Na semana passada, o padre cubano Alberto Reyes deu início a um protesto pacífico contra a situação em Cuba: tocou os sinos de sua paróquia todas as noites em que não havia eletricidade.

O padre da arquidiocese de Camagüey havia anunciado seu plano na última sexta-feira (17) em sua coluna “He Estado Pensando” (Estive Pensando) publicada no Facebook para refletir sobre a realidade da vida em Cuba.

Em sua publicação, Reyes encorajou os cubanos a parar de colaborar com o regime não comparecendo a reuniões políticas oficiais ou não se juntando às brigadas de resposta rápida usadas para reprimir opositores entre outras medidas.

Em vez disso, convidou seus compatriotas a "falar com base na verdade, publicamente e a partir do que é evidente, da realidade que não pode ser negada, sem mentir, sem justificar o injustificável. E rezem, para que a liberdade com a qual Deus nos criou avance em nossa terra".

"Eu, de fato, pensei em um caminho, e é o seguinte: a partir de agora, todas as noites que não tivermos eletricidade, tocarei os sinos da igreja 30 vezes, com o toque lento dos cortejos fúnebres, com o toque que anuncia a morte e o luto: a morte agonizante de nossa liberdade e de nossos direitos, o sufocamento e o colapso de nossas vidas", escreveu Reyes, pároco na cidade de Esmeralda.

Depois de duas noites, o padre foi ordenado a interromper seu protesto.

No Facebook, o leigo cubano Osvaldo Gallardo, que atualmente mora nos EUA e mantém contato com Reyes, disse que o arcebispo de Camagüey, dom Wilfredo Pino, mandou o padre interromper sua iniciativa.

"Por trás dessa proibição, sem dúvida, está Caridad Diego Bello e seu Escritório de Assuntos Religiosos a serviço do PCC [Partido Comunista de Cuba]", disse Gallardo.

Ao citar fontes próximas à Igreja, o meio de comunicação cubano 14ymedio disse que o pedido de Pino era "claro" e "para o bem da Igreja e do padre Alberto".

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Segundo a reportagem, "as pressões do Escritório de Assuntos Religiosos do PCC, chefiado por Caridad Diego, são constantes, mas nos últimos três anos, depois das manifestações de 11 de julho de 2021, elas se intensificaram, especialmente com a proibição de procissões e celebrações em inúmeras igrejas por medo de novos protestos".

O Escritório de Assuntos Religiosos do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba "gerencia os diferentes aspectos da vida religiosa" no país, conforme consta no Relatório de Liberdade Religiosa de 2023 da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).

Sobre isso, Reyes escreveu em sua coluna de 14 de dezembro de 2022 que esse escritório é "encarregado de controlar a prática da fé, de supervisionar cada movimento da Igreja e de chamar insistentemente os bispos e superiores quando o que um padre ou religioso diz ou faz os incomoda, para tentar torná-los aqueles que 'deixam aquele padre ou religioso de joelhos' enquanto os que realmente estão por trás disso são deixados de mãos limpas".

Reyes em perigo

Gallardo disse à ACI Prensa que pediu aos cristãos que orem pela segurança pessoal de Reyes. "Segundo a minha opinião e julgamento, ele está em perigo porque é difícil ser profeta em Cuba, (...) onde ele pode ou não encontrar apoio nas pessoas ao seu redor, até mesmo dentro da própria Igreja", disse.

Gallardo disse que o pároco de Esmeralda "levanta a voz" há anos em apoio a todo o povo cubano "para denunciar, para conscientizar sobre a realidade" do país. “Não há liberdade religiosa em Cuba, não há liberdade em Cuba, de forma alguma", acrescentou.

"Cuba sofre e a Igreja Católica em Cuba sofre a repressão de um regime que ignora todas as demandas do povo ou por liberdade", enfatizou Gallardo.

Gallardo reiterou assim seu pedido para que fiéis e pessoas de boa vontade rezem "pelo padre Alberto, porque acredito que sua segurança pessoal e sua liberdade podem estar em perigo neste momento".