A economia, as relações internacionais e outras ciências sociais podem não ter existido em sua forma contemporânea quando são Tomás de Aquino morreu, há 750 anos. Mas, segundo o papa Francisco, os especialistas nestas áreas deveriam recorrer ao teólogo do século XIII em busca de ajuda para responder a alguns dos desafios sociais mais terríveis da atualidade.

Em carta dirigida ontem (7) a uma reunião de cientistas sociais no Vaticano no aniversário da morte de são Tomás de Aquino, o papa disse que o “estudo rigoroso” do “doutor angélico” sobre as implicações filosóficas e teológicas do fato de que o homem foi feito “à imagem de Deus ”não foi apenas um precursor do desenvolvimento das ciências sociais, mas também pode ser uma ajuda inestimável para elas hoje.

“Embora a sua influência na formação do pensamento moral e jurídico da modernidade seja indiscutível, uma recuperação da perspectiva filosófica e teológica que informou o seu trabalho poderia revelar-se bastante promissora para a nossa reflexão disciplinada sobre as questões sociais prementes do nosso tempo”, disse o papa Francisco, acrescentando que as ciências sociais “devem basear-se na realidade irredutível e na dignidade da pessoa humana.

As observações do papa foram enviadas aos participantes de um workshop de dois dias sobre “A ontologia social e o direito natural de Tomás de Aquino em perspectiva: percepções para e a partir das ciências sociais”.

O evento patrocinado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais é um dos muitos realizados em Roma e em outros lugares este ano para celebrar o legado de são Tomás de Aquino, frade dominicano italiano e doutor da Igreja que morreu em 1274.

Em particular, o papa Francisco destacou a importância da articulação de Tomás de Aquino do caráter social do homem e da capacidade de discernir a lei natural através do uso da razão como especialmente relevante para enfrentar os desafios sociais contemporâneos.

“Hoje é essencial recuperar a apreciação desta 'inclinação natural para buscar a verdade sobre Deus e viver em sociedade' para moldar o pensamento e as políticas sociais de uma forma que promova, em vez de impedir, o autêntico florescimento humano dos indivíduos e dos povos”, disse o papa Francisco ao citar a “Suma Teológica” de Tomás de Aquino.

O conceito de lei natural tem sido criticado por alguns no Ocidente como sendo efetivamente uma estrutura religiosa usada para influenciar a sociedade. Um relatório recente publicado no jornal digital americano Politico, por exemplo, descreveu-o como “um pilar central do catolicismo” que está sendo usado para promover causas “nacionalistas cristãs”, tais como a proteção da santidade da vida ou a promoção de uma ética sexual consistente com a natureza humana.

Mas o papa Francisco ofereceu uma perspectiva muito diferente, enfatizando que a lei natural é para todos. Na verdade, o papa disse que a articulação da lei natural do “doutor angélico” é acessível a todos - independentemente de serem católicos ou não - e talvez seja ainda mais importante agora, precisamente porque o mundo está cada vez mais interligado e a sociedade ocidental é marcada pela diversidade cultural e pelo pluralismo religioso.

“A confiança de Tomás numa lei natural escrita no coração humano pode, portanto, oferecer perspectivas novas e válidas ao nosso mundo globalizado, dominado pelo positivismo jurídico e pela casuística, ao mesmo tempo que continua a procurar bases sólidas para uma ordem social justa e humana”, afirmou o papa Francisco.

Com a sua “notável abertura a todas as verdades acessíveis à razão humana”, São Tomás de Aquino mostrou que não pode haver “nenhuma contradição última” entre fé e razão, enfatizou o papa.

Ele acrescentou que o teólogo dominicano também demonstrou como a graça eleva a natureza humana ferida, com “ricas implicações para a compreensão da dinâmica de uma ordem social sólida baseada na reconciliação, solidariedade, justiça e preocupação mútua”.

O papa terminou a sua carta encorajando os cientistas sociais participantes a aprofundarem-se “no rico patrimônio de pensamento religioso, ético e social que nos foi legado por são Tomás de Aquino”.

“Estou confiante de que vão encontrar inspiração e esclarecimento para as suas próprias contribuições para as diversas ciências sociais, no pleno respeito pelos seus métodos e objetivos próprios”, observou.