O papa Francisco celebrou o ato penitencial que deu início à iniciativa 24 Horas para o Senhor, celebrada todos os anos em dioceses de todo o mundo na véspera do quarto domingo da Quaresma. Francisco destacou que o perdão de Deus, que se materializa no sacramento da confissão, "não é uma prática de devoção, mas o fundamento da existência cristã".

Em sua homilia, o papa recuperou o vigor e o estilo que não havia conseguido desenvolver nos últimos dias devido ao seu estado de saúde, que o impediu de fazer vários discursos e catequeses durante as audiências.

Ele improvisou várias vezes e interagiu com os presentes na paróquia São Pio V, em Roma, onde, depois da liturgia da Palavra e de sua homilia, atendeu a confissão de alguns penitentes.

 

Papa Francisco atende confissão de um penitente em uma paróquia de Roma. Daniel Ibánez (ACI Prensa)
Papa Francisco atende confissão de um penitente em uma paróquia de Roma. Daniel Ibánez (ACI Prensa)

Antes de celebrar o ato penitencial, o papa pôde saudar muitos fiéis que se aglomeravam nas portas da igreja e que tentavam apertar a sua mão e receber sua bênção, o que aconteceu especialmente com as crianças.

Uma vez iniciado o ato penitencial e depois das leituras, Francisco proferiu uma homilia sobre a confissão, que ele definiu como "o sacramento da cura e da alegria". Além disso, não deixou de enfatizar que Deus sempre perdoa e convidou repetidamente as pessoas a repetir a invocação "Jesus, se queres, podes me purificar".

Com base em um trecho da Carta de São Paulo aos Romanos, na qual o apóstolo dos gentios diz que "podemos caminhar em uma vida nova", o papa Francisco explicou que isso é possível graças ao batismo, e que é um caminho no qual, às vezes, “perdemos de vista a vida santa que corre dentro de nós" por meio do Espírito Santo.

Isso acontece porque vivemos "imersos em um ritmo repetitivo, envolvidos em mil coisas" que nos fazem esquecer "que já há uma vida nova que corre dentro de nós e que, como brasas sob as cinzas, está esperando para queimar e iluminar tudo".

Essa cinza "esconde a beleza da visão de nossa alma", disse o papa, e, como resultado, "Deus aparece como um amo" em vez de um Pai, "os outros, em vez de serem irmãos, filhos do mesmo Pai, aparecem para nós como obstáculos e adversários" e "não vemos claramente nem mesmo dentro de nós mesmos: sentimos uma força imparável para fazer o mal que gostaríamos de evitar".

O papa Francisco também destacou que "precisamos de um novo sinal, uma mudança de ritmo, uma direção que nos ajude a reencontrar o caminho do Batismo, renovar nossa beleza original, sob as cinzas, renovar o sentido de seguir em frente".

Esse caminho de volta, destacou, é o perdão de Deus: "Coloquem isso em sua mente e em seu coração: Deus são se cansa nunca de perdoar", disse, antes de convidar os presentes a repetir duas vezes, e acrescentou: "Qual é o problema? É que somos nós que nos cansamos de pedir perdão”.

No entanto, o perdão de Deus, disse o papa, "nos limpa por dentro, devolvendo-nos à condição de renascimento batismal: faz com que as águas frescas da graça fluam novamente no coração, ressequido pela tristeza e empoeirado pelos pecados; remove as cinzas das brasas da alma, limpa as manchas interiores que nos impedem de confiar em Deus, abraçar nossos irmãos e irmãs, amar a nós mesmos".

Essa purificação do coração precisa de compromisso, disse o papa, mas não é suficiente. Por isso, acrescentou, "só Deus é capaz de conhecer e curar o coração. Só Ele pode libertá-lo do mal. Para isso, devemos levar a Ele nosso coração aberto e contrito; imitar o leproso do Evangelho, que reza a Ele assim: 'Se queres, podes me purificar!'".

O papa Francisco interagiu novamente com os presentes para repetir as palavras do leproso duas vezes em voz alta e mais uma vez em silêncio. E então, seguindo um de seus momentos de improviso, ele também chamou a reiterar que "o Senhor nunca se cansa de perdoar".

"Deus se dá a conhecer perdoando"

No decorrer de sua homilia, o papa pediu que não adiar o momento da confissão: "Não adiemos o encontro com o Seu perdão, porque só se Ele nos colocar de pé é que poderemos voltar ao caminho e ver a derrota do nosso pecado, apagado para sempre".

É no pecado que "Deus entra em contato com o homem. Assim, Deus se dá a conhecer perdoando", disse Francisco e insistiu: "só quando seu coração está arrependido e vai até Ele mostrando seu coração sujo. Lá você conhecerá Deus que perdoa e irá em paz porque seus pecados serão perdoados".

O que é o sacramento da Reconciliação?

O papa Francisco pediu para que não se renuncie ao sacramento da reconciliação, destacando que "não é uma prática de devoção, mas o fundamento da existência cristã; não se trata de saber dizer bem os pecados, mas de nos reconhecermos pecadores e de nos lançarmos nos braços do amor de Jesus crucificado para sermos libertados; e isso não é um gesto moralista, não, mas a ressurreição do coração".

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Dirigindo-se aos padres, o papa recomendou: "Sintamo-nos dispensadores da alegria do Pai que encontra o filho perdido; sintamos que as nossas mãos, colocadas sobre as cabeças dos fiéis, são mãos transpassadas pela misericórdia de Deus, que transforma as feridas do pecado em canais de misericórdia".

O papa Francisco também aproveitou a oportunidade para insistir em “colocar o perdão de Deus de volta no centro da Igreja". Em particular, disse aos padres para perdoar "sempre como Deus, que não se cansa de perdoar", para ajudem "aqueles que têm medo de se aproximar do sacramento da cura e da alegria com confiança" e, durante a confissão, "não façam muitas perguntas", mas deixem que os penitentes se expressem: "Deixe-os falar e [você] perdoa tudo".

A homilia foi concluída com um convite para repetir a jaculatória do leproso: "Jesus, se queres, podes me purificar", e concluiu: "Sim, Jesus, creio que podes me purificar, creio que preciso do teu perdão. Jesus, me renove e eu voltarei a andar em uma vida nova".