O aborto “continua sendo uma afronta à vida nos seus primórdios” e “não pode ser visto apenas a partir da perspectiva dos direitos das mulheres”, disse a Conferência dos Bispos da França depois que o Senado do país aprovou na quarta-feira (28), com 267 votos a favor e 50 contra, a inclusão do aborto como “liberdade garantida” na constituição. Com essa aprovação a França se torna o primeiro país do mundo a adotar esta medida contra a vida do nascituro.

Esta reforma constitucional, também aprovada pela Assembleia Nacional (deputados) há quase um mês, deve receber votação final na segunda-feira (4), no Palácio do Congresso de Versalhes, no sul de Paris. Segundo a agência France24, seria uma votação “simbólica”, porque o texto já passou pelo filtro das duas câmaras.

“Comprometi-me a tornar irreversível a liberdade das mulheres de abortar, consagrando-a na Constituição. Depois da Assembleia Nacional, o Senado deu um passo decisivo, que celebro. Para a votação final, convocarei o Parlamento no Congresso em 4 de março”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na sua conta X (antigo Twitter).

Em março de 2023, Macron se comprometeu a incluir o aborto na Constituição, em resposta às preocupações levantadas pela revogação do caso Roe x Wade nos EUA em junho de 2022, que permitia o aborto em todo o país desde 1973.

Ontem (29), a Conferência dos Bispos da França emitiu um comunicado, no qual diz ter recebido “com tristeza” o voto dos senadores sobre o texto de revisão constitucional.

A conferência lamenta que o debate parlamentar “não tenha mencionado os dispositivos de ajuda para quem deseja apoiar o seu filho”.

"Enquanto os muitos atos de violência cometidos contra mulheres e crianças estão se tornando cada vez mais evidentes, a Constituição de nosso país teria sido honrada em inscrever em seu coração a proteção de mulheres e crianças. A Conferência dos Bispos estará atenta ao respeito pela liberdade de escolha dos pais que decidam, mesmo em situações difíceis, manter seus filhos, e à liberdade de consciência dos médicos e de todos os profissionais de saúde, cuja coragem e compromisso são reconhecidos", conclui o comunicado dos bispos franceses.