A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) publicou na Segunda-feira Santa (25), o testemunho de um padre sequestrado em 2020, “uma das centenas” que nas últimas décadas sofreu este flagelo na Nigéria.

O padre Idahosa Amadasu, da diocese de Benin, Nigéria, foi preso em julho de 2020 numa via conhecida pelos sequestros que nela ocorrem. Ele parou o carro em que viajava para evitar que os criminosos continuassem atirando.

“Percebi depois que tive bastante sorte. O motorista do carro logo atrás do meu foi morto a tiros, e se o padre que queria me acompanhar estivesse no carro, ele certamente teria sido morto também”, contou.

Segundo o padre, os sequestradores o obrigaram a caminhar pelas montanhas e o obrigaram a vestir uma casula verde que carregava no carro, uma vestimenta litúrgica que usou durante as quatro noites e cinco dias em que foi sequestrado e que o protegeu do frio e da chuva.

Amadasu disse que o ameaçavam constantemente e que ele tinha que pedir permissão para tudo. “Eu estava mais preocupado que eles não tirassem minha liberdade interior; que o clima de medo não consumisse minha paz interior”.

O padre nigeriano disse ainda: “Cada vez que ficava com medo ou eles me ameaçavam com suas armas, eu me lembrava de que o Deus a quem sirvo é maior do que suas armas”.

“Também rezava frequentemente a oração a são Miguel, porque há algo bastante demoníaco em um ambiente onde a vida humana não importa, ou quando o dinheiro é valorizado acima da vida”. “Sempre confiei na proteção especial do rosário, e estava rezando o rosário quando encontrei os sequestradores”, continuou.

“Em certo momento, perguntei a Deus por que Ele permitiu que isso acontecesse. Mas é reconfortante saber que a proteção especial de Deus não é apenas aquela que impede que infortúnios aconteçam, mas sim que Ele impede que tais infortúnios nos consumam”.

O padre rezava pela conversão de seus sequestradores

“Houve às vezes atos de bondade inesperados. Isso, e o modo como frequentemente se referiam a Deus, realmente me fez pensar que esses homens também são filhos de Deus, chamados à salvação”, contou.

O sacerdote narra então que estes homens “ainda viviam com alguma consciência da presença de Deus. Em uma ocasião, quando perguntei se poderia falar com meu negociador, um deles me disse para esperar ele terminar de rezar”.

Esse e outros gestos fizeram com que ele decidisse rezar pela conversão dos seus sequestradores.

O padre Amadasu também disse que duas citações bíblicas o acompanharam: 1 João 4, 4 “Aquele que está em mim é maior do que aquele que está no mundo”; e as palavras de Cristo durante Sua Paixão em João 19,11: “Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fosse dado”.

Depois de dizer que “Deus sabe como tirar o melhor até das piores situações”, o padre nigeriano conclui dizendo que “confiamos em Sua proteção constante para nos guiar, até chegarmos ao nosso destino final, onde o mal não pode mais perturbar nossa paz interior”.

Padres sequestrados na Nigéria

Em novembro de 2023, a ACN publicou um relatório no qual revela que o sequestro de padres e religiosos avançou a um ritmo alarmante nesse ano, lamentando que se tenha tornado um negócio lucrativo para os criminosos.

O relatório diz que embora a maioria dos afetados tenha sido libertada, alguns foram mortos, “deixando os católicos em constante medo”.

Até 13 de novembro de 2023, a ACN contabilizou 23 sequestros de padres, religiosos e seminaristas, um número ligeiramente inferior ao apresentado no relatório de dezembro de 2022, que informava sobre 28 sequestros de agentes pastorais ao longo daquele ano.