A Igreja Ortodoxa Copta disse que a decisão de suspender o diálogo com a Igreja Católica se deve à “mudança de posição” de Roma sobre a homossexualidade.

Em vídeo divulgado na última sexta-feira (8), o porta-voz da Igreja Ortodoxa Copta, padre Moussa Ibrahim, disse que “o mais notável” dos nove decretos publicados no Santo Sínodo anual da Igreja, feito na semana passada em Wadi El-Natrun, no Egito, foi “suspender o diálogo teológico com a Igreja Católica depois de sua mudança de posição sobre a questão da homossexualidade”.

A mensagem de vídeo foi publicada depois da conclusão da assembleia do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Copta no dia anterior e a uma declaração anexa na qual os líderes ortodoxos coptas anunciaram a suspensão do diálogo com Roma.

“Depois de consultar as igrejas irmãs da família Ortodoxa Oriental, foi decidido suspender o diálogo teológico com a Igreja Católica, reavaliar os resultados alcançados pelo diálogo desde o seu início há 20 anos, e estabelecer novos padrões e mecanismos para que o diálogo prossiga no futuro”, escreveram os líderes coptas.

Os líderes também reafirmaram a sua rejeição aos atos homossexuais, afirmando a sua “firme posição de rejeição de todas as formas de relações homossexuais, pois violam a Bíblia Sagrada e a lei pela qual Deus criou o ser humano como homem e mulher, e a Igreja considera qualquer bênção de tais relações, seja qual for o seu tipo, como uma bênção ao pecado, e isso é inaceitável”.

A Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, chefiada pelo papa Tawadros II, cuja fundação remonta a são Marcos Apóstolo, é uma das denominações cristãs mais antigas do mundo. Principal igreja cristã no Egito (a palavra “copta” é derivada da palavra grega “Aigyptos”, que significa Egito), o número exato de seus membros é desconhecido, mas estima-se que seja entre 10 milhões e 20 milhões de pessoas de uma população ortodoxa total de 260 milhões .

Embora se descreva como Ortodoxa, a Igreja não está em plena comunhão com o patriarca ecumênico ortodoxo Bartolomeu e com a Ortodoxia Oriental, mas permanece unida às igrejas ortodoxas Etíope, Armênia, Eritreia, Siro-Malancar e Siríaca, conhecidas coletivamente como Igrejas Ortodoxas Orientais. Nenhuma destas igrejas aceita o concílio de Calcedônia de 451 d.C. e a sua definição das “duas naturezas” de Cristo. Desde o final do século XX, as igrejas Ortodoxas Orientais têm buscado dialogar com Roma e a Ortodoxia Oriental, que por séculos as consideraram heréticas.

Em abril do ano passado, o diálogo parecia ter progredido a tal ponto que a Santa Sé permitiu que ortodoxos coptas celebrassem a sua própria Divina Liturgia na arquibasílica de São João de Latrão, em Roma. No mês seguinte, num movimento incomum, o papa Francisco incluiu 21 fiéis coptas ortodoxos martirizados pelo Estado Islâmico na Líbia em 2015 no Martirológio Romano.

A declaração em vídeo de Ibrahim ocorreu depois de alguns observadores terem dito nas redes sociais que a declaração não fazia nenhuma referência específica à declaração Fiducia supplicans, publicada pela Santa Sé em 18 de dezembro de 2023, que permite uma bênção “não litúrgica” e “espontânea” de uniões homossexuais. Também não afirmaram que a decisão de suspender o diálogo estava relacionada com o documento.

A declaração dos líderes ortodoxos coptas não fez qualquer referência explícita à Fiducia supplicans, mas a sua reafirmação no texto da doutrina da sua igreja sobre a homossexualidade, firmemente baseada nas Sagradas Escrituras, junto com a mensagem de vídeo de Ibrahim, tornou incontestável a causa da suspensão do diálogo.

Eles observaram na sua declaração que Deus criou o ser humano como homem e mulher, que todas as pessoas são chamadas à santidade e que todos devem viver segundo a vontade de Deus e o “desígnio divino para o casamento entre um homem e uma mulher”.

Eles enfatizaram que qualquer pessoa que luta contra a atração pelo mesmo sexo, mas “controla esse desejo, faz esforços louváveis e fica sujeita às mesmas tentações que os indivíduos heterossexuais”. Da mesma forma, eles disseram que é “essencial” que “busquem o verdadeiro arrependimento”, como faria uma pessoa heterossexual adúltera.

“Se alguém escolhe abraçar a sua tendência homossexual, no entanto, e se recusa a buscar ajuda espiritual e emocional, mas continua a quebrar os mandamentos de Deus, nesse caso, a sua situação torna-se a mesma de alguém que vive em adultério”, continua a declaração. “Nesses casos, devem ser avisados ​​e aconselhados a abster-se da comunhão, buscando o arrependimento”.

Uma das principais críticas ao documento é que ele não faz menção ao arrependimento ou promessa de emenda antes de receber a bênção.

Ao citar as palavras de são Paulo na sua epístola aos Romanos, com mais referências à primeira carta aos Coríntios e passagens do Levítico, a declaração também sublinhou a condenação da Igreja Ortodoxa Copta aos atos homossexuais. “Consequentemente”, acrescentaram, opõem-se “fortemente” a “todas as formas de atividade sexual fora dos limites do casamento”, acrescentando que veem isso como “distorção sexual”. Também rejeitaram “firmemente” que os contextos culturais pudessem ser usados ​​para “justificar atos homossexuais”, pois os coptas acreditam que isso é “prejudicial para a humanidade” como um todo.

Eles disseram que a sua igreja acredita nos direitos humanos e nas liberdades, mas que essas liberdades “não são absolutas” e não devem ser usadas para “violar as leis do Criador”.

“A Igreja afirma o seu compromisso de cumprir o seu papel pastoral na ajuda a indivíduos com tendências homossexuais”, concluíram. “Também enfatiza que não os rejeita, mas, em vez disso, fornece apoio e assistência para ajudá-los a alcançar uma solução emocional e espiritual.”

“A igreja deposita a sua confiança em nosso Senhor Jesus Cristo, que é capaz de fazer muito mais abundantemente além de tudo o que pedimos ou pensamos”, disseram.