O papa Francisco falou hoje (4) sobre o Caminho Sinodal alemão, pedindo uma maior divulgação e aplicação da sua carta de 2019, na qual manifestou a sua "preocupação" com este processo.

Num encontro com a Associação Alemã de Editores Católicos por ocasião dos 75 anos da sua fundação, o papa pediu que a carta que escreveu ao Povo de Deus em que peregrina na Alemanha em 2019 “seja mais conhecida, meditada e colocada em prática” porque contém dois aspectos que considera “fundamentais não ir pelo caminho errado”.

Assim, referiu-se ao cuidado da dimensão espiritual, entendida como “a adaptação concreta e constante ao Evangelho e não aos modelos do mundo, redescobrindo a conversão pessoal e comunitária através dos sacramentos e da oração, a docilidade ao Espírito Santo e não ao espírito dos tempos”.

A outra chave indicada pelo papa Francisco para que o Caminho Sinodal Alemão não se desvie do seu rumo é a dimensão universal, que contribui para “não conceber a vida de fé como algo relativo somente ao próprio âmbito cultural e nacional”, acrescentou o papa. “A participação no processo sinodal universal é boa a partir deste ponto de vista”.

Ele também disse que “os comunicadores católicos têm um papel a desempenhar nestas situações: ao fornecer informações corretas, podem ajudar a esclarecer mal-entendidos e, sobretudo, evitar que surjam, ajudando à compreensão mútua e não as oposições”.

O Caminho Sinodal Alemão

O chamado Caminho Sinodal Alemão foi promovido pelo arcebispo de Munique e Freising, cardeal Reinhard Marx, desde 2019. Desde então, houve inúmeras ocasiões em que o papa Francisco e organismos vaticanos manifestaram as suas reservas sobre a sua abordagem e desenvolvimento.

A primeira delas foi a carta de junho de 2019 citada pelo papa Francisco hoje (4). Nesse mesmo ano, só três meses depois, a Santa Sé enviou aos bispos alemães outra carta na qual afirmava que os planos para um sínodo vinculante da Igreja na Alemanha “não eram eclesiologicamente válidos”, pois estava configurado mais como um concílio nacional, que não pode ser celebrado sem autorização, do que como uma reflexão sinodal.

Em 2020, o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch, disse numa entrevista que o papa estava preocupado com o rumo do Caminho Sinodal Alemão.

O bispo de Fulda, dom Heinz-Josef Algermissen, falou na mesma linha, revelando que, após uma audiência geral, o papa Francisco manifestou a sua “preocupação dramática” a este respeito.

Em 2022, o papa Francisco disse ao presidente da Conferência Episcopal Alemã, dom Georg Bätzing que a Alemanha já tem "uma Igreja evangélica muito boa". "Nós não precisamos de duas”.

Em julho do mesmo ano, a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou um comunicado dizendo que “o 'Caminho Sinodal' na Alemanha não tem o poder de forçar os bispos e os fiéis a adotar novas formas de governo e novas abordagens da doutrina e da moral”. Disse também que, se estes postulados fossem implementados “representaria uma ferida para a comunhão eclesial e uma ameaça para a unidade da Igreja”.

Ao longo de 2023, também não faltaram pronunciamentos. Em janeiro, o papa Francisco denunciou numa entrevista à agência Associated Press os perigos que representa o Caminho Sinodal Alemão e disse que o Sínodo da Sinodalidade tinha o objetivo de “ajudar este caminho (alemão) mais elitista a “que de alguma maneira não termine mal, mas que também se integre na Igreja”.

Em novembro, o papa enviou uma carta a quatro leigas católicas que abandonaram o processo sinodal alemão, na qual reconheceu que os passos dados pela Igreja na Alemanha “ameaçam” minar a unidade da Igreja Católica.