vitae, de são Paulo VI, que fala dos filhos como “o dom mais excelente do matrimônio”.

Mesmo assim, números de fertilidade abaixo do nível de substituição ocorrem mesmo em países com uma população majoritariamente católica ou com níveis historicamente elevados de católicos. Um painel recente feito na Universidade Católica da América, nos EUA, moderado pelo colunista do New York Times, Ross Douthat, analisou as razões disso, como a perda da fé e a mudança de valores culturais.

Alguns países com elevados níveis de católicos ainda registram elevados níveis de fertilidade: Angola, por exemplo, tem mais de 50% da população católica e registra uma taxa de fertilidade de 5,6 — bem acima da média global. O Paraguai, por sua vez, é cerca de 90% católico e tem uma taxa de fertilidade de 2,5, acima do nível de reposição.

No entanto, outros países há muito conhecidos pelos elevados níveis de catolicismo estão, no entanto, bem abaixo dos níveis de substituição: a Polônia, com mais de 90% da população de católicos, tem uma taxa de fertilidade de 1,3; a Espanha, com 75% da população de católicos, é ainda mais baixa, com 1,2. O México é mais de 80% católico, mas ainda está abaixo do nível de substituição, com 1,8 filhos por mulher.

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Um estudo do National Bureau of Economic Research feito em 2012 concluiu que “países fortemente católicos” na Europa no início da década de 1970 “tinham uma fertilidade quase de meio filho por mulher superior” à dos países não católicos pesquisados. No final do século XX, esses mesmos países católicos tinham taxas de fertilidade consideravelmente mais baixas do que os países não católicos.

O estudo de 2012 argumentou que o declínio poderia ser atribuído ao fato da Igreja Católica “recuar em meados da década de 1960 na prestação de uma variedade de serviços amigos da família”, incluindo “educação, saúde, bem-estar e outros serviços sociais”, tornando assim mais caro ter filhos. Além disso, as pesquisas mostram que a grande maioria dos católicos acredita que o controle da natalidade é aceitável, enquanto outros dados indicam que a grande maioria das mulheres católicas utiliza alguma forma de contracepção artificial.

No entanto, os líderes da Igreja têm alertado sobre o declínio das taxas de fertilidade nos últimos anos.

A Santa Sé anunciou em 2 de maio que o papa Francisco vai discursar hoje (10) num evento sobre a crise demográfica da Itália, numa altura em que a taxa de natalidade do país se encontra num mínimo histórico.

O papa já descreveu o baixo número de nascimentos como “um número que revela uma grande preocupação com o amanhã”. Ele também criticou o que descreve como “clima social em que constituir família se transformou num esforço titânico, em vez de ser um valor compartilhado que todos reconhecem e apoiam”.

Francisco também descreveu as taxas de fertilidade em queda como uma “emergência social” em 2022, argumentando que embora a crise “não fosse imediatamente perceptível, como outros problemas que ocupam as notícias”, é, no entanto, “muito urgente”, na medida em que as baixas taxas de natalidade “empobrecem o futuro de todos.”

Em um evento da Organização das Nações Unidas (ONU) este mês, o observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, dom Gabriele Caccia, argumentou que a contracepção e o controle populacional “não são a chave para o desenvolvimento sustentável”, dizendo que é “essencial garantir que todos os homens, mulheres e crianças tenham a oportunidade para realizar todo o seu potencial.”

Em 2019, o então bispo de San Sebastián, na Espanha, dom José Ignacio Munilla Aguirre, alertou sobre o “panorama desolador da Espanha em termos de taxa de natalidade”, um número que ele disse constituir “um dos sinais mais óbvios da crise de valores sofrida pelo Ocidente”.

Enquanto isso, dados provisórios publicados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) no mês passado mostraram que a taxa de fertilidade nos EUA atingiu um nível negativo recorde em 2023 , caindo para pouco mais de 1,6 nascimentos por mulher, um declínio de 2% em relação ao ano anterior.

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