Depois do anúncio de autoridades indianas de que o Domingo de Páscoa seria dia útil este ano ter sido recebido com protestos generalizados por parte dos cristãos, o governador do Estado de Manipur, no nordeste da Índia, restabeleceu o feriado.

A reversão de hoje (28) pelo governo do estado de Manipur, liderado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP, na sigla em inglês), ocorreu 24 horas depois do governador de Manipur, Anusuiya Uikey, cancelar o feriado da Páscoa.

“Em modificação parcial da ordem governamental… datada de 27 de março de 2024, o governador de Manipur tem o prazer de declarar que apenas 30 de março de 2024 [sábado] será dia útil para todos os cargos governamentais”, diz a ordem.

O governo havia anunciado anteriormente na terça-feira (26) que “o governador de Manipur tem o prazer de declarar os dias 30 [sábado] e 31 [domingo] de março de 2024 como dias úteis para todos os cargos governamentais”.

Os cristãos representam quase metade da população de 3,7 milhões de pessoas de Manipur.

O arcebispo de Imphal, dom Linus Neli, que lidera a Igreja Católica com 100 mil membros no Estado, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, que a Igreja protestou junto a funcionários do governo contra o cancelamento do feriado da Páscoa.

“Estamos pressionando as autoridades competentes, aguardando respostas”, disse Neli.

Meia hora depois, o arcebispo divulgou a “ordem revista do governo relativa ao dia útil” à CNA.

Dançarinos tribais na missa de posse do arcebispo de Imphal, dom Linus Neli. Anto Akkara
Dançarinos tribais na missa de posse do arcebispo de Imphal, dom Linus Neli. Anto Akkara

Antes disso, vários grupos cristãos, incluindo os de Manipur, apelaram pelo cancelamento da ordem que surpreendeu os cristãos em todo o país.

“A decisão de declarar esses dias sagrados como dias normais de trabalho não é apenas insensível, mas também desrespeitosa aos sentimentos religiosos de uma parte significativa da população de Manipur”, lamentou a União Católica do Distrito de Senapati de Manipur ao condenar a ordem do governador na manhã de hoje (28).

Dos 3,7 milhões de cristãos no estado de Manipur, 26% são da etnia Naga, 16% são membros das tribos kuki e mais de 10% dos quase 2 milhões de meiteis também se converteram ao cristianismo em Manipur.

“Ao obrigar os gabinetes governamentais a operar nestes dias santos, a ordem não só desconsidera os direitos religiosos da comunidade cristã, mas também falha em reconhecer a diversidade cultural e o pluralismo religioso que devem ser defendidos e respeitados em uma sociedade democrática”, disse o fórum católico do distrito de Senapati.

“O cúmulo da insanidade do governo de Manipur”, disse à CNA um pastor cristão de Manipur que dirige uma faculdade teológica nos arredores de Manipur.

“O que está acontecendo é que Manipur não é novidade”, disse o colunista e ativista católico John Dayal, à CNA. “Os governos do BJP, tanto em nível nacional como em vários Estados, tentaram insultar e interferir nos dias sagrados cristãos como o Natal, a Sexta-Feira Santa e a Páscoa várias vezes no passado”.

“Em 2002, acionei com sucesso a Suprema Corte de Délhi contra a tentativa de transformar a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa em 'dias úteis' contra Atal Behari Vajpayee”, então primeiro-ministro, disse Dayal, que foi membro do Conselho Nacional de Integração chefiado pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

“Essa medida em Manipur segue o esquema consistente do [primeiro-ministro] Modi de reduzir os direitos do cristianismo e do islamismo na nova 'Bharat'.” Nome antigo da nação dos hindus que o partido nacionalista BJP propõe retomar em vez de Índia.

Desde maio de 2023, Manipur tem visto um confronto violento e prolongado entre os meiteis, compostos em sua maioria por hindus, e a minoria kukis totalmente composta por cristãos, que deixou mais de 230 mortos segundo os números oficiais. Mais de 50 mil cristãos kuki foram expulsos do vale de Imphal, junto com mais de 10 mil meiteis que foram expulsos de redutos kuki.

Em meio à violência, mais de 600 igrejas também foram destruídas. A maioria deles eram kuki, mas 250 igrejas cristãs meiti também foram destruídas, no que é visto como uma tentativa de impedir a conversão de meiteis ao cristianismo.

Enquanto isso, em outra boa notícia para a comunidade cristã, a irmã carmelita Mercy, que foi presa sob a acusação de “encorajar o suicídio” de uma menina da sexta série na Carmel School em Ambikapur, no estado de Chattisgarh, foi libertada hoje (28) sob fiança pelo tribunal em primeira instância.

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