O Arcebispo de Oviedo, na Espanha, dom Jesús Sanz Montes publicou ontem (15), uma mensagem em seu perfil na rede social X dizendo que a declaração do Dicastério para a Doutrina da Fé (FDD), Fiducia supplicans é "demagogia que distorce a tradição cristã e o Magistério da Igreja".

A declaração Fiducia supplicans, sobre o sentido pastoral das bênçãos, foi publicada pela DDF no dia 18 de dezembro de 2023, com as assinaturas do papa Francisco, do prefeito da DDF, cardeal Victor Emmanuel Fernandez e do secretário da seção doutrinal, dom Armando Matteo. Com o documento, a Santa Sé autoriza bênçãos não-litúrgicas para casais em situação irregular e pares do mesmo sexo.

Ainda na noite de ontem, o bispo definiu o documento publicado em 18 de dezembro como "desnecessário, de intencionalidade confusa, autoconsciente".

Dom Sanz também o qualificou como "uma tentativa tendenciosa de abençoar o que Deus não abençoa, quando nós sempre abençoamos e continuaremos a abençoar as pessoas e não as suas relações".

Esta não é a única ocasião recente em que um bispo espanhol se pronunciou sobre o documento da Santa Sé.

O bispo de Orihuela-Alicante, José Ignacio Munilla, fez menção no domingo (14), às palavras proferidas pelo papa Francisco sobre os sacerdotes de Roma: "abençoamos as pessoas, não o pecado".

No dia 13 de janeiro, durante um encontro com sacerdotes da diocese de Roma, o papa Francisco "respondeu a perguntas sobre a bênção de casais do mesmo sexo, afirmando que ela não muda a doutrina sobre o sacramento do matrimônio entre um homem e uma mulher. Abençoa as pessoas, não o pecado".

Em mensagem publicada em suas redes sociais, dom Munilla disse: "Certamente, esta é a única conclusão possível: a igreja abençoa o pecador, não o pecado. E abençoa-o, chamando-o a conversão. É contrário à tradição da igreja abençoar casais que vivem em situação de pecado".

Neste contexto, exprimiu também a sua opinião sobre a ocasião da publicação da Fiducia supplicans: "Foi exatamente o que o Dicastério para a Doutrina da Fé disse em 2021. É por isso que não se compreende a necessidade de uma declaração posterior".

O bispo reiterou a sua previsão sobre a aplicação "caótica" de Fiducia supplicans: "O triste é que, previsivelmente, a aplicação da Fiducia Supplicans não seguirá esta leitura final do papa Francisco, mas que cada um a aplicará segundo a sua própria sensibilidade ou ideologia, gerando assim uma ferida notável na comunhão da igreja...".

"Rezamos pelo papa e pela unidade da igreja, precisamente quando se aproxima a oitava da unidade dos cristãos", concluiu o bispo de Orihuela-Alicante.

O documento gerou uma onda de reações por parte de numerosos bispos e conferências episcopais, às vezes acolhendo cautelosamente e outras vezes criticando abertamente o texto.

Em resposta a estas manifestações, a DDF emitiu uma nota à imprensa no dia 4 de janeiro, com o objetivo de "ajudar a esclarecer a recepção de Fiducia supplicans". O comunicado defende que a declaração não é "herética" nem "blasfema" e que os bispos não podem proibir as chamadas bênçãos pastorais. Ao mesmo tempo, examina a situação particular de alguns países, especialmente na África, e dá orientações para distinguir as bênçãos litúrgicas das bênçãos pastorais, bem como um exemplo prático destas últimas.

Por fim, a nota convida a desenvolver uma catequese para "libertar-nos do medo de que as nossas bênçãos possam manifestar algo de inapropriado".

No dia 11 de janeiro, o Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (SECAM) publicou um documento proibindo a aplicação de Fiducia Supplicans nas suas dioceses.

No dia 15 de janeiro, durante uma entrevista televisiva, Francisco exortou os críticos da Fiducia Supplicans a apresentarem as suas dúvidas: "Quando não aceitam as decisões é porque não as conhecem. Quando não gostar, vá e fale, coloque suas dúvidas e tenha uma discussão fraterna", disse ele.