“Eu preciso voltar para o meu primeiro amor”, disse o vereador Júnior Corrêa, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), ao explicar que não vai disputar a eleição de prefeito e vai deixar a política para ser padre.

“Eu tomei essa decisão tem um tempo”, disse o vereador do PL em pronunciamento na quarta-feira de cinzas.  “Se existir um culpado, esse culpado é o próprio Jesus, que me chamou há uns dez anos, e eu só respondi atrasado dez anos, o sim a Ele”.

José Carlos Corrêa Cardoso Júnior tem 27 anos e serve na igreja como cerimoniário e catequista. Aos 24 anos, candidatou-se pela primeira vez a um cargo público, em 2021. Foi eleito vereador de Cachoeiro de Itapemirim com 2.519 votos, o mais votado naquela eleição, segundo ele.

Em 2022, se candidatou a deputado federal, mas não foi eleito, ficando como primeiro suplente do deputado federal Gilvan da Federal (PL-ES). O plano político de Júnior Corrêa era disputar a prefeitura de Cachoeiro do Itapemirim.

O vereador disse à ACI Digital que, antes do seu pronunciamento já pensava em deixar a vida pública. No ano passado Júnior fez um retiro de 15 dias no mosteiro Trapista (Monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância), em Campo do Tenente (PR), no período do Natal. Segundo Côrrea, em janeiro ele percebeu que sua vontade primordial não era mais a política e começou a pensar em “não seguir na vida pública”.

“Então eu decidi não ser mais político”, disse o vereador. “Só que eu ainda não tinha decidido pela minha vocação. O discernimento da minha vocação mesmo e o meu sim, foi após o retiro de carnaval na Comunidade Encontro”.

O chamado ao sacerdócio de Júnior Corrêa vem desde a infância. Ele foi aconselhado por seu padrinho, que é padre, a fazer um outro curso superior. Segundo o padre, isso o ajudaria até mesmo no discernimento.

Corrêa cursou economia em Goiânia. Em Taubaté (SP) e São José dos Campos (SP), o futuro político fez o acompanhamento vocacional com a Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. Antes da última etapa para ser aceito, Corrêa disse ao padre formador que havia “uma dualidade” em seu coração entre o desejo de ser padre e o de ser político

“Se você continuar e for ordenado padre, não vai poder ser político”, disse o padre. “Já que você está nessa dúvida, tente a carreira pública. Se for para você ser padre você vai voltar e a gente está aqui de braços abertos”, contou o vereador de Cachoeiro de Itapemirim.

Depois de discernir que o sacerdócio é sua vocação, Júnior Côrrea pretende pedir ingresso nos dehonianos, “talvez no ano que vem ou daqui a dois anos”.

Padres podem se candidatar a cargo público?

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cinco padres se candidataram nas eleições de 2022. Um deles, padre Pedro Baldissera (PT-SC), foi eleito deputado estadual de Santa Catarina.

O Código de Direito Canônico, no cânon 285 -§ 3, diz: “os clérigos estão proibidos de assumir cargos públicos que importem a participação no exercício do poder civil” e no Cân. 287- § 2 “não tomem parte ativa em partidos políticos ou na direção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da autoridade eclesiástica competente, o exija a defesa dos direitos da Igreja ou a promoção do bem comum”.

O chanceler da arquidiocese de Maceió, cônego Valmir Galdino, disse à ACI Digital que, caso o padre decida ser candidato, deve se afastar do ministério pedindo uma licença.

“Ele não pode exercer o ministério, não pode celebrar a santa missa, não pode atender confissões, não pode dar unção dos enfermos”, disse o cônego. “O padre deve viver para as coisas de Deus” e “disputar cargos públicos, participar da política partidária não faz parte da vida do padre”, pois “o padre é aquele que ouve o chamado, discerniu, deixou tudo e seguiu a Jesus”.

O cônego Valmir ainda pontuou que “o padre deve orientar os seus leigos para que participem da política partidária, para que se candidatem, concorram a cargos públicos. O padre deve formar os seus leigos para que estejam envolvidos nas questões da política partidária, nas decisões do país. Então, essa é a missão do padre: formar, orientar o seu povo para as questões, as demandas do país”. E frisou: “A igreja não tem candidatos nem indica candidatos, por causa da fragilidade humana. A igreja não pode se responsabilizar por um candidato, por isso, não indica, mas forma, os leigos para que disputem os cargos majoritários, os cargos legislativos, a igreja orienta, e orienta bem”.