À luz de um estudo sobre abusos sexuais entre protestantes divulgado na Alemanha, um grupo de leigos católicos colocou em dúvida a “narrativa persistente do Caminho Sinodal que atribui causas sistêmicas de abusos a fatores especificamente católicos”.

Publicado em 25 de janeiro, o estudo da rede de pesquisa Forum identificou 1.259 indivíduos acusados ​​e 2.174 vítimas de abusos desde 1946 dentro da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD, na sigla em alemão), segundo relatório da CNA Deutsch, agência alemão do Grupo ACI. As conclusões do estudo contradizem as alegações de uma “suposta dimensão católica específica de abusos sexuais”, disse Neuer Anfang, um grupo de leigos crítico do Caminho Sinodal Alemão.

O Caminho Sinodal Alemão, processo de debates entre bispos alemães e um sindicato de funcionários leigos da Igreja na Alemanha, alega ter começado para resolver questões reveladas por uma investigação sobre o abuso sexual clerical na Igreja Católica na Alemanha, o Estudo MHG. O Caminho Sinodal Alemão discute a forma de exercício do poder na Igreja, o papel da mulher, o celibato sacerdotal e a moral sexual católica. Já foram aprovadas moções a favor da ordenação de mulheres, do fim do celibato, e da moral sexual, especialmente para aceitar os atos homossexuais.

Neuer Anfang diz que “os críticos têm desafiado consistentemente a validade científica de tal conexão” entre essas características da Igreja Católica e o abuso.

“Sem conexão monocausal”

Depois da publicação do estudo protestante na semana passada, o padre especialista em abusos, Hans Zollner, disse à agência católica de notícias alemã Katholische Nachrichten-Agentur (KNA, na sigla em alemão): “Não existe uma ligação monocausal entre certas estruturas da igreja e o abuso, é muito mais complexo”.

Zollner fez parte da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores até 2023. O especialista em abuso disse à CNA Deutsch que “certamente não era errado pensar sobre o que facilitou o abuso sexual na Igreja Católica, sobre o que dificultou o esclarecimento e sobre formas de mudar isso". No entanto, “é uma visão muito restrita pensar que padres casados ​​ou mais mulheres na liderança da Igreja, por si só, evitariam abusos”, advertiu.

O Neuer Anfang enfatizou a presença de causas sistêmicas de abuso sexual que transcendem as fronteiras denominacionais, tais como desequilíbrios de poder, padrões de papéis pouco claros e o potencial de manipulação em relações assimétricas.

“Estes fatores estruturais, que conduzem ao abuso, não são exclusivos da Igreja Católica ou de qualquer denominação. São interinstitucionais e prevalecem onde quer que crianças e jovens estejam envolvidos – em igrejas de todas as denominações, bem como em ambientes desportivos e educacionais”.

Democracia e Sinodalidade

Mais em

Os bispos alemães vão debater o Caminho Sinodal na sua próxima assembleia plenária em Augsburg, de 19 a 22 de fevereiro de 2024. Espera-se que esta reunião seja um momento crítico, pois os bispos vão debater uma comissão com o objetivo de introduzir um Conselho Sinodal permanente para supervisionar a Igreja na Alemanha.

Antes da reunião, o bispo de Limburg, dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã, escreveu que a Igreja deve “buscar formatos de reunião e procedimentos de participação adequados” que “permitam que o maior número possível de pessoas se envolvam seriamente nas consultas e decisões”.

A democracia moderna, com seu reconhecimento da dignidade humana e da separação de poderes, do Estado de bem-estar social e do Estado de direito, não deve “dar origem a receios na Igreja”, escreveu Bätzing.