Vários padres manifestaram o seu repúdio à decisão da França de incluir o aborto na Constituição do país como um direito.

Na segunda-feira (4), o congresso francês aprovou esta medida por 780 votos a favor e 72 contra, tornando a França o único país do mundo a considerar o aborto um direito constitucional.

O padre Francisco Javier “Patxi” Bronchalo, da diocese espanhola de Getafe, disse em sua conta na rede social X que “o aborto é o maior ataque do mal dos nossos dias. A fé é a defesa”.

O que aconteceu, disse ele, é o resultado das “revoluções sem Deus, um rastro contínuo de sangue, primeiro para chegar ao poder, depois para mantê-lo”, continuou o padre.

“Quão diferente é a revolução de Cristo, deixando-se matar para dar vida. Se não entendemos que este é o caminho, ainda não entendemos do que se trata o cristianismo”, disse ele.

O padre espanhol também comentou que na Europa “não se vê a miséria material que existe em outras partes do mundo, mas há misérias piores que acabam destruindo os povos: as morais e as espirituais”.

“No momento em que a porta para o aborto é aberta, começa uma ladeira cada vez mais permissiva. Chamar o aborto de direito é apenas mais um passo, não será o último. Ao longo deste caminho chegará o dia em que uma mulher será forçada a fazer um aborto se o Estado assim o disser”, alertou.

Frei Nelson: A decisão sobre o aborto na França tem “o aroma do Senhor das trevas”

O frei Nelson Medina, dominicano colombiano conhecido por seu apostolado nas redes sociais, descreveu a decisão do congresso francês como “a péssima notícia do dia”.

Ele também criticou o uso da linguagem de alguns meios de comunicação, que abordam o tema de forma positiva, como quando utilizam a palavra consagrar em suas manchetes.

“É assim que o mundo está: consagrando a morte, o assassinato de inocentes, como um direito universal com caráter de dever de prestação vinculante do Estado, acima do direito daqueles que detestamos tal crime”, disse o frei Nelson.

“E se esta última frase tem aroma de oferenda ao Senhor das Trevas, não é por coincidência”, disse.

O que aconteceu com o aborto na França “é simplesmente demoníaco”

O padre Eduardo Hayen Cuarón, da diocese Mexicana de Ciudad Juárez, disse que o ocorrido é “um acontecimento muito grave” e com isso “a França se torna o primeiro país democrático a consolidar o inexistente direito ao aborto em sua Carta Magna”.

“Existiam leis sobre o aborto – como existem em muitos países – mas colocá-las na Constituição consolida esta prática criminosa como um valor fundamental da nação”, disse.

Desta forma, continuou, “o aborto passa a fazer parte da alma nacional, por isso dificilmente os médicos poderão objetar em sua consciência para não o praticar. “É simplesmente demoníaco”.

“Os ideais da Revolução Francesa – liberdade, igualdade, fraternidade – foram pervertidos. A liberdade nunca será possível quando o mal estiver consolidado nos usos, costumes e leis de um povo. Uma nação é livre quando o bem é protegido e promovido. Matar uma pessoa inocente nunca será um ato livre, mas sim imensamente egoísta, um ato próprio dos escravos do mal”, disse o padre Hayen.

O padre mexicano recordou que “houve dois minutos de aplausos da classe política que aprovou a decisão; as feministas saíram para celebrar efusivamente nas ruas e até a Torre Eiffel foi iluminada de forma especial para glorificar o pecado, em reconhecimento às mulheres. Enquanto a festa do aborto se espalha por todo o lado, a cólera de Deus aumenta contra o povo francês”.

Uma sociedade “profundamente decadente”

Para o padre francês Matthieu Raffray, professor de teologia e filosofia, "uma sociedade onde as crianças são mortas antes do nascimento é uma sociedade profundamente decadente".

Mais em

"Todos devem saber que, hoje, na França, uma criança suspeita de ter uma deficiência pode ser morta no útero até um dia antes do nascimento", advertiu o padre.

"Fazer isso alguns dias antes de nascer é uma barbaridade" e "é uma realidade, não são os fantasmas dos padres", continuou.

O padre perguntou se uma sociedade assim pode falar de progresso. Para ele, o aborto nunca "resolve o sofrimento individual" de uma mulher.