Na quinta-feira (8), dia em que a Igreja celebra a festa de santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa que sofreu o drama da escravidão, será celebrado o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, instituído pelo papa Francisco em 2015.

“É um dia de reflexão, oração, uma manifestação pública de nossa indignação diante dessa violência, dessa crueldade que está acontecendo como os seres humanos, de serem tratados como mercadoria”, disse à ACI Digital a irmã Rosa Elena Ciprės Diaz, da congregação das Escravas da Imaculada Menina (EIM). Ela é assessora da Conferencia dos Religiosos do Brasil (CRB) do setor missão e referência da Rede um Grito pela Vida, uma rede formada por religiosos de diferentes congregações e por leigos, “em sua maioria mulheres”, que atua no enfrentamento ao tráfico de pessoas.

A Rede um Grito pela Vida integra a rede internacional Talitha Kum, ligada à União Internacional de Superioras Gerais (UISG) e União de Superiores Gerais (USG). Eles promovem o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, com apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da santa Sé, do Dicastério para a Comunicação, da Rede Mundial de Oração do Papa, da Caritas Internationalis, entre outros.

Santa Josefina Bakhita

“É um dia importante porque se faz memória litúrgica de santa Bakhita, uma pessoa que foi desde menina vítima do tráfico humano”, disse a irmã Rosa Elena sobre o Dia de Oração contra o Tráfico de Pessoas.

Santa Josefina Bakhita nasceu em 1869, no Sudão. Foi vendida e comprada várias vezes. Até que foi comprada por um cônsul italiano, que a levou para a Itália e a entregou a uma família amiga de Veneza. Ela se tornou babá da filha do casal.

Por conta de negócios, o casal teve que ir para a África, mas deixou a filha e Bakhita aos cuidados das religiosas de santa Madalena de Canossa. Quando eles retornaram para buscá-las, Bakhita disse que queria ficar com as Irmãs Canossianas para servir a Deus. Em 1896, atendendo ao chamado para a vida religiosa, Josefina Bakhita se consagrou para sempre a Deus.

São João Paulo II a beatificou em 1992 e a canonizou durante o Jubileu do ano 2000. Bento XVI, ao publicar sua encíclica Spe Salvi em 2007, a propôs como exemplo de vida para falar de esperança.

“A oração ajuda a manter viva a esperança”

Neste ano, o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas tem como tema “Caminhando pela dignidade: Escutar, Sonhar, Agir”. Segundo a irmã Rosa Elena, “é uma indicação para que caminhemos juntos pela dignidade humana”. “O principal objetivo deste dia é criar uma maior consciência de que existe o tráfico de pessoas e refletir sobre essa situação de violência e injustiça que afeta a vida de tantos seres humanos, porque acaba com a vida tanto da pessoa que é traficada como de sua família e da sociedade”, disse a religiosa. Para ela, trata-se também “de uma oportunidade de tentar encontrar soluções para combater esse mal com ações concretas”.

Entretanto, ressaltou, “a oração é que de grande importância neste dia”, porque, “nos unimos em uma grande comunhão, em súplica ao Pai, nosso criador”. Além disso, “fazemos uma intervenção social, uma conscientização e uma prevenção, porque quem nunca escutou escuta”.

“É uma oração que nos ajuda a estar em união e a manter viva a esperança de que é possível superar isso. Mas, precisamos trabalhar juntos”, acrescentou.

A irmã Rosa Elena disse que o tráfico de pessoas é uma realidade internacional, “mas muito presente no Brasil”. Segundo ela, um dos principais fins do tráfico de pessoas no país é “para a exploração sexual”. Mas, disse que nos últimos anos se tem observado também o crescimento do “trabalho escravo”.

“Aqui no Brasil, temos rotas de tráfico nas cinco regiões e o Norte está em primeiro lugar, pelas fronteiras”, disse, acrescentando que em seguida aparecem as regiões Nordeste, Sudeste, Centro Oeste e Sul.

A religiosa chamou atenção para o fato de a juventude ser um dos alvos do tráfico de pessoas. “Tem por exemplo a grande facilidade das mídias sociais, que atingem principalmente os jovens e as pessoas vulneráveis. Muitas vezes, os sonhos, o desejo de se superar da juventude, faz com que caiam em promessas que não são reais. Os traficantes utilizam isso para enganar”, disse.

Segundo a irmã Rosa Elena, frente a esta realidade, a Rede um Grito pela Vida tem como “principal objetivo estar a favor da vida”. “O que fazemos é enfrentar esse crime do tráfico com ações de sensibilização, prevenção, informação, capacitação de pessoas, tudo contra o tráfico de pessoas”, disse.

Celebração do Dia Internacional de Oração

Para celebrar o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, teve início na sexta-feira (2) e segue até quinta-feira (8), em Roma, uma semana de atividades, da qual participam 50 jovens de diferentes países. Entre eles está a brasileira irmã Michele Silva, ICM, referencial da Região Amazônia na Rede um Grito pela Vida.

Ontem (3), estes jovens participaram da oração do Ângelus na Praça de São Pedro, no Vaticano. Ao final da oração, o papa Francisco os saudou e fez um convite a todos para se unirem ao dia de oração. “Ainda hoje, muitos irmãos e irmãs são enganados com falsas promessas e depois sujeitos a exploração e abuso. Juntemo-nos todos para combater o dramático fenómeno global do tráfico de seres humanos”, disse o papa.

Amanhã (6), a programação conta com um flashmob contra o tráfico de pessoas, às 16h15 (hora local) na Piazza Santa Maria in Trastevere, em Roma. Às 17h30, haverá uma vigília ecumênica na basílica de Santa Maria in Trastecere, em cinco idiomas: italiano, inglês, francês, espanhol e português.

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Na quarta-feira (7), os jovens participarão da Audiência Geral com o papa Francisco, na Sala Paulo VI.

Na quinta-feira, quando é celebrado o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, haverá uma romaria on-line das 9h30 às 16h30 (hora de Roma), transmitida em cinco idiomas. Os horários serão divididos por regiões, começando por Oceania, Ásia, Oriente Médio, África, Europa, América Latina e América do Norte. O horário da América Latina, que inclui o Brasil, será das 14h10 às 15h20 (horário de Roma). A irmã Rosa Elena contou que para este momento foi preparado um vídeo sobre a atuação da rede no Brasil.

A religiosa disse também que, no Brasil, esta data será marcada por vários grupos em todo o país, com “reuniões, intervenções sociais nas igrejas, santuários, mobilizações em paróquias, cidades, vigílias, celebrações eucarísticas, cards de divulgação”.

As informações sobre o Dia Internacional de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas podem ser acessadas no site da Rede um Grito pela Vida.